Fases impossíveis de ultrapassar

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- Você sabe que isso é loucura, certo?

Suspirei. Essa era a quarta ou a quinta vez que Kim dizia isso, se houver uma sexta, eu juro que jogarei um vaso de plantas em sua cabeça. Sim, com certeza é óbvio que eu sei que é loucura, mas eu não posso voltar atrás – já teria se pudesse, ainda que eu não pudesse dizer a ele.

- Só... fique quieto e continue.

Quando enviei as mensagens, faltavam apenas dois períodos para a aula acabar, ainda assim, eu não tinha tempo a perder, corri até o apartamento e comecei a desmonta-lo. Evitei olhar o celular ao máximo para não perder tempo, mas não consegui desviar das mais de dez mensagens que Kim deixou. A preocupação do garoto era bizarra, exagerada e soava até falsa; suas muitas perguntas sobre como eu estava, onde estava, se precisava de algo, de estava machucada, o que havia acontecido e mais qualquer outra besteira que se possa imaginar já estavam me tirando do sério. Afinal, quem ele pensa que é? Meu namorado? Não é sequer meu amigo.

Não posso dizer que não tentamos no passado, ou melhor, que não éramos. É difícil classificar a relação que Taehyung e eu tivemos, o que importa é que eu confiei nele e lhe dei um pedaço do meu coração, o qual ainda deve estar largado na sarjeta em que Kim o deixou. Agora é tarde para demonstrar que se importa, eu não sou a mesma de antes. Não há nada mais forte que uma mulher destruída que se reconstruiu.

- Aish, por que tem tanta coisa sua aqui?

- Talvez porque eu moro aqui, não? – Seu riso leve preencheu a sala enquanto colocávamos suas coisas dentro das caixas, tudo que o envolvia de alguma forma estava ali, qualquer coisa que fosse estranha à minha personalidade e similar a dele, estava dentro de uma das caixas de papelão. Seus dedos passavam sobre as polaroids com ternura, elas estavam espalhadas pela casa inteira e retratavam absolutamente tudo. Essa, talvez, era a única coisa em Kim que eu me permitia desfrutar no apartamento; mesmo que eu negasse que ele é um excelente fotógrafo, as fotos não mentiriam. – Hm... Isso que estamos fazendo tem algo a ver com o que aconteceu hoje de manhã?

- Evidentemente.

- Você pretende me contar?

- Não – respondi simplista. Ele revirou os olhos e começou a tirar as coisas da caixa, voltando-as para seus lugares. – O que pensa que está fazendo?

- Não continuarei com isso se não souber do que se trata.

Respirei fundo. Quando respondi suas mensagens, disse apenas para que ele me encontrasse no apartamento e que precisava de sua ajuda, ele disse que faria o que fosse preciso para me ver melhor e não questionou em momento algum, por que agora importava? Expliquei sem muitos detalhes, não me sentia confortável em abrir meus sentimentos assim para ele, contudo, Kim continuava estático.

- Isso tudo é sobre você querer se sentir melhor com a mentira que conta para parar de se machucar e de fazer o mesmo com eles?

- Até que você resumiu bem.

- E como eu fico, Alex? – Encontrei seus olhos de repente, de um jeito que eu não estava acostumada a vê-los há muito tempo; eram tão simples e verdadeiros que eu me esforcei para manter o olhar. – Você não pensou como eu fico?

- O que isso quer dizer?

- Se você, que convenhamos, é você, se sente assim, como acha que é para mim? Eu não sou ator, não sei fingir por fora e muito menos por dentro. Mentir para dentro de mim dizendo que vai ficar tudo bem até eu acreditar é algo que simplesmente não funciona. Você não é a única com amigos e família para quem mente, eu sei como é essa dor mais do que você imagina, pode acreditar.

Os prós e contras do UniversoWhere stories live. Discover now