Ninguém mais que nós dois

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Meia hora depois, o Porsche luxuoso está estacionado na frente do alojamento universitário. Eu sei que a vida real vai me tomar por completo no instante em que eu descer desse carro, então toda a coragem de abrir a porta desaparece. Fico apenas estática observando o movimento no jardim.

— Eu posso te levar para outro lugar se quiser — Pedro propõe.

— Tipo onde? — Rio.

— Nova York, Miami, Londres, Paris, literalmente qualquer lugar que você quiser.

— Qualquer lugar? — eu o desafio, ele assente. — E pra Saturno?

— Se o que você quer é sair da Terra, eu tenho meios bem eficazes de te levar ao céu. — O sorriso torto vem regado de malícia, e eu ruborizo.

Pedro desliza a mão em minha coxa. Ele quer prolongar esse momento tanto quanto eu. Boa parte de mim quer chamá-lo para entrar e ficar comigo essa noite. Boa parte quer mandá-lo dirigir para bem longe, onde a gente possa fingir que não somos uma estrela do rock e sua ex-namorada comprometida. Mas eu olho para a minha mão que ele segura, como se eu fosse sua, e vejo o anel do infinito lembrando que eu não posso ser.

E eu não posso machucar alguém que eu amo de propósito, desse jeito. Isso foi longe demais.

Quando o rosto do Pedro se aproxima, eu sei que ele está prestes a me beijar, e sei que, se fizer, eu vou corresponder, então me desvencilho do cinto antes que aconteça.

— É melhor a gente manter os pés em terra firme, Pedro.

Salto do carro, sem lhe dar tempo para resposta.

Tropeço em meus próprios pés nas escadas. Do lado de dentro do apartamento, eu recosto na porta e suspiro, sentindo o mundo todo girar fora do eixo.

— Você está bem? — Sarah surge do quarto, já arrumada para a aula.

— Acho que eu cometi um erro gigantesco — confesso.

— Não pode ter sido tão mal — minha amiga tenta animar.

— Eu beijei o Pedro.

— Você...

— Eu beijei o Pedro — repito, tomando ciência do fato. Eu fiz isso. — Eu sentei no colo dele, e tirei a camisa dele, e acho que as marcas das minhas unhas vão ficar na pele dele por semanas.

— Okay... — Sarah assimila, sugando as bochechas. — Então você beijou o Pedro. Até onde eu entendi, você gostou. Então por que isso é tão mau assim?

— Tá brincando? — Arregalo os olhos. — Eu tenho um namorado, Sarah. Ou tinha. Merda! — Esfrego o rosto, andando de um lado para o outro da sala.

— Fica calma, Julie. — Sarah me segura pelos ombros. — Pensa comigo... é verdade que você tem um namorado.

— Eu tenho.

— Mas você não tem notícias dele há semana. — Concordo. — E da última vez que vocês se falaram, ele estava com a ex-namorada. Você não é a vilã da história. O cara está em Nova Iorque. Até um cacto precisa de água de vez em quando.

— Eu tenho quase certeza que um cacto vive muito bem no deserto — rebato.

— Tanto faz! — Ela revira os olhos. — Você não é um cacto, precisa regar sua plantinha de vez em quando. E eu duvido que o seu atleta sarado e desaparecido esteja fazendo diferente.

É hipócrita que agora eu esteja com ciúme.

— Então vocês transaram ou...

— A gente só se beijou! — Trato de esclarecer. — Se bem que "só" é a última palavra que eu usaria para definir aquilo. Mas eu não tenho culpa se o nosso beijo tem química pra fazer uma bomba nuclear e explodir Los Angeles inteira.

— E você ia querer saber se o seu atleta tivesse beijado a ex dele desse jeito? — Não é uma pergunta retórica.

O simples imaginário de Thomas e Yumi dando um amasso consegue me deixar desconfortável. É hipocrisia pura mas eu chego a ficar com raiva.

— Pra ser sincera, eu acho que ia preferir não saber dos detalhes — admito. — Mas também não ia querer ser enganada. Preferia que ele terminasse comigo de uma vez.

Sarah comprime os lábios e estende o celular.

— Acho que você sabe o que tem de fazer.

❤️
Não chorem, toma mais um capítulo pra quem fica acordado até tarde !!!

Acham que a Julie vai fazer a coisa certa dessa vez??!

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