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— Que gritaria foi essa? — Gigi surge da sala do Ian, preocupada.

Eu sacudo a cabeça e enxugo os olhos. Vejo meu próprio reflexo na porta do elevador, agora fechada. A mancha de sangue no metal é a prova de que eu soquei com muita força, a mancha de rímel sob os meus olhos é a prova de que estou chorando. 

— Não foi nada. — Balanço a cabeça. 

— Não pareceu "nada". — Ela arqueia as sobrancelhas. — E detesto ser a portadora de más notícias, mas o Ian tá chamando você na sala dele. Parece que dessa vez o assunto é sério.

Como se meu dia não pudesse ficar pior — resmungo, revirando os olhos, mas Giovana não tem culpa de nada disso. Ela só está fazendo o trabalho dela, e eu adoraria estar fazendo o meu, se não fosse o Pedro. — Só avisa ele que eu vou no banheiro primeiro.

Sozinha entre as paredes azulejadas, eu encaro meu reflexo no espelho. Lavo o sangue dos nós dos dedos, odiando a maneira como Pedro sempre desperta em mim as coisas mais intensas e dolorosas. Sentimentos mortos não doem, é assim que eu sei os meus por ele nunca morreram. São soldados mutilados, deixados no chão para agonizar e sofrer.

É estranho como alguém pode te desestabilizar desse jeito. Pegar a sua vida inteira e moldar em outra forma. Eu tinha uma noção de estabilidade: faculdade, emprego, um namorado gentil... e tudo isso virou do avesso no instante em que Pedro Lucas cravou aqueles olhos verdes em mim outra vez.

Agora eu só me acho idiota por ter aberto mão de alguém que se importava por alguém que nunca deu a mínima. Trocado alguém que me abraçou chorando depois de eu ter partido seu coração, por alguém que me abandona chorando com o coração partido. Nem sequer é a primeira vez. 

Eu duvido que ele perceba que é um furacão, deixando um rastro de destruição para trás quando passa. E aqui estou novamente, juntando pedaços de mim debaixo dos escombros que ele deixou.

Lavo o rosto e seco as lágrimas com papel toalha. Não quero que ninguém me veja nesse estado, não quero parecer tão burra, tão frágil, tão ferida.

Quando entro no escritório, pareço inteira, mesmo que o coração esteja em pedaços. Meu chefe está tamborilando os dedos na mesa e eu posso notar as olheiras fundas, como se ele não dormisse há várias noites. Tenho certeza absoluta de que Pedro não fez isso com ele. Sem chance, ele ainda deve estar brigado com a namorada e de alguma forma eu sei que vou pagar o preço dessa merda toda. 

— Julie... Julie... Julie... Você lembra do que eu falei naquela noite em que contratei você? — Ele esfrega o cabelo. Eu fico parada perto da porta, sei que o trauma é de um chefe passado, o Ian é diferente do Andrew, mesmo assim não quero entrar demais nessa sala. Um mau pressentimento. Então apenas assinto, eu me lembro, mas Ian repete do mesmo jeito. — Eu disse "você tem a indicação desse cara aqui, isso é o que conta pra mim".

— Eu lembro — profiro.

— Então me diz o que eu faço se esse cara... esse mesmo cara que te indicou... esse cara que além de meu amigo, meu parceiro... esse cara é o maior artista dessa gravadora... — Ian está todo embolado em palavras. — E ele entra na minha sala numa segunda-feira de manhã, praticamente desnorteado, e ele pega todo esse conceito de álbum que tinha criado... e ele quer jogar tudo fora e começar do zero. E claro que ele não diz seu nome... mas Julie, eu sou um cara ferrado por uma mulher... eu sei reconhecer um cara ferrado por uma mulher... então o que eu faço, me diz o que eu faço se você põe em xeque a saúde mental desse cara, Julie?

Por uns instantes, fico em silêncio. Penso que é uma pergunta retórica, mas Ian está realmente esperando uma resposta então solto num tom fraco e meio irônico:

— Eu não acho que sou eu quem está colocando em xeque a saúde mental de alguém. Talvez você devesse mandar "esse cara" na terapia.

— Resposta errada. — Ele bufa. — Sabe o que eu tenho que fazer por esse cara? Afastar você dele. Essa coisa de discutir pelos corredores, socar as portas e gritar palavrões. Isso não vai funcionar aqui dentro.

Um nó muito grande se forma na minha garganta. Não acredito que estou passando por essa merda de novo. Ser demitida pela segunda vez em tão pouco tempo é meio humilhante.

— Se está tentando me mandar embora, Ian, vou facilitar seu trabalho. — Tiro o crachá de recepcionista e jogo na mesa dele. — Eu me demito. Tô fora. E... ah... espero que a Lana dê um pé na sua bunda, porque ela é legal demais pra você.

Não espero resposta. Saio numa marcha confiante, mesmo que os meus olhos marejem de raiva. Claro que preciso do emprego, mas dessa vez não me humilho por ele. Pelo menos não até estar longe o suficiente da gravadora para que Ian Thorne não escute meu choro angustiado e todos os palavrões que eu murmuro amaldiçoando o Pedro, a Club e ele.

 Pelo menos não até estar longe o suficiente da gravadora para que Ian Thorne não escute meu choro angustiado e todos os palavrões que eu murmuro amaldiçoando o Pedro, a Club e ele

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É treta atrás de treta. De que lado que vocês estão nisso tudo? Do Thomas, da Julie ou do Pedro???


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