Ninguém mais que nós dois

51

Considerando os rumores do envolvimento de Pedro Loth com uma estudante universitária; o alojamento da USC é o último lugar do mundo onde ele deveria ser visto, mas quando estaciono a Land Rover perto da entrada, ainda não estou pronta para dizer "até mais".

Claro que eu quero outro beijo dele, mas não aqui na rua, onde qualquer um pode testemunhar.

— Entra pra se secar, ou vai acabar ficando doente — digo. — O Ian me mata se eu deixar o vocalista da French 75 sem voz para o show do Holi.

Pedro ri.

— Da próxima vez que quiser me chamar pra entrar, não precisa perder tempo inventando um pretexto. — Ele solta o cinto e salta do carro, enfiando um boné preto na cabeça.

Pedro não é o tipo de cara que você imaginaria usando um boné, não é exatamente seu estilo, mas ele consegue ficar bonito mesmo com um e, andando de cabeça baixa pelos corredores do alojamento, isso ajuda a disfarçar a sua identidade.

— Eu não sei como é que isso funcionou. — Arranco a peça da cabeça dele quando já estamos na privacidade do apartamento. — Eu te reconheceria há quilômetros de distância mesmo se usasse uma peruca loira.

— Pelo visto as outras pessoas não reparam em mim tanto quanto você.

Ele morde o lábio de um jeito provocativo quando ri, passando a mão pelo cabelo bagunçado. O sangue sobe para as minhas bochechas.

— Olha só se não é o meu casal do pop favorito. — Sarah surge do quarto num vestido curtíssimo, retocando o rímel nos olhos. Consegue demolir a tensão sexual com uma simples frase.

— Não somos um casal — protesto.

— Tem certeza? — Minha amiga ri. — Porque parecia ter muito entrosamento naquelas fotos.

— Você viu as fotos? —perguntamos num uníssono. Só que enquanto eu soo constrangida, Pedro parece um adolescente de ego inflado, espalhando para o colégio todo que beijou a garota.

— Óbvio! — Sarah corresponde ao entusiasmo dele. — Aquilo estava quente! Honestamente? Eu transaria com vocês dois... ao mesmo tempo!

— Eu não tenho nenhuma objeção.

Viro os olhos de um jeito exagerado. Muito elegante da sua parte flertar com a minha amiga bem debaixo do meu nariz, Pedro. Muito elegante!

— É melhor... — Sarah enfia o rímel na bolsa. — Eu dar o fora, porque, um, eu tenho uma festa pra agitar e, dois, a Julie tá fazendo uma cara assustadora agora.

— Eu não tô fazendo cara nenhuma!

Pedro gargalha alto, como que jurando o contrário. Fuzilo-o com os olhos. Se não estava fazendo uma cara assustadora antes, dessa vez tenho certeza que estou.

— É claro que não! — Minha amiga ironiza. — Mas diz uma coisa... ainda tá chovendo lá fora? Acho que é melhor eu chamar um táxi primeiro...

Ela pega o celular, fuçando na bolsa. A essa altura já estou impaciente e irritada.

— Pelo amor de deus, chama o táxi, chama o caminhão de lixo, chama os bombeiros para apagar seu fogo no rabo, mas dá logo o fora daqui!

Pedro ri discreto e lança a chave da Land Rover para Sarah.

— Leva o meu carro emprestado.

— E você vai embora como?! — Levanto uma sobrancelha.

Pela expressão confusa com que Pedro me encara, percebo que ele não tinha a intenção de ir embora essa noite. Qual é? Sério? Eu chamei ele para entrar e se secar, não foi um convite de sexo. Eu não o chamei para passar a noite comigo.

— Eu dou um jeito.

Sarah não hesita em aceitar a oferta, deve ter planos bem obscenos para aquele banco de trás. No instante em que os dedos engancham na maçaneta da porta, ela se vira para um último recado:

— Vê se rega a plantinha, Juju.

Ruborizo, torcendo para que Pedro não entenda a metáfora estranha.

— É um cacto, Sarah. — Eu a empurro para fora. — É um maldito cacto.

— Cactos são secos e espinhosos. — Ela torce o nariz. — Hidrata isso aí pelo amor de...

Eu bato a porta com tudo. Pedro está rindo, mas com o cenho franzido.

— Tenho a impressão de que o assunto não era jardinagem.

— Acredite! Você não ia querer saber. — Chacoalho a cabeça em negativa. — Vem, vou procurar uma toalha pra você se secar. 

Sei que o capítulo foi curtinho, mas se vocês votarem e comentarem bastante, eu prometo que volto amanhã!!!!!!!