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A tempestade está cada vez mais forte sobre as nossas cabeças. O que começou como um beijo quente na chuva, começa a se parecer com um afogamento. Um trovão alto demais me arranca um gritinho tosco de susto. Pedro dá risada.

— É melhor a gente voltar agora.

Salto do capô e deslizo as mãos pela saia, recobrando a dignidade que se perdeu em algum lugar entre a língua entrando na minha boca e os dedos entrando em lugares bem mais impróprios.

— Você dirige? — pergunta.

— O quê?

— Leva o carro. — Ele atira a chave para mim, dando a volta para entrar pelo lado do carona. — Não estou em condição de dirigir agora.

Não que eu esteja em melhor condição, penso, mas me acomodo no banco de couro assim mesmo, porque não é todo dia que alguém me deixa dirigir um carro de luxo.

A água escorre das nossas roupas e cabelos direto para o banco, mas Pedro não parece se importar. Eu avanço pela estrada com cuidado, a visibilidade está muito baixa. Agora que a adrenalina do beijo passou, a realidade do que estávamos fazendo me atinge com um golpe de vergonha. De repente eu mal consigo encarar o Pedro ou meu próprio reflexo no espelho retrovisor.

— Não é melhor parar e esperar a chuva? — ele pergunta.

Eu faço que não. Sei bem como isso vai acabar se eu ficar confinada num ambiente tão pequeno com ele.

— Dá pra ir.

— Você está muito molhada.

Sinto um frio percorrer a espinha. Levando em conta o coquetel de hormônios que está percorrendo a minha corrente sanguínea agora, eu espero que ele esteja falando das roupas.

— Deve estar com frio. Deixa eu... — Ele aperta qualquer coisa na tela que liga o aquecedor. — Melhor agora?

Ã-hã — concordo. — Obrigada.

Mas melhor mesmo eu estava quando ainda estávamos nos beijando, porque com a língua dele na minha boca, não sobrava espaço na cabeça para pensar se eu estava bem com o que aconteceu ou arrependida.

O álbum de Pedro ainda está nos autofalantes. Deixo a mão cair do volante para o console, e não posso dizer que fiz isso sem saber que os dedos dele rapidamente se enganchariam aos meus.

Pedro pega um cigarro no porta-luvas. A neblina de tabaco que contamina o carro tem o sabor gostoso da boca dele. Não é o mesmo cigarro barato que costumava fumar naquele ônibus.

— Que cigarro é esse? — pergunto.

— É importado da Inglaterra. Prova...

Pedro se estica para colocar o cigarro em meus lábios. Eu não deveria, mas puxo um trago curto só para me assegurar de que o gosto não é tão bom assim quando não está impregnado na língua dele.

— E aí?

— É razoável — resumo. — Então até o seu cigarro é de luxo agora?

Pedro sacode os ombros.

— Pelo menos não virei um daqueles manés que fuma pen-drive.

Eu dou risada.

— Dizem que é mais saudável e menos prejudicial ao meio ambiente.

— Se eu estivesse me fodendo pro que é saudável, eu não enfiava dois maços desse no corpo por dia, tiete. — Pedro ri e puxa outro trago. — Mas, é, até tentei dar uma chance pra esse negócio de cigarro elétrico que o Kye usa, mas acaba com meu estilo.

Típico do ego dele, penso. Se preocupar com o próprio "estilo", mas não a própria saúde.

— E a sua voz? — pergunto. — Aposto que a fumaça não faz bem pra ela.

— Eu canto rouco por um motivo.

Mordo o lábio. A rouquidão na voz de canto dele é não somente a sua marca registrada, mas o meu som favorito do planeta.

— Tá, você venceu. Nunca mais vou te dizer para parar de fumar.

— Não que tivesse alguma chance de me convencer, mas ainda era fofo te ver tentar. — Pedro ri e aperta a minha mão, puxando outro trago.

Eu viro os olhos.

— Já que eu vou respirar a fumaça de qualquer jeito, me dá mais um trago.

Pedro se debruça para perto, encaixa o cigarro nos meus lábios de novo. Está perto demais, mas isso já não incomoda. Eu puxo o trago, ele afasta o cigarro e, no instante em que sopro a fumaça, Pedro a capta, selando a minha boca com um beijo.

Meus olhos fecham por instinto, e eu piso no freio. Uma mão continua no volante, a outra engancha a nuca dele. O sabor do cigarro se mistura em nossos paladares do melhor jeito possível.

Eu sou inteira sensações, mas outro carro passa ao nosso lado buzinando ruidosamente porque eu invadi a pista contrária. Pedro se afasta devagar e sorri.

— Se beijar, não dirija — brinca.

Eu rio baixo e empurro seu peito de volta para o lugar.

— Se dirigir, não beije — rebato, e então volto a acelerar o motor e me concentrar na estrada. Quer dizer, tanto quanto posso me concentrar quando meus lábios ainda latejam de vontade de beijar os dele.

 Quer dizer, tanto quanto posso me concentrar quando meus lábios ainda latejam de vontade de beijar os dele

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Esse capítulo está curtinho mas está tão 🛐🛐🛐🛐, então não esqueçam de votarrr!!!

Eee, gentê, não o Thomas não sumiu, isso não é um furo do roteiro, ele e a Julie estão brigados, só isso, calma q na hora certa ele aparece. Quem já leu a versão anterior do livro que o diga.

Boa Páscoa pra vcs, comam chocolate 💖💖💖💖💖

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Ninguém mais que nós doisDonde viven las historias. Descúbrelo ahora