Família

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André se viu sendo reanimado por uma equipe de médicos e sentiu a mão de Alana em seu braço. O homem olhou para os próprios braços e pernas e estavam inteiros e intactos. Quis perguntar o que estava acontecendo, mas um beijo suave da amada o acalmou e o fez apenas abraçá-la com força.

— Volta pra mim! Só tenho você.

— Você se enganou esse tempo todo, André! Eu nunca estive com você... você quebrou a nossa promessa de fidelidade.

— O quê? Eu nunca traí você, Alana.

— Nunca? — perguntou e encarou o espírito do homem enquanto mostrava o rosto de Inácia e o dela pausadamente.

— Não, não pode ser. Não pode ser...

Ela tocou no rosto dele, que fechou os olhos e sentiu uma paz enorme, a brisa leve acariciava seu rosto.

Alana estava ao seu lado quando ele abriu os olhos e se viu em sua casa, a mansão onde fora criado e onde morou com a primeira esposa.

O empresário tinha consciência de tudo o que já havia passado, mas aquela paz e felicidade que sentiu ao abrir os olhos e ver a filha correndo com o Dr. Shay, foram impagáveis.

— Eu mereço isso! — disse sorrindo e se aproximou da casa, Alana permanecia ao lado dele segurando sua mão.

— Papai! — A menina gritou e pulou no colo dele, que a abraçou segurando-a no colo. — Oi, Alana... — disse empolgada e beijou a jovem namorada do pai.

— Oi, minha linda! Tudo bem?

— Sim. Depois vou te mostrar a casa que fiz pro Dr. Shay.

— Tá bom. Tenho certeza que está ótima!

— Está linda! — disse sorrindo. — Vovô vai fazer almoço, papai!

— Sério! Que delícia! Vai brincar, vai. Daqui a pouco volto aqui. — avisou, beijou-a no rosto e a colocou no chão.

O homem foi andando para entrar na casa e viu o filho sair com um skate.

— E aí, pai... eu vou dar um volta com os caras e já volto. Oi, Alana, tudo bem? — cumprimentou sorrindo e a beijou na bochecha. — Vovó, está fazendo torta de chocolate, então nem venha com dieta! — disse com um sorriso de felicidade no rosto.

— Eu não faço essas coisas! — Alana disse com um sorriso de satisfação.

— Tá bom... — Sorriu e olhou para o pai. — Vou nessa!

— Tá bom, filho. — Deu um abraço forte no filho e o viu sair das dependências da casa, que era no meio de uma área verde.

Apesar da construção antiga, a casa de André era sofisticada, de uma arquitetura única, cada detalhe que continha ali fazia parte da personalidade de seus pais, que ajudaram naquela realização. Era a mais bonita da região. O empresário já recusara muito dinheiro por aquela propriedade.

Alana soltou o braço dele para que entrasse e viu o homem chorar ao se lembrar do que presenciou naquela sala, ajoelhou-se no chão lamentando a perda da família tragicamente daquela forma obscura. A jovem o levantou fazendo-o se acalmar.

— Obrigado por isso!

Passaram pela sala e chegaram à cozinha. Além dos funcionários, André viu os pais ali. Cumprimentou a todos.

Galícia preparava a torta enquanto conversava com o marido sobre quando eram jovens, a infância de André. Arnaldo cortava verduras para fazer o tempero do almoço.

— Oi, filho...

— Oi, pai... o cheirinho está ótimo, hein? — avisou e beijou o homem com carinho no rosto e abraçou a mãe por trás. — Eu amo vocês! Muito!

— Tudo bom, Alana? — Arnaldo perguntou e a beijou no rosto.

— Oi, Alana. Seu cabelo está ótimo assim! — Galícia elogiou e aproximou o rosto para trocarem beijos. — Fiz um suquinho, tomem um pouco...

— Obrigada. — agradeceu e pegou a jarra de suco na geladeira.

André serviu dois copos e sentou à mesa ao lado da namorada, enquanto seus pais cuidavam de seus afazeres e conversavam.

— André era arteiro demais, Alana. Você precisava ver. Só tem essa carinha de bom moço aí, mas era terrível.

— Ah, mamãe, o que ela vai pensar?

— Deixa ela contar, amor. Eu gosto de saber de você! — Alana pediu carinhosamente e o beijou.

— Aquele projeto de casa na árvore, é arte dele, mas só começou... queria uma casa grande... — Arnaldo entregou sorrindo. — Como fazer uma casa grande numa árvore daquela? E ele só tinha sete anos...

— Meu Deus! — Alana disse admirada e viu André com uma mão na testa.

— Eu fiz uma piscina nessa casa depois de ele cavar o buraco e encher de água. Ele pulou dentro da lama...

Os quatro se divertiam com aquele assunto. Mesmo envergonhado com as várias histórias que sua mãe contava, André se sentia realizado. Em paz. Estava ao lado da mulher que amava, com a família completa.

Naquele dia, ele a família almoçaram felizes, tiveram um dia perfeito.

— Não quero sair daqui! — disse ao observar a família de uma distância que podia ver todos sorridentes na sala. — O que posso fazer para recuperar tudo isso? — indagou a Alana que estava ao seu lado.

— Infelizmente não há o que fazer, André! Você sabia o que estava fazendo, mas mesmo assim o fez. — disse com uma voz suave.

— Eu fui enganado! — disse em lágrimas.

— Não foi! Você viu a nossa diferença, você sentiu o cheiro diferente, o sotaque diferente. Você apenas ignorou. — disse já ficando aborrecida.

A sala que até então estava clara e cheia de vida, começou a escurecer. O empresário notou as paredes criando leve camada esverdeada, suja e com fungos. O chão assumindo um aspecto rubro escuro.

Começou a ofegar e sentir falta de ar. Viu todas as mortes dos membros de sua família na sua frente novamente. Tomado de nervosismo e arrependimento, ele fechou os olhos gritando.

— Você merece isso! — A voz de Alana saiu totalmente rouca e furiosa.

Mesmo de olhos fechados, André conseguiu ver a morte de Alana. Os golpes sendo desferido em sua cabeça.

O homem gritava chorando. A entidade o jogou sobre a cama de hospital usando os dois pés.

André acordou sobressaltado e viu os médicos com desfibriladores saindo de cima dele.

— Trouxemos de volta! — Um médico avisou e passou a examiná-lo.

Mesmo em lágrimas e ofegando, André observava a figura de Alana no canto daquela sala.

A jovem correspondia ao olhar dele por entre os cabelos molhados de lama e sangue.           

AlanaWhere stories live. Discover now