Surto

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André entrou em desespero quando viu a mulher se debater na parede. Tentou contê-la, mas foi empurrado por ela, que gritava e tentava sair dali, mas era impedida pelo espírito maligno, que tentava estrangulá-la enquanto a segurava com os pés pelos pés e a puxava para cima pelo pescoço com as mãos.

Alana passou a ver Rebeca tentando contra sua vida ali naquela sala, viu André parado sorrindo.

— Me ajuda! — gritou com dificuldade e viu o namorado sentar no sofá para assistir àquela cena como se assistisse a um espetáculo.

André tentava conter a namorada, que estava descontrolada.

Apenas os dois estavam na sala. Mas Alana via o namorado se divertindo com aquele ataque.

Transtornada, ela conseguiu se desvencilhar da maldita entidade e pulou em cima de André no sofá, tomada de ódio, enquanto o empresário a segurava tirando de cima do cômodo.

— Alana! — gritou e tentou fazê-la voltar ao normal.

A mulher se sentiu segurada por Ramón, que a sujava inteira de lama do próprio corpo, aquela gosma podre de decomposição corporal.

— Calma! — André pediu gritando, enquanto tentava segurá-la para que não se machucasse socando o móvel.

Alana achava que estava batendo nele, quanto mais batia no rosto do homem mais ele ria e debochava dela.

— Alana, pelo amor de Deus, se acalma! — pediu quando ela se deixou cair sobre o sofá.

Suado e ofegante, ele a largou vendo-a chorar com os olhos fechados, exausta, com ânsia de vômito tapava a boca.

Ele pegou o telefone e ligou para o hospital, tinha os olhos marejados.

Em lágrimas, o empresário abraçou a namorada, que soluçava.

— Passou, meu amor! — tentou acalmá-la.

Doutor Luiz, o psiquiatra, e dois enfermeiros chegaram, foram recebidos por André, que deixou Alana no sofá, ela olhava para o vazio como se procurasse os filhos do namorado, a sala estava calma.

André levou Alana para a cama e o médico aplicou um calmante nela depois de conversar com ela sozinho.

— Doutor, eu preciso saber o que ela falou para o senhor...

— Ela me disse que os seus filhos não gostam dela, eu perguntei por que pensava isso e ela disse que você riu dela quando eles a atacaram na sala.

André fechou os olhos e os apertou com os dedos, respirou fundo e olhou para o médico com os olhos marejados.

— Doutor, os meus filhos e os meus pais foram vítimas de acontecimentos misteriosíssimos, e notei que a Alana ficou muito abalada, ela não tem família, só tinha uma amiga no Rio de Janeiro e não fala mais com ela, eu não podia e nem quis sair do lado dela.

— Eu soube, André. Eu sinto muito, mas a Alana está visivelmente desequilibrada, pelo que me contou ela está vendo seus filhos aqui. Não acha melhor tratarmos isso no...

— Não, doutor. Pode me passar as instruções, eu mesmo quero cuidar dela. Posso fazer isso, ela está assim por minha culpa...

— Já pensou em chamar um padre, há pessoas que entendem dessas coisas...

— Isso é coisa de filme, doutor. Saí da casa, a Alana logo fica bem. Só está abalada ainda com tudo o que houve...

— Tudo bem, se prefere assim, apesar de perigoso, não posso obriga-lo a levá-la para o hospital. Se precisar é só chamar, se quiser o Sérgio fica aqui... — avisou referindo-se a um dos enfermeiros.

— Não precisa mesmo, mas se ela acordar daquele jeito de novo eu ligo, doutor. Muito obrigado.

— Não por isso, André! — Estendeu a mão que o empresário apertou.

André foi ao quarto e viu a namorada quieta, mas acordada. Nem de longe parecia aquela profissional que em tão pouco tempo conseguiu o cargo de gerente da maior distribuidora de flores da América Latina.

Quando ela dormiu ele saiu do quarto e ligou para a empresa, que estava sendo administrada pelo vice-presidente, seu sócio Richard. Conversou com ele e avisou que ficaria mais uns dias, afastado, mas que trabalharia de casa.

Richard e André se conheceram ainda na adolescência, eram muito amigos além de sócios, então havia muita confiança e lealdade entre eles.

— Você acha que tem a ver com aquilo que fizemos, André? Morro de medo dessas coisas. — Richard indagou ao amigo quando teve a oportunidade de falar sobre o passado.

— Acho que não, Richard. Por que fariam isso com a Alana? Se é que é verdade... — respondeu preocupado sem acreditar muito nas próprias palavras.

— Eu carrego aquela culpa comigo sempre. Minha filha ficou doente já fiquei paranoico.

— Tua filha está bem, Richard, fizemos aquilo juntos, se fosse pra acontecer isso, você teria sido o primeiro.

— Estou com muito medo, André. Oro todas as noites para que essa culpa não acabe comigo. Mas fica tranquilo que estou cuidando de tudo aqui.


No quarto, Alana se sentou na cama e se sentiu zonza, mas respirou fundo e foi ao banheiro. Lavou o rosto e se olhou no espelho.

— Não vou deixar você acabar com a vida que fiz de tudo para conseguir! — disse cheia de ódio para o espelho como se dissesse para alguém.

Naquele momento o rosto desfigurado daquela entidade maligna apareceu no espelho, deu um grito pavoroso e o quebrou por dentro.                            

AlanaTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon