Carona Certa

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Alana estava dirigindo a 150km/h na SP-340, havia saído de Holambra cinco dias antes, estava cheia de saudade do namorado, André, dono da empresa onde ela trabalhava.

Em menos de um mês no cargo de subgerente do setor, ela virou gerente executiva da empresa.

  †    

André estava preparando um jantar para apresentar a namorada aos pais e aos dois filhos.

— Ela está vindo, filho, você não pode esperar alguns minutos? — André estava aborrecido com a impaciência do filho, de 18 anos, que estava querendo sair com os amigos.

— Meia hora, pai, e não mais que isso. Já não basta você ter colocado outra mulher aqui sendo que mamãe morreu há menos de um ano...

— Ramón, já conversamos sobre isso, não seja infantil.

Ramón morava com os avós, decidiu depois que sua mãe morreu de câncer no pâncreas. Culpava o pai por não ter cuidado dela. André trabalhava demais.

    †    

Alana decidiu pegar um atalho, pois seria apresentada a família de André naquela noite e estava atrasada, foi a uma reunião de negócios. A estrada era deserta, mas reduziria vinte minutos de viagem. Viu que os faróis começaram a piscar.

— Que droga! Só falta esta porcaria quebrar aqui no meio do nada.

Manteve a velocidade de 120km/h mesmo, quase sem faróis. Freou subitamente ao avistar um vulto feminino à frente.

Uma mulher estava à beira da estrada. Vestido e cabelos muito sujos.

Alana gritou quando a mulher se jogou na frente de seu carro. Parou alguns metros depois e mesmo sentindo a batida, ela saiu do carro e não viu ninguém, apenas o carro levemente amassado. Agachou-se olhou embaixo do veículo e nada. Correu para dentro do carro e deu partida, afastando-se dali rapidamente, com um arrepio intenso na espinha. Nem notou que a mulher estava sentada no banco de trás. 

Cabelo desgrenhado,  pingando lama com sangue, não estava chovendo. Ela exibia um corte profundo no lobo temporal direito. Vestido sujo de lama. Havia fúria em seu olhar, criatura macabra, a pele já havia perdido o viço, a cor, estava branca esverdeada, com leves manchas roxas e pequenos buracos, uns como se tivesse sido roído por bichos e outros de golpes com algum objeto cortante.

Ofegava de ódio, enquanto observava Alana chegar à casa de André. Rapidamente, a misteriosa criatura saiu do carro e ficou ao lado de Alana, que foi recebida carinhosamente pelo namorado.

— Amor, desculpa a demora, os chineses não aceitaram a proposta e tivemos que refazer tudo.

— Eu confio em você!

— Eu acho que bati em algum bicho na estrada. — Apontou o amassado do carro.

— Sério? Você está bem?

— Sim, só amassou um pouquinho e o bicho entrou na mata, pois não o vi por lá.

André notou que o carro estava intacto. Franziu o cenho.

— Vai tomar um banho, amor, meus pais estão esperando. Depois conversamos sobre a viagem.

Alana entrou, foi seguida por André, que apertou o nariz com os dedos polegar e indicador, ao sentir um forte cheiro podre depois que a namorada chegou.

— Filho, o que houve? Cadê a Alana? — Galícia, mãe de André quis saber.

— Ela está no banho, mamãe, em dez minutos está descendo, ela foi resolver problemas da empresa...

— Pai, estou indo nessa? — Ramón anunciou se dirigindo à saída.

— Ela desce em cinco minutos, Ramón... — André falou um tanto impaciente.

Rebeca brincava com Dr. Shay, seu cachorro, um Jack Russel Terrier, que ganhara de Galícia, estava com sete anos de idade, não gostava de Alana, mas seu pai já havia conversado com ela e ela a aceitava.

Alana desceu usando um belo vestido, sorrindo para todos:

— Boa noite, gente, desculpa o atraso, clientes exigentes...

André fez as apresentações e foram para a sala de jantar, estavam todos jantando quando Dr. Shay latiu e saiu correndo assustado ao olhar para Alana, Rebeca foi atrás dele. Ramón aproveitou e foi atrás da irmã, que saiu chamando pelo cachorro.

Ninguém viu nada, mas a mulher da estrada estava ao lado de Alana, de aspecto horrível e fúria nos olhos, que sangravam; ofegava quando foi vista pelo cachorro que latiu e ela gritou abrindo a boca de dentes quebrados e sangrento assustando o animal.

André sentiu ânsia de vômito ao sentir o cheiro de podre:

— Que cheiro horrível é esse? — Levantou-se e Galícia olhou para Alana, que se levantou também.

— O que houve, amor? Que cheiro?

Galícia gritou de horror quando viu Arnaldo em estado de choque olhando além de Alana.

— Arnaldo?— Galícia gritou tentando chamar sua atenção, em vão.

A criatura horrenda avançou na direção do pai de André e o atacou. Levantou-o pelo pescoço até o teto e o largou no chão, enquanto André tentava, em vão, ajudar o pai, que estava imóvel, Galícia gritava desesperada, viu Alana parada com lágrimas nos olhos, paralisada, sem saber o que fazer.

AlanaWhere stories live. Discover now