Membros

96 22 65
                                    



Inácia foi atingida por aquele caminhão, foi jogada contra umas árvores. Sentiu todas as dores. Gritava desesperada. Caiu no chão depois de atingir alguns galhos de árvore e sentiu que estava com alguns ossos quebrados. Tentou se levantar e sentiu dores horríveis em suas pernas e abdome.

Notou que estava com a testa sangrando e tocou no local, havia um buraco enorme. Emitiu um grito desesperado. Tentou se arrastar naquele matagal para pedir ajuda e se assustou quando Alana pulou em sua frente com um sorriso de dentes sujos e lábios rachados e roxos.

— Você vai pagar, sua desgraçada!

Inácia ouviu aquilo, mas não viu a boca de Alana se mexer.

— Você está fazendo isso, né? Não vou cair no seu jogo de novo. — disse tentando ignorar a presença da entidade ali em sua frente e tentou sair de lá se arrastando.

Alana volitava ao seu lado. Enfiou o dedo no buraco da testa dela, que gritou assustando animais daquele matagal, e a arrastou correndo.

Inácia gritava tentando se desvencilhar daquele contato, mas era inútil, não tinha forças contra Alana. Ela sentia sua pele sendo rasgada pelas pedras, troncos e galhos do chão.

Alana andava pelo sentido oposto à estrada. A polícia chegou ao local e viu os policiais mortos.

— Vasculhem a área. A assassina está a pé. — pediu e pisou no local escavado por Inácia, dominada por Alana, e seu pé afundou ali.

Ele se agachou e começou a tirar a terra molhada, com as mãos mesmo e achou o corpo de Alana.

— Isolem esta área. — gritou para seus companheiros. — Há um cadáver aqui. Vou chamar a perícia.

Inácia gritava com todas as suas forças, mas já não se fazia ouvir por ninguém, apenas por ela mesma. Alana a largou no meio de uma clareira e sumiu por entre os grandes arbustos. Inácia ofegava quando se viu no meio do nada. Olhou para sua perna direita sagrando muito. Tirou a camiseta que usava e a rasgou para amarrar na perna. Fez o torniquete e tentou sair dali, sem noção nenhuma de direção.

— Socorro!

Mesmo sabendo que aquilo poderia se tratar de uma ilusão provocada por Alana, ela não desistiu. Arrastou-se por um tempo, sentindo que poderia perder os sentidos a qualquer momento, pois sentia muitas dores pelo corpo inteiro.

Uma equipe de peritos e investigadores chegou ali. Depois de verificar tudo, removeram o corpo de Alana e dos policiais. Fizeram uma busca pela área e não encontraram nada.

— Ela não pode estar longe. Aumentem a distância, vou avisar sobre a fuga dela pela vizinhança.

— Doutor, achei um corpo em cima de uma árvore... vamos precisar de escada. É uma mulher... — disse um policial voltando da mata.

O homem correu ao local e viu Inácia em um galho.

— Socorro! — balbuciou chamando a atenção deles. Seu sangue ainda pingava nas folhas até cair no chão formando pequena poça.

— Chamem uma ambulância! — gritou e se aproximou da árvore. — Pode me ouvir?

Inácia se arrastava quando ouviu aquela voz, olhou em volta e gritou por ajuda novamente, usando toda a sua força que ainda restava.

Com o rosto cheio de sangue e sentindo o corpo gelando, ela continuou gritando.

Pode me ouvir? O socorro está chegando, mantenha-se firme, ok? Meu nome é Murilo, sou investigador da polícia e vou ajudar você... — a voz soava pelos ouvidos de Inácia, mas ela não fazia ideia de onde vinha, continuava procurando.

Com a ajuda da equipe de resgate, Murilo retirou Inácia de cima daquela árvore. Alana estava ao lado dela, mantendo-a viva.

Inácia perdeu a perna direita no impacto com o caminhão. Corria risco de perder o braço. Alana ficou ao seu lado na ambulância também.

O olhar de Inácia estava assustado enquanto via a entidade no teto do veículo a observando. Os paramédicos monitoravam a paciente.

— Mulher de aproximadamente trinta anos, múltiplas fraturas... foi encontrada toda machucada, em cima de uma árvore. Não sabemos ao certo o que aconteceu, nem soubemos de queda de avião nas últimas horas. — disse o paramédico enquanto retirava a maca de dentro da ambulância. — Ela está consciente.

— Como isso é possível? — indagou a médica que a recebeu admirada ao notar seu grave estado.

Pediu ajuda e levou Inácia para dentro do hospital. A mulher só ficou inconsciente quando foi anestesiada para passar por cirurgia.

O espírito da impostora saiu do corpo e se afastou da mesa de operação. Entrou em desespero ao se ver ali sendo cuidada pelos médicos.

— Por que não me deixa morrer? — perguntou gritando.

Alana observava tudo. O desespero de Inácia aumentou quando ela viu seu braço sendo amputado.

As cirurgias correram bem. Impressionou todos os médicos. A executiva passaria um tempo para se recuperar. Sem uma perna e um braço.

Murilo observava aquela mulher com a cabeça enfaixada, perna esquerda imobilizada. Perna direita com um imenso curativo na parte que restou da coxa. Braço direito sobre a cama com os acessos. Braço esquerdo com curativo, amputado na altura do bíceps.

Depois de passar por várias cirurgias, Inácia se recuperava bem. Murilo investigaria o caso.

— Oi...

Ele ouviu uma voz feminina atrás dele e se virou, era a delegada da cidade de Vila dos Lírios.

— Oi... doutora Lara, tudo bem?

— Eu soube do caso. Essa é a suspeita?

— Sim, mas não estou acreditando muito que ela seja capaz de ter feito o que fez, não.

— Por quê?

— Eu sou cético, sabe Lara? Mas estão dizendo que foi algo sobrenatural. Mas o estrago que ela fez não condiz com sua estrutura.

— Qual é a história dela?

— Segundo informações dos moradores e funcionários do prédio onde ela mora com o marido, ela foi espancada por ele. Mas ele está em São Paulo em estado gravíssimo também, a mulher matou dois funcionários do condomínio, dois policiais e encontramos mais um corpo na floresta. Não posso ligá-lo a ela ainda, mas é muita coincidência.

Lara franziu o cenho.

— Murilo, você já parou pra pensar que essa história é bem louca? Ela foi encontrada em cima de uma árvore, todas aos pedaços.

— O que acha? Que foi uma alma demoníaca que fez tudo isso?

— Como ela foi parar em cima daquela árvore?

— Estou esperando ela acordar para perguntar.

— Ou pode haver uma terceira pessoa...  

Inácia acordou assustada e tentou sair de lá. Viu-se sem conseguir retirar os acessos do braço e começou a se debater para sair dali.                

AlanaWhere stories live. Discover now