Presença

377 78 216
                                    



Arnaldo caiu já sem vida no chão para desespero de Galícia e André:

— Papai, fala comigo, por favor... — André gritou e abraçou o pai, olhou para Alana — Chama uma ambulância, corre!

Galícia já estava fazendo isso. Em pouco tempo a ambulância chegou e constatou que Arnaldo estava morto, ataque fulminante do coração. André foi com o corpo do pai, enquanto Galícia foi medicada, depois de uma crise nervosa.

Alana estava tremendo quando se viu sozinha na casa, sentou na escada e olhou para o vazio e em volta. Apertou os olhos ao lembrar do que viu aquela criatura tenebrosa fazer.

— Que coisa é aquela, meu Deus?

Rebeca apareceu no alto da escada:

— Tia Alana, cadê meu pai? — indagou, em lágrimas.

— Ai, que susto, Rebeca. — Foi até a menina — O seu pai precisou sair com a vovó... cadê seu irmão? Vem pra cama...

— Ele foi encontrar os amigos dele. Não vou para a cama...

— Vem, daqui a pouco seu pai chega...

— Dr. Shay não está bem...

Alana entrou no quarto da menina e viu o cachorro deitado e ofegando.

— Ele está dormindo...

— Não está... — gritou e colocou o cachorro no colo mencionou sair, mas foi segurada por Alana, que notou que o animal estava muito quente.

— Droga! Vou levá-lo ao veterinário — avisou e foi trocar de roupa — quando o seu pai chegar, você avise a ele que fui...

— Eu vou com você, o Dr. Shay é meu filho...

Logo saíram. No caminho Alana ligou para André, que avisou que passaria a noite com a mãe, que precisou ser medicada e pediu que ela cuidasse de Rebeca e Ramón.

— O Ramón saiu com os amigos, ligo para ele?

— Não precisa, eu falo com ele.

— Meu amor, eu sinto muito.

— Onde você está? Que barulho é esse?

— Estou na rua, Dr. Shay está passando mal e estou levando-o ao veterinário... Rebeca está aqui comigo.

— Cuidado, procura um hotel para passar a noite com a minha filha, por favor, vou voltar ao quarto da mamãe. Cuida dela, e deixa que eu converso com ela... obrigado. — Desligou, estava exausto e chorara bastante.

Dr. Shay foi para casa, medicado, naquela noite. Alana decidiu que enfrentaria aquela coisa se fosse preciso, mas não iria para hotel.

Arnaldo foi enterrado dois dias depois. André chegou em casa com a filha no colo. Rebeca adorava o avô, estava muito triste. Alana levou Dr. Shay para a sala e deixou a menina com o cachorro. O empresário olhou para a namorada.

— Preciso falar com você... vamos ao escritório. — Avisou e deu um beijo na cabeça da filha. — Filha, estou no escritório, ok?

— Ok, papai.

André entrou no escritório e fechou a porta depois que Alana entrou.

— O que houve?

— Estive conversando com minha mãe. Ela está desolada, mas me falou algo que ficou na minha cabeça e preciso saber de você... — respirou fundo.

— O que está acontecendo, André?

— Ela me disse que meu pai estava olhando para algo perto de você; ver meu pai daquele jeito me deixou muito confuso e preocupado. Estou em estado de choque ainda. Eu preciso saber se você viu alguma coisa, sei que pode parecer loucura da minha cabeça, mas eu perdi um amigo de infância quase dessa mesma forma, ele foi puxado para um abismo aqui perto e acabou morrendo na queda.

— O que está querendo me dizer, André?

— Você viu alguma coisa, Alana?

— Vi apenas o que todos viram, André. Seu pai sair andando de costas e cair daquele jeito da escada. — respondeu vagamente, pois não queria falar para André o que viu nitidamente.

— Eu passei muitos anos da minha vida assombrado com aquela porcaria, agora vejo algo parecido, não sei se estávamos na mesma sala, mas o meu pai foi arrastado, Alana...

— Essas coisas não existem, André!

— Não existem, Alana? Você viu o meu pai ser içado a vários metros de altura, como você explica isso? Primeiro o cachorro deu aquela crise, depois o meu pai foi morto. O que quer que eu pense? — Deu vazão as lágrimas. — Vou enlouquecer. — Passou as mãos nos cabelos. Estava assustado e agradecia pela filha não ter visto nada.

Alana foi até ele e o abraçou com força. Estava com o pensamento longe, não conhecia Arnaldo, não criou nenhum tipo de afeto com ele, mas viu o sofrimento da família.

— Meu amor, venha para o quarto, você precisa descansar um pouco, não tem dormido nem comido direito.

— Temos que sair dessa casa...

— Ei, psiu! Não vamos a lugar nenhum. Aquilo não vai mais acontecer.

Ele se levantou soluçando, limpando o rosto e foi para o quarto com a namorada.

Alana pediu para Zélia levar algo para ele comer. Zélia era governanta da casa de André desde que ele se casou com a mãe dos filhos.

André acordou no dia seguinte sentindo aquele cheiro de pobre, teve ânsia de vômito, saiu da cama subitamente acordando a namorada que dormia ao seu lado.

— Zélia! — gritou o nome da governanta. — Zélia! — chamou novamente e viu a mulher surgir no inicio da escada e subir correndo.

— Pois não, senhor?

— Veja se o Dr. Shay não trouxe algum bicho para dentro deste quarto, está podre aqui... — avisou fazendo uma careta e se preparando para sair.

Alana estava sentada na cama, fora acordada pelos gritos dele, que nem falou com ela.

— De que cheiro ele está falando, dona Alana? Não sinto nada, esse quarto foi limpo ontem. Dr. Shay não entra aqui...

— Não sei, Zélia. Procura aí... — resolveu sair da cama, ao pisar no chão pisou em uma poça de sangue gosmenta e apodrecida, um sangue escuro com resíduos de relva e terra. — Arg, que nojo! — gritou e correu para o banheiro tentando se livrar daquela sensação em seu pé.

Zélia franziu o cenho e deu a volta na cama, colocou a mão na boca e olhou na direção do banheiro. Meneou a cabeça negativamente, pois não viu nada no chão.


AlanaWhere stories live. Discover now