Mudança

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Inácia viu a moça loira se aproximar de sua sósia com a carteira na mão.

— Vai deixar a carteira aqui, é? — perguntou, sorrindo.

— Ah, obrigada. Dorme comigo hoje? — Alana perguntou à amiga fazendo biquinho de manha. — Eu viajo amanhã e não sei quando volto aqui, você vai ficar com saudade se não for.

— Meu Deus — disse e riu. — Quanto drama. Tudo bem, eu durmo. Senti muito a sua falta. — confessou e abraçou a amiga mais uma vez.

Foi chamada de volta à mesa. Alana deu um beijo no rosto da amiga e saiu, foi seguida por Inácia, que a seguiu até entrar na casa da mãe.

Na portaria do condomínio apenas apontou para o carro da jovem e teve a passagem liberada sem questionamentos.

— Bela casa, hein Alana? — disse para si enquanto observava a frente da casa.


Alana saiu da casa e colocou umas malas dentro do carro, sem nem imaginar que estava sendo observada e seria vítima de um plano macabro.

O sorriso de Inácia se alargou quando a menina terminou de colocar as coisas no veículo e entrou novamente na casa. Viu quando ela saiu discutindo com uma mulher.

— Eu preciso do carro, mãe! Para! São apenas sete horas de viagem. Eu não vou morrer, só vou me mudar pra outra cidade...

— Não fale assim, filha. Só estou preocupada, estrada é tão perigoso. Eu mando o seu carro ainda hoje, filha. Vai de avião.

— Oh, mãe, por favor. Não sou mais criança, sei me cuidar. Eu vou parar para descansar, prometo. E ligo pra senhora em todas as paradas, tudo bem?

— Eu vou com você, então. Volto de avião.

— Ah, pelo amor de Deus... — disse e entrou na casa.

Inácia daria tudo para ouvir aquela conversar, mas estava longe e vendo através de um portão.

Alana estudou fora por muito tempo, tinha ambições profissionais, por isso se mudaria para o interior de São Paulo. O cargo era muito bom, ela estava recém-formada, seria ótimo para sua carreira. Porém o que a fez se encantar mais ainda por Holambra foi o fato de estar em contato com André, um empresário com quem conversou depois de uma palestra que ele ministrou na faculdade, e se iniciaram um relacionamento.

— Você é muito talentosa, Alana. — Ele disse sorrindo.

— Obrigada, é uma honra ouvir isso do senhor.

— Por favor, não precisa me chamar de senhor. Tenho 38 anos não sou tão velho...

— Não, desculpa. Enfim, é uma honra. Você é referência pra gente.

— Já tem planos para depois do mestrado? Tenho um programa na minha empresa, acho que você gostaria...

— Meu sonho! Vou terminar o mestrado e vou voltar para o Rio de Janeiro, se eu me encaixar nesse programa passo lá só pra falar com a minha mãe... — disse sorrindo empolgada.

— Então fechado, vou te deixar meu contato e conversamos, mas antes você pode já dar início a inscrição. — avisou e acessou o sistema da empresa por um tablet.

Alana colocou todas as suas informações no sistema, deu um abraço no empresário e se despediu.

André se apaixonou por ela no segundo encontro deles, seis meses depois. Encontraram-se por acaso num congresso sobre botânica.

Encantado e se notando correspondido, ele a apresentou aos empresários presentes no local como sua futura subgerente da matriz de Holambra.

— Ela está entrando no nosso programa! — avisou sorrindo.

Alana o achou bonito, apesar de não ter pretensão de ter relacionamento com ninguém, se viu pensando nele.

Naquela mesma noite, depois de um jantar para o qual a convidou, ele a beijou e notou o nervosismo dela.

— Estou muito apaixonado por você! — disse no ouvido dela.

Passaram três dias em estado de graça, felicidade total. Passearam pela bela Genebra. Fizeram planos para o futuro e depois daquele dia, mantiveram um relacionamento virtual, pois ele tinha sua vida no Brasil e ela precisava terminar o mestrado na Suíça.

Falavam-se todos os dias. André sempre muito romântico não era raro quando mandava entregar flores e bombons para a amada.

O plano de André era apresentar Alana para sua família como noiva, pois pretendia se casar com ela. Não aguentava mais ficar separado dela.

— Eu vou passar uns dias no Rio com a minha família, rever os amigos e já vou para Holambra. — avisou a André por telefone na noite anterior à viagem de volta ao Brasil.

— Estou ansioso esperando. Morrendo de saudade. Muito tempo sem ver você! — disse carinhoso.

Alana sempre foi ciumenta, tentava não pensar no que André fazia no Brasil. Por mais que o empresário jurasse fidelidade e amor a ela, ela ficava reticente a acreditar naquilo.

— Relaxa, Alana, ele também não sabe o que você faz aqui. E logo você chega lá e começa de verdade esse namoro. — disse uma amiga.

Ansiosa, Alana passou uma semana com a família e reviu os amigos. Adorava Olivia, sua amiga de infância, passou a noite com a amiga que se despediu e viu a amiga pegar a estrada de manhã cedo.

Alana avisou a André que chegaria ao início da noite. Dirigiu por duas horas seguidas e resolveu parar em um restaurante para usar o banheiro e comer alguma coisa. Não notou a presença de Inácia, que dispensou o carro com o qual seguia Alana e entrou no local, olhou em volta e não viu a moça, resolveu procurá-la, mas ficar de olho em seu carro.

A jovem falava com a mãe quando saiu do banheiro.

— Tchau, mãe. Daqui a pouco eu ligo de novo! — avisou sorrindo. — E pegou o cardápio sobre o balcão.

Pediu um suco de laranja e pegou um pacote de biscoitos numa prateleira. Procurou uma mesa e tirou o tênis, sentiu o chão frio nos pés e comeu enquanto via uma notícia qualquer na TV.

Inácia a observava, disfarçada, usava um chapéu de couro, peruca e óculos, nem de muito perto lembrava a jovem. Pegou um energético e pagou para justificar sua entrada no local, pediu um copo descartável e colocou o líquido dentro quando viu Alana se preparando para sair.

Alana cantarolava uma música em francês. Abriu a porta de mola aérea hidráulica e ouviu a voz de Inácia:

— Você vai ser capaz de me deixar neste fim de mundo, Virgílio? — disse em lágrimas e esbarrou em Alana molhando-a com o líquido de seu copo.

AlanaWhere stories live. Discover now