– Eu sei, desculpe, só pensei na possibilidade. Bom, não que eu tenha alguma coisa contra, eu mesma não sou super hetero...

– Uou, o quê?!

– História pra outro dia, aqui, pode pentear o meu cabelo e fingir que eu não disse nada – eu disse sentindo meu rosto queimar enquanto entregava a escova para Henri que se esforçava para não cair na risada.

Virei de costas para ele para que ficasse mais fácil pentear aquele negócio que eu chamava de cabelo, mas pareceu não fazer diferença alguma, tudo parecia ser fácil para Henri. E, apesar de ter pegado chuva e não ter sequer passado os dedos naquilo no dia anterior, ele fazia parecer como se eu já tivesse desembaraçado e ainda encharcado com creme de pentear para ajudar.

Puxei os joelhos contra o peito e afundei o rosto entre os braços, me esforçando para não dormir. Era óbvio que eu estava cansada – exausta até, para falar a verdade – mas não queria dormir, me sentia culpada por saber que talvez Eliel não tivesse essa opção, que talvez estivesse sendo perseguido por algo e precisasse passar a noite escondido e em alerta...

Meus olhos começaram a arder e logo eu estava chorando de novo, meu peito doendo como se minhas costelas estivessem esmagando meu coração e meus pulmões.

– Ei, o que foi? – Ouvi Henri dizer enquanto parava e soltava meu cabelo.

– Não consigo não pensar no meu irmão, com certeza algo ruim deve ter acontecido com ele e eu só fico aqui como se nada estivesse...

– Vai ficar tudo bem – ele me interrompeu e se afastou para sentar na ponta do sofá, dando tapinhas em suas pernas. – Deite aqui, precisa se acalmar.

– É difícil acreditar nisso, desde que viemos morar aqui só coisas ruins estão acontecendo, sempre uma atrás da outra, e por mais que eu tente ajudar e arrumar toda essa porcaria parece que nunca faz diferença, às vezes eu queria voltar para Coldland – respondi quase sem fôlego por ter falado rápido demais e me deitei.

– Sua cidade natal?

– Da minha mãe na verdade, eu só morei lá por um tempinho, mas foi o melhor tempinho da minha vida apesar de ter sido quando ela resolveu que ia se casar com o pai do meu irmão.

– Ah, você e Eliel não são do mesmo pai? – Henri perguntou e apenas encolhi os ombros e neguei, imaginando que já havia lhe contado sobre o assunto.

– Não, o meu pai morreu quando eu ainda era bem pequena e...

– Você já me contou isso mas sei lá, imaginei que ele fosse pai do Eliel também – ele disse e ficamos em silêncio por um tempo.

Eu estava começando a perder o sono e meus olhos ardiam, não porque eu queria voltar a chorar ou algo do tipo, só pareciam estar queimando, então os fechei e me encolhi um pouco, estava começando a ficar com frio de novo.

– Você está com febre – Henri disse de repente, me dando um baita susto pelo fato de que eu já estava naquele meio termo entre dormindo e acordada.

– Não estou não, estou bem, só quero descansar para poder procurar o meu irmão amanhã – respondi com certa teimosia, afinal, eu me sentia ótima, não queria uma doença imaginaria me atrapalhando. – Vou dormir agora, tudo bem?

– Ok então, mas se acordar no meio da noite sentindo dor ou qualquer outra coisa sabe que pode falar comigo mesmo que eu esteja no décimo sono.

– Obrigada Henri, mas eu não sou um bebê – eu disse e ele riu, talvez desistindo de discutir comigo. – Boa noite, obrigada por ficar comigo hoje.

A Casa de BonecasWhere stories live. Discover now