28• Confession.

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"Se você viu o que não devia, seus olhos merecem ser arrancados."

             A morte é a nossa única certeza.

Eu sou aquele na terra que escolho aqueles que irão morrer precocemente.

Eu dito o dia, hora e a forma com que minhas vítima irão fazer a passagem.

A minha recompensa?

As súplicas de todas elas  para viverem.

As safiras esbugalhadas em minha direção, denunciavam a raiva eminente da loira. Suas orbes, se tivessem algum poder, estariam me cortando em mil pedaços no momento, entretanto, com toda sua fúria direcionada à mim, quem irá ser mutilado logo mais, não será eu.

— Vá embora! – diz, entre os dentes, um ato que me faz rir em deboche — Meu namorado está chegando.

Constata, tentando passar uma segurança para si mesmo.
Contudo, em seus olhos transbordando raiva, consigo identificar o sentimento na qual eu me alimento: o medo.

Eu gosto de tempo. Executar tudo nos mínimos detalhes com perfeição, é o que ainda me mantém em atividade.

Hoje, entretanto, tempo, é o que menos tenho.

— Seu namorado não vai chegar agora – digo calmamente —, nem os seus pais. – completo, vendo a loira expôr todo o seu pavor ao se encolher como um animal acuado.

Seus olhos brilham, percebo o seu esforço para não derramar nenhum líquido lacrimal empossado em suas orbes. As mãos em punhos ao lado do corpo tremem, numa reação explícita do perigo em sua frente.

Billie sabe que irá morrer.

Agora.

— O qu...quê você quer d-de mim? – murmura, com a voz embargada.

O choro estrangulando a sua garganta, mostra o quão orgulhosa a garota é. O esforço em não chorar em minha frente é palpável.

— O quê eu quero de você? – devolvo a pergunta, dando um passo à frente. Billie dá dois para trás. — Quero ouvir o que sabe de mim.

O pomo de adão de Billie sobe e desce, num engolir em seco. A garota hesita em dizer, mas antes que sua voz escorregue por seus lábios tremendo em temor, sei que será uma mentira.

— Eu não sei nada sobre você. – um soluço seco escapa de sua boca, ao proferir tais palavras mentirosas.

Conheço o comportamento humano tão bem, como a anatomia.

Não sou capaz de evitar que a raiva flua em minha veias. Sou movido por diversos sentimentos, mesmo que eu seja tão frio como a Alaska. A impulsividade faz com que a adrenalina em meu corpo impossibilite uma reação de defesa de Billie, com a minha agilidade rápida em agarrar o seu pescoço, prensando-a na parede mais próxima.

A loira se engasga ao tentar buscar ar. Não permito afrouxar o aperto, o que faz a pele do seu rosto pálido, ganhar um tom avermelhado.

— Pa-pare! – ouço-a grunhir. Uma lágrima escorre do canto de seu olho, marcando a sua passagem na ruborização da garota.

— Eu só vou parar quando for descoberto – respondo, numa insinuação à minha pessoa.

Mais uma lágrima escorrega.

— Eu já sei que você é o serial killer da cidade, Shawn. – mesmo com a sua voz sufocada, entendo muito bem as palavras proferidas com dificuldade.

Sorrio, após a sua confissão.

— Mas você não conta. Você já está morta!

🏙

Notícias ruins e fofocas chegam rápidos aos ouvidos das pessoas desta cidade, neste caso, contudo, a morte de Billie só fora assunto entre os moradores quase dois dias depois, uma vez que sua morte ocorreu na noite de sábado.

Inconsolável, após Aurora ter lhe dado a notícia em primeira mão, Emma lamenta, ao mesmo tempo não acreditando que sua amiga está morta.

Não obtenho nenhuma reação com o seu choro abafado em consequência de seu rosto estar enterrado em minha camiseta branca, contudo, deixo minha destra apoiado em suas costas.

Algumas pessoa também choram, mas nada comparado com Emma, entregue a dor em meus braços.

Eu não sinto nada. NADA.

— Eu não consigo acreditar que Cole era esse tempo todo o assassino – ouço Jimmy divagar incrédulo.

Nem eu consigo acreditar. Penso em dizer, mas guardo o comentário sarcástico para mim.

— Parece que o corpo foi encontrado mutilado no quarto dela mesmo – Mia relata, após chegar da sua busca de informações.

A mão de Emma antes grudada no pano da minha roupa, cai em minha coxa, como todo o resto do seu corpo desfalecido em cima de mim.

Paraliso.

— Ela desmaiou?? – indaga Jimmy, levando sua mão de encontro com a cabeça da garota caido em meu braço. — Ela desmaiou! – confirma horrorizado, após certificar nenhuma reação corporal de Emma.

Levo alguns segundos para entender que há uma pessoa desfalecida jogada sobre mim, e quando Mia grita por ajuda para todos no pátio da escola ouvir, oriento Jimmy a pegar Emma e leva-la até o carro.

Sinto o cheiro evidente da maconha na garota desmaiada, que tragava há uma hora atrás.

— Cara! Se não deixaram os alunos sair após a bomba que um aluno do colégio é o serial killer, você acha que vão deixar agora? – Jimmy pergunta, ajeitando melhor o corpo em seus braços. Alguns alunos se aproximam.

— Eles tem que permitir! – replica, Mia, irritada.

Um pequeno amontoado se forma em nossa volta, o que me deixa estressado.

Shawn! – olho para o meu lado, encontrando as orbes acastanhados de Hailey, totalmente opacos — Melhor levarem-na ao hospital. – constata, após entender de imediato o que se passa. Confirmo minimamente com a cabeça, voltando-me novamente para a garota em estado de choque.

Tudo passa, Emma. A morte é algo natural, mas se essa dor insistir, eu posso faze-la amenizar...E se a saudade ficar insuportável, eu te dou uma passagem só ida para você ficar eternamente com Billie no paraíso.

Ou inferno.

NOTAS DA AUTORA:
*Só lembrando à vocês que os pensamentos dos personagens não condiz com a minha.*

Quero recomendar alguns livros à vocês que eu li e amo! São os livros da souhamucek GALERA...! leiam "Ruídos de Saturno" e as outras estórias da minha amiga, que são maravilhosas. Sério! Entrem no perfil e se impressionem com cada livro.

Beijos, até a próxima.

Shawn The KillerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora