Capítulo IX - Episódio 32

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Derris esperou a tempestade sentado em seu quarto, bebendo vinho e observando através da grande janela que tinha a vista do horizonte, exatamente onde a grande nuvem negra começou a se destacar.

No primeiro dia, era um simples risco no céu. Um sinal de chuva tão comum em Porto das Pedras que ninguém daria atenção.

No segundo dia, a nuvem parecia ter avançado mais. Era comum uma nuvem assim chegar na cidade no fim da tarde, chover e sumir. Entretanto, essa crescia lentamente e não se dissipava. No fim do dia, raios atingiam o solo como se fossem carregados com uma energia infinita.

Hoje, a nuvem parecia maior e mais próxima. Ela já não parecia apenas uma nuvem, parecia água bruta palpável. Não precisava ser um vidente para entender que aquilo era uma coisa ruim.

E como as coisas ruins parecem se juntar para acontecer...

Foi com esse pensamento que levantou de sua cadeira decidido a fazer algo.

Em um canto de seu quarto, havia um manequim com sua armadura, que seu pai ordenou o melhor ferreiro de suas fábricas para fazer sob medida para o filho.

A armadura era linda. Com detalhes em todos os blocos de metal, possuía desenhos em alto relevo, com pequenas partes folheadas a ouro.

Vestiu-a sem se importar com o valor. Teve dificuldade de fazê-lo sozinho. Quando terminou, pegou seu escudo, sua espada e saiu porta afora, com o elmo pendurado na cintura.

Andou pelo salão principal de sua casa com a bota de metal estalando no chão, pedaços de parquete descolaram e voaram pelos ares. Em outros tempos, sua mãe gritaria e o reprimiria por isso. Até levaria uma surra por estragar o piso, mas hoje não era um dia que isso tivesse importância.

— Pai — disse, quando o encontrou conversando com o líder da companhia de mercenários que Ronald havia contratado. — Precisamos fugir de Porto das Pedras.

— Será difícil — disse Trebatius, o líder da companhia. Em outro tempo, a companhia tinha sido contratada para entrar na Vala e recuperar as supostas mercadorias. Agora, ele ganhava um dinheiro extra para proteger a família Bougherberg.

— Há coisas estranhas acontecendo, não? — Perguntou Derris, aos ventos, para incitar os demais a pensarem.

— O que você está falando? — Perguntou o pai, que coçava o bigode em sinal de apreensão.

— Digo — continuou Derris. — Primeiro, a frente da nossa casa foi atacada por homens vestidos de preto que se transformavam em sombras. Depois que eles recuaram, vieram os Terras-Ruins. Agora, Terras-Ruins lutam com civis. O que isso significa?

— Os civis pegaram armas — continuou Trebatius. — Agora, a aparição dos homens com capuz e facas envenenadas, achei um pouco estranho. Não sei o que esses Terras-Ruins andam fazendo. Essa magia não é conhecida por nós.

— São grupos diferentes — insistiu Derris. — Terras-Ruins não usam magia.

— Como não? E o que é essa coisa que dão a eles tanto poder? O tal "cospe fogo".

— É uma arma normal, como qualquer outra. Entretanto, um pouco mais forte.

— E como você sabe disso? — Perguntou o pai, ainda apreensivo.

Seria um ótimo momento para chutar o balde e contar tudo, mas Derris foi evasivo.

— Anita me mostrou um. Agora acredito que ela seja responsável por tudo o que está acontecendo.

Todos ficaram em silêncio, o que deu abertura para Derris insistir.

— Pai, insisto. Vamos sair da cidade. Leiza tinha me recomendado falar com você quando desconfiei que Anita estava fazendo algo errado. Devia ter acreditado nele.

A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das PedrasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora