Derris esperou a tempestade sentado em seu quarto, bebendo vinho e observando através da grande janela que tinha a vista do horizonte, exatamente onde a grande nuvem negra começou a se destacar.
No primeiro dia, era um simples risco no céu. Um sinal de chuva tão comum em Porto das Pedras que ninguém daria atenção.
No segundo dia, a nuvem parecia ter avançado mais. Era comum uma nuvem assim chegar na cidade no fim da tarde, chover e sumir. Entretanto, essa crescia lentamente e não se dissipava. No fim do dia, raios atingiam o solo como se fossem carregados com uma energia infinita.
Hoje, a nuvem parecia maior e mais próxima. Ela já não parecia apenas uma nuvem, parecia água bruta palpável. Não precisava ser um vidente para entender que aquilo era uma coisa ruim.
E como as coisas ruins parecem se juntar para acontecer...
Foi com esse pensamento que levantou de sua cadeira decidido a fazer algo.
Em um canto de seu quarto, havia um manequim com sua armadura, que seu pai ordenou o melhor ferreiro de suas fábricas para fazer sob medida para o filho.
A armadura era linda. Com detalhes em todos os blocos de metal, possuía desenhos em alto relevo, com pequenas partes folheadas a ouro.
Vestiu-a sem se importar com o valor. Teve dificuldade de fazê-lo sozinho. Quando terminou, pegou seu escudo, sua espada e saiu porta afora, com o elmo pendurado na cintura.
Andou pelo salão principal de sua casa com a bota de metal estalando no chão, pedaços de parquete descolaram e voaram pelos ares. Em outros tempos, sua mãe gritaria e o reprimiria por isso. Até levaria uma surra por estragar o piso, mas hoje não era um dia que isso tivesse importância.
— Pai — disse, quando o encontrou conversando com o líder da companhia de mercenários que Ronald havia contratado. — Precisamos fugir de Porto das Pedras.
— Será difícil — disse Trebatius, o líder da companhia. Em outro tempo, a companhia tinha sido contratada para entrar na Vala e recuperar as supostas mercadorias. Agora, ele ganhava um dinheiro extra para proteger a família Bougherberg.
— Há coisas estranhas acontecendo, não? — Perguntou Derris, aos ventos, para incitar os demais a pensarem.
— O que você está falando? — Perguntou o pai, que coçava o bigode em sinal de apreensão.
— Digo — continuou Derris. — Primeiro, a frente da nossa casa foi atacada por homens vestidos de preto que se transformavam em sombras. Depois que eles recuaram, vieram os Terras-Ruins. Agora, Terras-Ruins lutam com civis. O que isso significa?
— Os civis pegaram armas — continuou Trebatius. — Agora, a aparição dos homens com capuz e facas envenenadas, achei um pouco estranho. Não sei o que esses Terras-Ruins andam fazendo. Essa magia não é conhecida por nós.
— São grupos diferentes — insistiu Derris. — Terras-Ruins não usam magia.
— Como não? E o que é essa coisa que dão a eles tanto poder? O tal "cospe fogo".
— É uma arma normal, como qualquer outra. Entretanto, um pouco mais forte.
— E como você sabe disso? — Perguntou o pai, ainda apreensivo.
Seria um ótimo momento para chutar o balde e contar tudo, mas Derris foi evasivo.
— Anita me mostrou um. Agora acredito que ela seja responsável por tudo o que está acontecendo.
Todos ficaram em silêncio, o que deu abertura para Derris insistir.
— Pai, insisto. Vamos sair da cidade. Leiza tinha me recomendado falar com você quando desconfiei que Anita estava fazendo algo errado. Devia ter acreditado nele.
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A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das Pedras
FantasyHá mais de mil anos os Homens do Sol chegaram ao lugar onde hoje chamamos de Ethlon. A sua chegada foi marcante. Ethlon antes era conhecida por Terras Ruins. Um lugar destinado ao fracasso e que definhava cada vez mais. Os próprios habitantes dessa...