Capítulo V - Episódio 19

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Luan acordou no meio da noite, cansado e com dores no corpo. Era estranho estar se sentindo daquela maneira, pois tinha passado os últimos dias deitado, descansando. Talvez por isso sua coluna doesse.

Enquanto tentava dormir, ouvia pingos de algum encanamento que escorriam e acertavam o chão de pedra em algum lugar. Cada vez que fechava os olhos para tentar dormir, o som do pingo estourava em algum lugar e a acordava. Parecia que era capaz de ouvir o infinito. Seus ouvidos ficavam sensíveis e a gota parecia uma avalanche.

A cada gota seu corpo estremecia.

Já fazia alguns dias que Luan tinha melhorado o suficiente para voltar a caminhar sem dificuldade. Entretanto, tinha algo que o fazia continuar fingindo que estava mal. Ele sabia que a hora que tivesse que enfrentar sua mãe a coisa ficaria feia.

Desde que se queimou, não tomou mais café da manhã com seus pais e as conversas que tinham eram rasas. Em um momento ou outro, sua mãe iria querer conversar sobre o que aconteceu. E isso aconteceria quando ele estivesse melhor e como sempre, seria em um café da manhã.

Tentando esquecer sua mãe e o conflito que era inevitável, tentou dormir.

PLAC!

Cada pingo e uma raiva crescia ainda mais dentro de seu corpo.

PLAC!

Luan saiu da cama e andou pelo quarto devagar, sentindo a sola de seus pés sensíveis. Colocou o ouvido na parede para tentar encontrar o local de onde vinha o barulho dos pingos. Foi para seu banheiro privado, mas não encontrou nada lá. Olhou pela janela, mas lá fora o céu estava estrelado.

Deitou, se cobriu e fechou os olhos.

PLAC! PLAC!

A raiva cresceu ainda mais. Agora não era apenas o barulho infernal daquela goteira que não o deixava dormir. A raiva que sentia da situação, se não desaparecesse dali, não o deixaria dormir também.

PLAC! PLAC! PLAC!

Quase gritado no meio da madrugada, levantou, passou em silêncio pela porta e desceu para o andar de baixo.

Era madrugada e não havia ninguém pela casa. Andou até a sala, onde havia um velho sofá feito com tecido imperial e a biblioteca pessoal da família. Acendeu uma vela, pegou um livro e, deitado no sofá, leu até dormir.

Quando acordou, ouviu passos descendo a escada. A vela já havia se apagado ao seu lado e o Sol ainda não havia nascido, um pouco cedo para a hora do café. Seu pai ou sua mãe estariam descendo naquele momento.

Sentiu um frio profundo na barriga. O medo de enfrentar a mãe foi tão grande que Luan quase saltou para se esconder atrás do sofá.

Sua mãe surgiu no corredor e Luan fechou os olhos, fingindo dormir. Como a sala estava escura, talvez conseguisse enganá-la. Pela fresta do olho, Luan observou e esperou. Sua mãe que estava vestida com sua roupa de trabalho, o longo roupão vermelho dos Incineradores, olhou para ele e apenas sorriu. Depois desapareceu pela porta de saída da casa.

Aliviado, se levantou e voltou para seu quarto, mas na escada, encontrou seu pai.

— Luan — comentou ele, com cara de sono. — Que bom te ver em pé.

— Ah — respondeu assustado. — Desculpe pai, por tudo isso.

— Vamos tomar café — respondeu o pai, sorrindo. — Acordei com fome hoje.

Como era muito cedo, o governante ainda não havia preparado o café da manhã, então juntos, prepararam café e pão com doces. Se alimentaram e conversaram sobre diversos assuntos. Um dos acontecimentos mais emergentes era a fuga de Shidra Muhhab e as atividades intensificadas na Grande Vala.

A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das PedrasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora