XX

512 67 2
                                    


Esther olhou pela última vez aquele lindo e imenso mar enquanto a carruagem se distanciava

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Esther olhou pela última vez aquele lindo e imenso mar enquanto a carruagem se distanciava. Olhou a imensidão do verde da floresta que era banhada pelas águas cristalinas. Quantas vezes não tinha se refugiado ali para fugir da voz irritante de Matilda, dos gritos de sua madrasta ou simplesmente para chorar a saudade do pai e do irmão. Também saudade de uma mãe que nem conhecera, pois morrera no parto. E agora, aquele lugar que fora seu refúgio tantas vezes, estaria no passado. Ela estava de partida rumo ao desconhecido. 

Adquirira muitos amigos na pequena cidade de Angra dos Reis e os deixava para viver ao lado de duas pessoas que faziam de tudo para mostrar que ela era como uma hóspede inconveniente e desagradável. Por sorte, os escravos que o pai deixara eram seus amigos. Babu, um senhor que já mostrava que os anos de trabalho escravo lhe extirparam o vigor sempre lhe oferecia palavras doces e carinhos em seus cabelos. Nala, a boa senhora que sempre tinha uma palavra para animá-la e um colo a disposição. Esther não era a favor da escravidão, nunca fora, mas agradecia imensamente por ter Babu e Nala com ela, eram a família que a madrasta e a irmã postiça não representavam.

- Não vejo a hora de chegar à civilização. - disse Gestrudes, a madrasta. Esther revirou os olhos.

- O Rio de Janeiro é lindo, não é, mamãe? - perguntou Matilda com sua voz esganiçada.

- É lindo sim, meu bebê. Tu verás que terás um futuro lindo lá. E o nosso objetivo é um Alencar. - Esther continuava a revirar os olhos, mas as outras duas não viam, pois ela estava  virada para janela.

- Quantos Alencar são, mamãe?

Esther lembrou de quando era criança e morava numa fazenda vizinha à dos Alencar. Eram três meninos. Uma mais velho que se aproximava a idade de Manoel, o mais novo que era uns cinco anos mais velho que ela. Mas o pior de todos era o filho do meio. Ele simplesmente não a deixava em paz. Dez anos os separavam em idade, mas parecia que em questão de mentalidade, ele era bem mais jovem que Esther. Vivia importunando-a com sustos e brincadeiras irritantes, além de não deixar suas tranças em paz. Puxava-lhe o cabelo e como era mais velho, ela nunca conseguia revidar.

- Não, meu amor. - voltou Esther de seus pensamentos. - Há três irmãos Alencar.

- Mas se todos já forem casados, mamãe? - prosseguiu Matilda com aquela voz insportável.

- Tenho certeza que não, Matilda. - falou sem muita paciência. - Joaquim Alencar foi a quem escrevi a carta. Tem o do meio que se chama Bento e o mais novo, Fernando. Mas meu sexto sentido me diz que nosso foco será Bento Alencar.

Uma raiva sem explicação cresceu dentro de Esther, então sem se conter, despejou o que acava.

- Se querias arrumar um bom casamento para Matilda, não precisávamos ter saído de Angra dos Reis. Há muitos bons partidos lá.

Era uma vez... Os Alencar (FINALIZADO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora