Orgulho Masculino

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A vida é um sopro. Por mais todos soubessem da verdade absoluta, ninguém se preocupava com isso. Seria piegas dizer que a morte era mais triste quando atingia alguém tão jovem que poderia ter um futuro tão longo pela frente, mas era exatamente isso.

A nota no jornal informava o falecimento de Eduardo Mesquita, um rapaz que trabalhava em uma Agência de Talentos e cursava teatro. Uma morte bastante precoce. Uma vida interrompida por um descuido no trânsito, como tantos que aconteciam diariamente no mundo.

Ele havia pegado o carro que uma amiga e colega de trabalho dirigia. Estava tudo normal no começo, até que um descuido da motorista fez com que o carro atravessasse o sinal vermelho. No mesmo momento em que um motorista alcoolizado cruzava a rua em alta velocidade destruindo os dois carros. Nenhum dos envolvidos sobreviveu. E no caso de Dudu foi morte imediata, já que não usava o cinto de segurança na ocasião.

Uma fatalidade, e como todas, inesperada. Pegou de surpresa quem conhecia o garoto, que só restou a eles lamentá-lo pelo ocorrido com o jovem. Thiago, mais que os outros, ficou triste por ele. Gostava daquele rapaz, e sempre escutava seus planos para ser ator no futuro. Não conseguia acreditar que ele se foi.

Como era seu ficante, e a pessoa mais próxima em seus últimos momentos, o DJ sentiu-se na obrigação de comparecer ao velório. Isso aconteceu dois dias depois. Quando entrou, impressionou-se com a quantidade de gente que estava lá. Todos eles de seus círculos sociais, trabalho. Coroas de flores da Agência e da Escola de Teatro eram vistas em uma das paredes.

O caixão estava fechado, não aceitaram abrir devido a tudo o que aconteceu. Seria um desrespeito à memória. A família estava próxima dele. Os pais abraçados e se consolando. Todos tristes, perguntando o que havia acontecido. Tentando entender porque alguém tão novo pudesse ter um fim tão repentino.

O DJ evitou se aproximar do caixão, que era a parte mais aglomerada. Ficou uns dois metros de distância, observando parado em pé, e com as mãos juntas à frente. Estava com uma camiseta preta simplória, não usava acessórios e nem nada parecido. Apenas um par de óculos escuros que amenizava, não só as olheiras, mas a aparência do rosto marcada por pequenas escoriações e hematomas. Aquela noite deixou marcas.

Ele realmente não gostava de ir à velórios, ninguém gostava. Seu desejo era de ficar ali por pouco tempo, mas sentiu que isso seria uma falta de consideração. Olhava fixo à sua frente, os óculos escondiam as lágrimas que ameaçavam cair do rosto. Sua postura era bem ereta, assim como o homem que se aproximava ao seu lado sem ele perceber.

Com os braços cruzados para trás, Mika também estava de óculos escuros. Também escondia as marcas de outrora. Usava uma jaqueta preta sobre uma camiseta simples também preta. Ele pensou muito se deveria ir ou não àquele velório, mesmo depois de tudo o que Dudu falou naquela festa. Mas mesmo assim, sentiu empatia e foi. Apesar dos pesares, ele não merecia essa tragédia.

Thiago olhava para Mika, e depois Mika olhava para Thiago. Os dois um do lado do outro, sérios e calados. Nenhum deles se atrevia a dizer uma palavra sequer. Ainda faltava coragem para dizer qualquer coisa. Sentiam-se envergonhados por tudo o que aconteceu. Lamuriavam-se pelas atitudes, pelo que se tornaram. Não sabiam o que fazer para contornar aquela situação angustiante e triste. Uma pontinha de orgulho masculino fazia ambos se afastarem em espírito, dificultando as coisas.

Não era fácil estarem naquele enterro. E menos fácil era estarem juntos no mesmo lugar.

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A semana foi seguindo normalmente, mesmo com Mika tendo a impressão de que ela passava lentamente. Sobreviver àqueles dias não foi tão fácil quanto parecia ser. Continuava afastado de seu trabalho na Agência, sem ter certeza nenhuma sobre seu futuro. Para alguém que sempre gostava de ser sempre produtivo, ficar sem fazer nada era uma verdadeira tortura.

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