Amizade Com Algo a Mais 2

Porrada

No dia seguinte, Mika ficava tenso estava sentado naquela sala cheia de armários e troféus. Sua cabeça estava baixa, ombros caídos, estava em frangalhos. O redator publicitário já se sentia um completo derrotado, em um corredor polonês esperando por sua execução.

Diferente do dono da agência à sua frente. Um homem magro e alto, com seus cinquenta anos e cabelos grisalhos. Vestia um blazer preto e calça jeans, para mostrar o quanto era jovem e descolado. Mas seu modo de administrar a empresa era o mais tradicional possível. Enrolava, mexia os papéis tranquilo como uma velhinha regando uma planta. Até que terminou, cruzou as mãos na mesa e olhou para ele.

- Então, Mikael. Acredito que sabe a gravidade dessa história toda.

- Sei sim. Mas eu já falei que eu nem sabia que estava sendo gravado.

- Acredito, você foi uma vítima. Mesmo assim, você estava lá, praticando o ato. É o seu rosto, o seu nome e o da empresa que estão envolvidos. É a única coisa que interessa.

- Eu jamais colocaria em risco o meu trabalho.

- Mas colocou. O seu mas o de todos aqui da KL. Felizmente até agora nenhum de nossos clientes ou a imprensa está sabendo desse escândalo. O mais sensato a fazer seria eu te demitir por justa causa.

Mika ficou quieto. Vulnerável e apequenado, ele já esperava ouvir essa frase. Mas o patrão continuou.

- Mas não farei.

- Não? - Perguntou levantando a cabeça.

- Apesar do erro, você é um dos publicitários mais produtivos da KL. Fez coisas incríveis aqui. - Sorriu fraco.

- Só faço o meu trabalho.

- Por isso que te demitir não vai ser bom. Senão, pode ser que não trabalhe mais em agência nenhuma. Por digo para você pegar suas coisas e sair do prédio ainda hoje.

- O que? - Perguntou sem entender nada.

- Calma. Eu disse que não vou te demitir. Mas vou ter que te dar um tempo.

- Tô sendo afastado?

- Sim. Mas fique tranquilo que não ficará sem receber.

- Mas por quanto tempo?

- Ainda não sei. Até ninguém mais tocar nesse assunto. Pornografia existe em todo lugar na internet, todo dia tem alguém novo fazendo sacanagem. Daqui a pouco aparece algum coitado e ninguém mais vai lembrar de você.

- Com todo o respeito, eu amo fazer o que eu faço. E amo trabalhar aqui. Se eu não posso fazer isso, não sei o que vai ser de mim.

- Compreendo sua dedicação e me identifico muito com isso. Mas... pensa pelo lado positivo. Você vai ter tempo para descansar, tirar uma soneca. - Riu fraco.

O patrão tentava confortar Mika com aquelas palavras. Mas aquilo e nada era a mesma coisa.

- Vá para casa e descansa. Quando for pra você voltar nós avisamos.

Mika engoliu seco tudo, agradeceu e pediu licença para sair. Era um verdadeiro pesadelo estar afastado por tempo indeterminado de suas funções. Sentia como se lhe dessem uma porrada. Estava sendo responsabilizado por um ato que ele não tinha controle.

Restou-lhe passar pela humilhação de andar pelo prédio com uma ridícula caixa de papelão. Guardava um a um os seus pertences que estava na mesa e colocando dentro dela. Já sentia-se na rua. Dar um tempo era só um pretexto para que a dispensa fosse menos traumática.

Enquanto arrumava tudo, completamente triste, Verônica se aproximou com sua postura ereta.

- Mikael. - Disse se aproximando dele.