Enquanto a Poeira não Abaixa

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Foram alguns minutos de espera que valeram a pena. Um ritual que Nick fazia todo sábado e não se queixava, na maioria das vezes. Era tanto tempo que ele esperava todos os amigos do futebol usarem o vestiário e saírem para que ele pudesse ir, que inevitavelmente acabava se acostumando com isso.

O ato era o mesmo sempre. Ficava aguardando do lado de fora. até ver que todos haviam terminado de se arrumar e saído do vestiário. Assim, o lugar ficava vazio para ele tomar banho e se vestir tranquilamente. Pois infelizmente o tempo ainda não foi o suficiente para ele se sentir totalmente seguro em se despir e se trocar na frente dos amigos que sabiam quem ele era. Ainda tinha medo.

Perto da arquibancada, constatou que todos já foram. E foi direto para o vestiário. E como sempre encontrou o mesmo todo úmido, cheirando a desodorante barato e com chuveiros pingando. Fazia parte, não podia reclamar. E nem iria mesmo. Rapidamente foi até o seu armário e pegou sua mochila. A primeira coisa que fez foi tirar a camisa do seu uniforme de jogador, que toda suada, foi guardada.

Poderia se dizer que Nick tinha um torso muito bonito. Sua musculatura era quase definida. Não tinha um volumoso peitoral, mas um leve tanquinho no abdomen. Seus braços fortes deixavam seus ombros mais largos. Seus braços eram peludos, assim como sua barriga na região do umbigo. O que dava a aparência viril que ele tanto se identificava.

Tinha uma relação de amor e ódio com as duas cicatrizes avermelhadas abaixo de seu peitoral. Por mais que aquelas marcas lhe incomodassem um pouco ao se olhar no espelho, elas faziam lembrar um passado conturbado, momento de lutas e conquistas que o fizeram chegar até ali, até aquela identidade que era dele.

Entrou tão rapidamente, e distraído, que só percebeu que um chuveiro estava aberto quando estava descamisado. Nem todos haviam saído do vestiário. O que gerou uma preocupação imediata, afinal não sabia quem estava lá. Largou a mochila e foi andando vagarosamente vagarosamente, até que parou quando escutou a ducha ser fechada.

— Tem alguém aí?

Não escutou nenhuma voz de resposta. Apenas os pingos da água. Esperou mais alguns segundos e perguntou novamente em um tom um pouco mais alto.

— Oi? Tem alguém aí?

E novamente mais silêncio. Já estava nervoso só de pensar que poderia encontrar alguém indesejado. Mas essa preocupação se desfez segundos depois quando o rapaz que havia acabado de tomar banho apareceu em frente à ele.

— Que foi, cara? — Perguntou Mikael.

Vestido unicamente com uma toalha enrolada em sua cintura, Mika estava com seu corpo levemente molhado. Não teve nem tempo de se secar direito, pois quando ouviu alguém perguntar foi logo saindo para ver quem era.

— Nossa, que susto Mika. Achei que era alguém.

— E é, sou eu.

— Sim, mas eu achei que fosse outra pessoa.

— Ah, entendi.

— Achei que tinha ido embora.

— Era pra eu ter ido embora antes. Mas você sabe, tava tendo briga pra ver quem usava o chuveiro primeiro. Aí tive que esperar sentado.

— Ah, tudo bem então.

Com tudo esclarecido, Nick virou as costas e foi terminar de se despir. Mas antes que isso acontecesse, Mika chamou a atenção.

— Nick, espera.

— O que foi? — Perguntou se virando para ele.

— É que eu queria falar com você.

Amizade Com Algo a Mais 2Where stories live. Discover now