A Forra

91 7 6
                                    

Enquanto muitos no domingo só acordam quase pela hora do almoço, Thiago já estava acordado desde às sete. A disciplina que ele tinha para com horários e a disposição logo no começo do dia chegava a ser assustadores. E em apenas duas horas, foi capaz de fazer de um tudo. Tomar café, caminhar pela rua, passar no supermercado, arrumar seu quarto, dentre outras coisas. Nenhum minuto era desperdiçado.

Quando voltou para o apartamento, de sua última saidinha, estava vestido como sempre se vestia nos domingos. Uma bermuda bege, regata branca simples e tênis de corrida pois sempre aproveitava o momento para andar e fazer exercícios. Trazia consigo uma sacola de pano sustentável onde estavam algumas comidas orgânicas que ele adorava comprar.

Enquanto chegava à cozinha, já imaginava que seu colega de apartamento ainda estivesse dormindo e roncando como se não tivesse mais nada para fazer na vida. Considerava-o um verdadeiro preguiçoso. Foi quando estava com a geladeira aberta que ouviu alguns barulhos vindos do quarto. Era ele que tinha acabado de acordar. Praguejou mentalmente achando que sua paz naquele dia acabaria por isso.

À princípio, fingiu indiferença. Ouviu Mikael indo em direção ao banheiro e escutou o barulho da descarga e da torneira da pia. Depois o mesmo atravessou o corredor que separava os quartos, andando lentamente sem se preocupar com nada. Thiago viu-o passando, estava como veio ao mundo. Sem nenhuma vergonha de estar nu em seu próprio lar.

— Nossa, que bonito. Já tá andando pelado pela casa. — Thiago ironizou — Tem vergonha, não?

— Olha só quem fala. — Mika rebateu a ironia com a voz ainda grossa e sonolenta.

Thiago não falou nada, continuou o que estava fazendo. Mika foi para o quarto botar qualquer roupa e chegou à cozinha. Ele vestia apenas um shorts preto, não estava preocupado com os achismos do tatuado.

— Eu já fiz o meu café da manhã e arrumei tudo. Se quiser alguma coisa, que se vire. — Anunciou Thiago.

— Ótimo. Não preciso de babá.

Após mais uma resposta curta, Mika foi para trás do balcão pegar uma xícara de café. Do outro lado estava Thiago, que de tão preocupado não percebeu que ele estava por perto. Ou melhor, não notou que ele estava um pouco diferente. A barba negra ainda estava em seu rosto, mas a cabeleira não. Sua cabeça estava raspada, aparecendo apenas a raiz. A única parte que restou dos fios tirados na máquina zero.

E Thiago acabou levando um susto ao vê-lo assim.

— Porra! O que você fez com o seu cabelo?!

— Não tá vendo, não?! — Disse pegando a garrafa térmica.

— Lógico que tô. Tô perguntando porque você raspou a cabeça.

— Eu quis.

— Ah, claro. Tá querendo bancar o durão, né?

— Isso é você quem tá dizendo.

— Se quer aparecer, uma melancia no pescoço seria mais fácil.

— Tudo tem a ver com aparecer pra você. Deve achar que as pessoas se resumem a isso.

— Não. Só acho isso das pessoas que agem como crianças.

— Então deve achar isso de si mesmo. Porque pra vir implicar comigo porque eu raspei a cabeça...

— Tô cagando pra isso, se quer saber.

— Ótimo.

Assim que colocou o café em sua xícara, Mika sentou-se no banco em frente ao balcão. O mesmo que Thiago usava para organizar as saladas que tinha comprado. Era um móvel pequeno demais para os dois usarem ao mesmo tempo. Mas o barbudo continuava quieto e firme tomando seu café. Olhava para o colega de maneira séria, porém seu novo visual o deixava mais intimidador. Uma verdadeira "cara de mau". Isso incomodou o tatuado.

Amizade Com Algo a Mais 2Onde histórias criam vida. Descubra agora