Vem cá, entra aqui, sente o cheiro de pus das minhas feridas antigas novas que não cicatrizam.
Porque são re-feridas a cada momento.
Também porque, às vezes, falta recurso, material pra fazer a assepsia e tratamento.
E porque, volta e meia, tenho que escondê-las, cobri-las, mimetizá-las pra me proteger.
Isso pode abafar o tecido e atrapalhar a cicatrização, promover a proliferação bacteriana e resultar em pus e maus odores.
Fedor da vida que machuca.
Vida machuca?
Gente machuca.
E se não deixo?
Se me adianto, me fortaleço, estudo a situação e me posiciono de forma estratégica?
É uma alternativa.
Mas enquanto tento, vem cá, entra aqui e vem ver minhas feridas fedidas, ver o pus que sai delas, sentir o cheiro desagradável que exala.
Vida não é só perfume.
Perfume na lixeira, poeira pra baixo do tapete, máscara na cara, às vezes pode até ser útil, necessário - aprendi.
Mas não quero me esconder mais.
Então, vem cá, entra aqui, olha que feio, fedido, desagradável.
Sou eu, minha vida.
As belezuras que você vê por aí, são reais? São o único lado da moeda?
ESTÁ A LER
Pensando a vida
Non-FictionDesde a adolescência, a escrita tem sido uma grande válvula de escape, uma forma de me perceber e me organizar mentalmente. ...As idéias surgirão por aqui como surgem as reflexões ao longo da vida: aos poucos, como eternos rascunhos, sendo aprofunda...