Na selva das relações...

12 3 2
                                    

Doeu.

E agora?

Faço o quê?

Machucada pela mesma pessoa, da mesma maneira, no mesmo local de sempre.

De sempre.

E sempre.

Até quando??!?

Monja Coen diz que tudo é transitório - o que era ontem pode não ser amanhã.

E se for, de novo, amanhã?

Ela diz também que é preciso reconhecer que, quem agride, é uma pessoa que não está nada bem.

Que não há um eu a ser atingido.

Que essas pessoas são nossos professores.

Gasshô.

Mas que, também, manter distância é saudável.

Ir à esquina, à padaria, ao banheiro, quando o outro surtar.

Às vezes, o que é dito é tão pouco...

Às vezes nem são palavras rudes, agressões em si.

Mas a energia pesada, esmagadora, acuadora da abordagem não te deixa dúvidas.

Te oprime e te aperta até o chão.

Além do chão.

No subterrâneo da crueldade humana.

Ou da simples falta de sensibilidade e do olhar raso sobre mim, que me cobra e julga sem levar em conta minha inteireza e o peso do ambiente sobre o fracasso de minha vida.

Doeu.

De novo.

Mais uma vez.

Fazia tempo que não acontecia.

Frestinha da porta esquecida aberta, descuido na vigilância, do estar sempre de sentinela, de olho nos mínimos movimentos do predador...

E ele mostra os dentes, as garras, avança um pouco, aproveitando o campo aberto.

Mira.

Ruge.

Ruge mais uma vez.

E outra.

E outra.

Insiste na ronda, na abordagem, no assédio...

Roça as garras e tira sangue de mim.

Outra vez.

Ruge.

E ruge.

Em tempo, me protejo.

Ele recua. Cheio de si, esperando a próxima oportunidade, sedento de meu sangue.

Retomo minha estratégia, fruto de muito estudo e observação.

A situação se acalma.

Dentro de mim, não.

Até quando?

Pensando a vidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora