Visão de Draco Malfoy: Estraguei tudo... Mais uma vez

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O garotinho pulou para os braços do Weasley em um rompante e tive poucos segundos para agarrar a vassoura antes que ela desgovernasse. Mase mal conseguia respirar. Ele puxava o ar com força para tentar falar, mas engasgava em seguida, tamanho seu nervosismo.

- O que aconteceu? - Ronald colocou-o de pé, tentando soar calmo e tranquilizador.

Mase tentou responder e mais uma vez começou a tossir antes que as palavras pudessem sair de sua boca.

- Você está machucado? - perguntei, passando a mão por seus cabelos emaranhados e me abaixando para ficar da altura dele.

Ele negou com a cabeça.

- Ótimo. - Weasley se adiantou a mim. - Onde você estava?

Ele apontou para trás, para o horizonte. O que não foi de muita ajuda.

- Hermione estava com você? - tentei.

Senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem assim que Mase balançou a cabeça positivamente. Quando pronunciei o nome de Derick e a criança se encolheu, confirmando mais uma vez, meu coração parou de bater. Assisti Ronald Weasley engasgar, enquanto suas orelhas ficavam vermelho escarlate e os músculos de suas costas se retesavam, provando que eu tinha mais coisas em comum com ele do que jamais iria admitir.

- Tem dezenas de aurores aqui. - desdenhei, em uma péssima imitação da voz arrastada e enfadonha dele. Mais para extravasar minha frustração do que para provocá-lo.

- Ok, Malfoy. Eu estraguei tudo. Satisfeito? - ele gritou levantando os braços em sinal de rendição. - Esse é o enredo da minha vida. Eu estrago todas as coisas boas que, por milagre, acontecem comigo, afasto as pessoas, destruo meus relacionamentos. Não devia mesmo ter confiado em mim pra cuidar dela. - o tom de voz era mais brando, mas continuava carregado de amargura. - Fracassei nisso mais vezes do que posso me lembrar.

Mase nos encarava de baixo para cima, ainda muito assustado. Seus olhinhos brilhavam com as lágrimas que ele tentava não deixar cair. Dava para ver que ele estava fazendo um esforço enorme para se manter inteiro. Sem saber o que, ou como fazer aquilo, peguei-o no colo. Ele imediatamente passou os braços ao redor do meu pescoço e se agarrou a mim com toda a força, finalmente, permitindo-se ser o que era - uma criança com medo. Senti um enorme nó se formar na minha garganta.

- Pare de sentir pena de si mesmo, Weasley. - minha voz saiu um pouco engasgada, mais rouca que o normal.

- Eu estraguei tudo... mais uma vez. - ele resmungou.

- Por Merlin! O que está feito, está feito. Será que pode parar de resmungar e se concentrar em me ajudar?

Ronald me encarou com sua carranca desprovida de emoção, tentando decidir se havia escutado aquelas palavras de verdade ou apenas imaginado tudo. Voltei-me para a criança no meu colo, odiando a mim mesmo pelo que ia ter que fazer.

- Acha que pode nos mostrar onde você e Hermione estavam?

- Não pode levá-lo de volta pra lá! - Ronald protestou.

- Gosto da ideia tanto quando você. - admiti.

Vi a determinação faiscar por baixo do medo, tornando-se mais forte a cada respiração dele. Então, após algum tempo concentrado nas tramas do meu suéter, Mase me encarou decidido e balançou a cabeça de forma positiva.

- Quero... quero ir. - finalmente, falou.

Naquele momento, experimentei um novo tipo de sentimento. Nunca me dei muito bem com crianças. Sempre achei os alunos do primeiro ano demasiado barulhentos e irritantes. Mas assistir aquele pequeno ser nos meus braços lutar com todas as suas forças contra o temor, e moldá-lo em um tipo de coragem que poucas pessoas adultas possuíam, despertou em mim uma afeição que eu não sabia que tinha: a vontade de proteger e cuidar, de ser o porto seguro que ele tanto precisava, a pessoa a quem ele quereria recorrer a qualquer instante, diante de qualquer problema.

Side Effect (Dramione)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora