As corujas negras

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Acordei e o dormitório já estava vazio. Droga!, pensei. Queria conversar com Gina, contar o que aconteceu. Não acreditava que Harry tinha emprestado a capa da invisibilidade para Ron depois de prometer me ajudar a acertar as coisas. Aquela era a pior maneira possível de fazer isso. Eu precisava falar com ele.

Harry e Gina... eles são tão complementares! Sorri enquanto avaliava o relacionamento de meus melhores amigos. Podia falar sobre quase tudo com Harry, o que não podia, conversava com Gina. Por que as coisas entre eu e Ron não podiam ser mais simples, mais tranquilas, como eram entre Harry e Gina? Por que Ronald não podia confiar em mim como Harry confiava em Gina? Por que não podíamos falar tudo um para o outro como faziam Harry e Gina?

– Ah, certo! Porque Ronald tem o emocional equivalente a uma colher de chá! – pensei em voz alta.

– Não seja tão má com meu irmão, ok? Uma colher de chá? Ele já melhorou bastante vai, Mione. Acho que agora podemos compará-lo a um garfo ou uma colher de sopa – Gina riu.

Eu sequer percebi que tinha chegado ao salão comunal até ela responder meus devaneios.

– Posso saber o que ele fez dessa vez? – perguntou Harry.

– Quer dizer o que vocês fizeram, né Harry Potter? – respondi zangada. – Por que emprestou a capa da invisibilidade para que ele espionasse minha ronda com Malfoy? Você disse que ia ajudar a consertar as coisas.

– Eu não emprestei. – ele disse, sincero. – O que foi que aconteceu, afinal de contas?

Contei tudo a eles enquanto descíamos para o café: sobre os barulhos, a porta batendo, como vi Ronald adentrar o salão comunal, logo depois de mim, bufando de raiva e com a capa na mão. Não omiti nada, nem o abraço, nem os beijos na testa que recebi de Malfoy. Quando terminei, Harry exibia uma careta preocupada e Gina mordia o lábio inferior para não rir.

– E eu que achei que as coisas estavam começando a se resolver. – Harry falou por fim.

Gina e eu estávamos por fora de alguma coisa.

– Ontem a noite ele veio me pedir desculpas pelo que disse na plataforma. Falou que se arrependia de ter tentado estuporar Malfoy, apesar de ter deixado bem claro que não sente nenhum remorso pelo soco. Ron está preocupado com você andando pelo castelo durante a noite na companhia dele...

– E? – eu sabia que havia mais uma parte.

– E eu também estou, Mione. Quer dizer, ele é Draco Malfoy. - Harry disse aquilo como se ali, naquele nome, estivessem implícitos todo o tipo de coisas ruins. – Eu quero muito acreditar que ele está arrependido. Mas, ninguém muda tanto tão rápido. Aposto minha varinha como ele sabia que Ron estava lá ontem à noite, por isso agiu daquela maneira.

– Ok. – levantei as mãos em sinal de desistência. – Vou manter um pé atrás com ele, pode deixar. Mas sei me defender sozinha. E em se tratando de nós três, é de mim que ele tem mais medo.

– Sabe, Mione, até aquele dia, eu nunca imaginei que uma garota pudesse dar um soco tão bom.

Explodimos em gargalhadas. Entramos no salão principal ainda rindo e algumas pessoas começaram a olhar para nós. Não me importei. Depois de tantos anos ao lado de Harry eu já tinha me acostumado com as encaradas e fofocas.

– Ei, o que é tão engraçado? Eu também quero rir! – Neville protestou.

– Estávamos nos lembrando do cruzado de direita que Mione deu em Malfoy no terceiro ano. – Gina respondeu ainda rindo.

– Como é que eu nunca soube disso? – ele estava sorrindo ao mesmo tempo orgulhoso e frustrado.

– Aquilo foi quase tão bom quanto o que eu dei nele dois dias atrás. – Ronald parecia ter adquirido o dom de estragar os momentos divertidos. – Ah, isso me lembra que a quase morte de Bicuço também foi culpa dele. Mais um para a minha lista. – as risadas na mesa morreram definitivamente. Esperei por alguma menção ou repreensão ao que ele supostamente viu ontem à noite, mas ela não aconteceu.

Side Effect (Dramione)Where stories live. Discover now