Sotaque francês

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- Acho que a nevasca afugentou os candidatos. - Neville constatou o óbvio, esfregando as mãos enluvadas uma na outra.

- Não dá para culpar eles. - respondi puxando o cachecol sobre o nariz. Eu estava o mais próxima de Draco que a educação permitia, encolhida debaixo do braço protetor dele e ainda sentia frio.

A neve havia chegado de repente, durante a madrugada, congelando o Lago Negro e colorindo de branco o gramado ao redor do Monumento da Guerra, as árvores da Floresta Proibida ou qualquer mínima superfície exposta. O frio parecia ter se agarrado às paredes de pedra do castelo, infiltrando-se pelos corredores e fazendo seus ossos doerem se você ficasse tempo demais andando por eles. O que fez McGonagall suspender as rondas noturnas. O espaço diretamente em frente a lareira era o mais disputado do salão comunal e foi necessário muita força de vontade para que eu mesma não ficasse por lá em vez de ir a cidade.

Em Hogsmade, não era diferente. O Três Vassouras estava apinhado. Cada vez que o sino acima da porta tocava, o som vinha acompanhado de uma lufada de ar gelado. Mesmo a grande lareira do salão de Madame Rosmerta não era suficiente para tanta gente. do lado de fora a neve caía sem dó, afugentando as pessoas das ruas brancas e escorregadias. Fazia quase 40 minutos que estávamos sentados na mesa mais ao fundo do bar, tentando não congelar e esperando pelos candidatos, ou candidatas, mas ninguém havia aparecido ainda.

Levei minha terceira caneca de chocolate quente aos lábios, na esperança de que o líquido pudesse diminuir minha sensação de enrijecimento. Estava concentrada na tarefa de bebericar o chocolate fumegante sem queimar minha língua, quando escutei Gina ralhar.

- Eu vi isso, Harry Potter. Você também, Malfoy.

Levantei os olhos da caneca, procurando pela razão da bronca de Gina. Mas a primeira coisa que notei foi um perfume, uma fragrância doce, que fez cócegas no meu nariz. Não era ruim, mas o ambiente estava lotado e quando a garota se aproximou da mesa, o cheiro agitou consideravelmente meu estômago.

- Desculpe. - o timbre era suave e calmo, muito parecido com o de Luna. Mas havia algo estranho com som de suas palavras. - A nevasca acabou me atrrasando.

Pisquei para a recém chegada, apenas um par de olhos muito azuis e um pedaço de nariz vermelho de frio apareciam em meio ao sobretudo preto, salpicado de neve, às pesadas botas para neve, às luvas, ao cachecol, aos abafadores de orelha e à boina.

- Engraçado, nós chegamos na hora. - Gina respondeu.

Os poucos pedaços de pele da garota que apareciam sob as camadas de proteção ficaram ainda mais vermelhos e Harry cutucou a noiva com o cotovelo, repreendendo-a pela resposta atravessada, antes dele mesmo responder.

- É compreensível.

- Confesso que quando li no jorrnal que os responsáveis pelo Instituto Lilian Potterr estavam prrocurando porr um assistente não imaginei encontrrarr Harry Potterr e Herrmione Grangerr em pessoa. Isso é incrrível... e assustadorr.

Primeiro achei que era apenas por causa do cachecol, que estava abafando as palavras. Mas ela, na verdade, tinha um forte sotaque francês.

- E você é?! - Gina cruzou os braços, inclinando-se sobre a mesa e olhando diretamente nos olhos da garota.

- Oh... Desculpe. - ela puxou o cachecol do rosto, revelando lábios finos e bem desenhados e um pouco do cabelo, que parecia ser escuro como a noite, antes de estender a mão para Gina. - René Delacour, senhorrita. Weasley.

- Delacour? - o rosto da ruiva era pura descrença enquanto ela apertava a mão da moça. - Como a minha cunhada?

- Meu pai e o pai de Fleur Delacour são prrimos, o que nos faz prrimas distantes. Não tivemos muito contato durrante a infância, mesmo em Beauxbatons. Serria estrranho se ela tivesse falado de mim, não o contrrário.

Side Effect (Dramione)Where stories live. Discover now