Só queria um ano comum

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Mesmo depois de tudo o que ele havia dito e feito, ainda assim eu me senti uma traidora quando apontei a varinha para Ronald. Minhas mãos estavam geladas e tremiam loucamente. O sangue pulsava tão alto nos meus ouvidos, que eu estava tendo problemas para me concentrar. E eu precisava de toda a concentração que conseguisse ou ele acabaria um como um vegetal em uma das camas do St. Mungus. Queria que ele esquecesse apenas o dia de hoje, se possível, só os desagradáveis últimos dez minutos, nada mais. Mas ainda assim...

Draco não disse nada, apenas limpou nós dois o melhor que pode, mas eu tinha certeza de que ainda estava horrível. Porque eu me sentia horrível. Para piorar, nada no mundo parecia capaz de fazer meu joelho parar de sangrar. O loiro e eu nos revezamos em tentativas e ele usou até mesmo um encantamento que eu não conhecia, "Vulnera Sanentur". Aparentemente as duas palavras precisavam ser cantadas, como um mantra. Draco as repetiu até que nós dois perdêssemos a paciência e quando ficou claro que não iria adiantar e que eu não conseguiria andar, ele passou o braço com cuidado sob as minhas pernas e me levantou no colo. Assim que chegamos à escadaria de entrada pedi que ele parasse e desfiz o encanto de Ronald. Deixá-lo para trás sem memória já era suficiente, o ruivo não precisava continuar petrificado.

- Por Merlin, o que foi que aconteceu dessa vez?

Madame Pomfrey parecia não acreditar no que estava vendo. Draco me colocou em uma das camas e vi o rastro de sangue que havia deixado pelo caminho. A calça jeans do sonserino também estava bastante suja. Meu nariz percebeu o cheiro forte e nauseante pela primeira vez e, de repente, a enfermaria começou a rodar e as coisas saíram de foco. Perdi o controle sobre o meu corpo e ele começou a cair para o lado. Um par familiar de braços impediu que eu despencasse da cama, enquanto mãos habilidosas pressionaram meu joelho. De olhos fechados, escutei quando o tecido da calça foi rasgado e, se tivesse forças, teria gritado, quando um líquido gelado atingiu o ferimento, fazendo toda a minha perna arder, como se alguém tivesse me ateado fogo. Apesar de exausto, meu corpo se retesou para trás e Draco aumentou o aperto ao meu redor.

- Eu sinto muito. Já vai passar. - ele sussurrou no meu ouvido.

- Isso está horrível! Como ela se feriu assim?

- Eu a encontrei no chão ao pé da escadaria principal. Acho que ela caiu e bateu com o joelho em alguma pedra ou algo do tipo.

Apertei o braço de Draco ao ouvir aquelas palavras, sentindo como se alguém tivesse injetado água gelada nas minhas veias. Era mentira, mas tinha de admitir, uma boa mentira. Minha falta de coordenação era algo notável para qualquer pessoa com um par de olhos. E o único que sabia a verdade, além do loiro e eu, tinha acabado de perder parte da memória.

- Esse sangue todo em você é dela? Não está machucado também, está? Precisa que eu te examine?

- Não. O sangue é da Hermione. Eu estou bem. Concentre-se nela, por favor.

Draco não tinha parado de acariciar meu braço nem por um momento desde que me colocou na cama. Mas, naquele momento, aumentou a intensidade do gesto. Não sabia se era involuntário ou consciente, se para me acalmar ou acalmar a ele mesmo. De qualquer maneira, estava surtindo o efeito desejado.

- Madame Pomfrey. Precisamos de ajuda aqui.

Uma terceira voz chegou aos meus ouvidos junto ao rangido da porta de carvalho sendo aberta. A mão de Draco parou de deslizar pelo meu braço por um momento. A voz era conhecida. Por isso, forcei meus olhos a se abrirem vi que Harry e Gina traziam Ron pelo braço. Apesar do olhar perdido e dos pedaços de grama no cabelo ruivo, ele parecia bem. Mas mesmo assim, a culpa pulsou dentro de mim.

- Mas o que-

- Ele estava vagando pelo jardim. Parece meio desorientado. Fica repetindo...

- Malfoy? Hermione? Ah. Meu. Merlin! O que foi que aconteceu com você? Seu joelho!

Side Effect (Dramione)Where stories live. Discover now