Capítulo 64

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Samyr - 2 dias depois

Enterro do Mariano hoje, a favela chorando. Gael não acredita que é o novo dono do Alemão..

E eu não acredito que perdi meu amigo, irmão.

Lorena tentava acalmar Alanis que chorava descontrolada. A culpa disso é minha. Se eu não tivesse ficado com Keron jamais teria um filjo na Maré.

Johnny chorava sentado em um dos bancos, ele se fez de forte por muito tempo e agora desmoronou.

Sofia tava abraçada em Jo, atrás de Jo o cara que eu quero falar há tempos. Maurício Seixas, se ele planejou isso eu mato.

Mia tava abraçada no namorado e bo melhor amigo. Gael e Bash, agora ela é a chefona do Alemão mesmo não querendo.

Desviei meu olhar de todos ali, direcionei ele ao padre. Nem ele se segurava, falava sua ladainha e as lágrimas caiam ao mesmo tempo.

Preferimos não trazer as crianças, era um clima pesado demais pra bebês de 3 ou 4 anos.

Fiquei em cima de um dos bancos mais distantes da sepultura, de perto eu não aguentaria.

Ajeito os óculos escuros no rosto e suspiro. Meu rosto molhado, não precisava de consolo pra algo que havia sido culpa minha.

Alanis me culparia pro resto da vida e eu entendo bem o motivo.

Meus olhos cravaram no caixão de Mariano sendo velado e descendo, os funcionários davam corda e ele descia cada vez mais.

Passo uma das mãos por debaixo dos óculos tentando secar as lágrimas mas foi impossível.

Se eu soubesse que aconteceria nunca teria ido na Maré.

- Deus me mandou vir aqui. -olho pra baixo.

A mulher de uns cinquenta anos não subiu no banco e nem eu desci, apenas abaixei a cabeça.

- Seu amigo já não tinha razões. Ele já desejava sentar no colo do Pai e ser consolado pelo Deus Todo Poderoso. Seu amigo quer ver você fazer o que mais gosta e não se lamentar. - umas lágrimas grossas desceram. - Não foi culpa sua, ele está mais que bem.

Não deu tempo de pular do banco, ela saiu mais rápido que um carro em 180 por hora!

Talvez fosse verdade, já tinha reparado que Mariano não tinha mais o mesmo brilho nos olhos. Ignorei e infelizmente isso aconteceu.

Ergo minha cabeça de novo encarando eles passarem a madeira e o cimento.

Ele não vai sofrer, eu espero.

***

- Maurício Seixas. - me aproximo dele com minha taça de vinho.

- O próprio. -estende sua mão.

Encaro a mão imunda do verme. Esse coxinha desgraçado.

- Eu odeio sua família. - ajeito meus óculos soando sério.

- Sinceridade é tudo nessa vida. - ri bebendo um gole do seu whisky. - Bom, eu não fico por trás. Família mais corrupta que o Temer.

Ele fez a piada, em outro momento eu riria. Mas a "reunião" depois do enterro na casa de Mariano e Alanis era tensa.

- Quem era Raul na sua família?- tento buscar parentesco com o desgraçado.

- Raul sempre teve tudo que queria. - encaro ele. - Tá tu não quer saber disso.

- Menino esperto. - coloco minha taça no balcão.

- Raul era meu primo, matou o pai por causa da herança. A família não denunciou, ficou se cagando de medo e fugiu. Mas isso faz tempo, se eu encontrar o desgraçado eu mato ele. Meu tio era ótimo.

Engulo em seco, o primo dele tá morto e ele nem sabe.

- Eu matei.. o Raul. Mas isso tem 20 anos. - digo.

Ele me olha surpreso.

- Que honra sua arma teve. - diz.

- E sobre a polícia?- me encosto no batente cruzando os braços.

Meu filho e meu irmão são traficas mano! Tô fazendo meu dever.

- Disso eu não pude me livrar, sou corrupto que nem minha família. - dou um sorriso de lado. - Aliado de uns morros, queria ser daqui também.

- Tá vendo aquele cara?- aponto pra Gael. - Dono do Alemão. - Aquele?- aponto pra Bash que tava abraçado a Mirella.

Namorada dele.

- Dono da Maré. -ele engole em seco. -E aquele?- aponto pra Johnny. - Dokno do Vidigal.

- Tão novinhos.

- Vinte e três anos. Cada um. - digo admirado.

Que parceria, que trio. Cresceram juntos e hoje comandam os maiores morros do Rio de Janeiro.

- Vai ter que falar com eles pra qualquer aliança. - dou dois tapinhas no seu ombro.

Pego minha taça de vinho e bebo todo o conteúdo saindo dali. Encho com vinho tinto de novo e fico analisando meus meninos.

Eles vão se dar bem, vão crescer nesse ramo. Não são como eu e as meninas -Mariano também claro - que amamos outra coisa.

Sub dono do Complexo Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ