Capítulo 1

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Lorena

- Hoje o dia foi tranquilo. - digo, sentando-me em um pano que pus no chão.

- Ele ainda não acabou. - Samyr diz em alerta, braços cruzados como se essa posição criasse uma película protetora. Eu sentia ele tenso mesmo de longe.

- Sabemos. - Mariano suspira, deitando em cima do colchão. - Será que eles vão explodir hoje?

- Espero que não. Mais feridos, mais mortos...- falo amarrando o cabelo.

- Essa terra é terra sem esperança. - Samyr diz se deitando em outro colchão fino.

- Vou tirar um cochilo, qualquer coisa me acordem. - olho pra Alanis que dormia, me ajeito no chão.

- Lorena? - ouço a voz de Samyr.

- Tô ouvindo.

- Deita no meu colchão, eu durmo aí. - ele se levanta e me encara de pé.

- Não precisa. - me viro.

- Larga de teimosia menina. Anda.- suspiro pegando meu lençol e deito em seu colchão.

Ele deita do meu lado no chão.

Eu, Samyr, Mariano e Alanis somos médicos, nos conhecemos desde criança, no morro, no Complexo. Mariano é o segundo filho do Jair, dono de lá, porém, o mesmo nunca deu atenção a ele, somente ao primeiro, Jairo.

Samyr e Mariano cresceram juntos, assim como eu e Alanis, quando houve a pior invasão da história no Complexo, nos conhecemos. Meus pais morreram, a mãe do Samyr e seu irmão, Alanis perdeu o pai e Mariano quase morreu tentando nos proteger.

Tínhamos 6 anos. Foi traumático, a partir daí aprendenos a nos virar nessa vida, éramos crianças... mas pensavamos como adultos. Perdemos toda nossa infância por causa ds irresponsabilidades de adultos.

Nos formamos em medicina e decidimos fazer parte do médicos sem fronteiras, e viemos parar aqui. Aleppo, Síria, ou melhor, capital da guerra.

Hoje foi o dia mais tranquilo aqui, não bombardearam ou atearam fogo em nada, apenas esfaquearam algumas mulheres e homens, mas não foi grave, graças a Deus.

Estamos aqui a um tempinho, uns 2 meses e meio, e só vamos voltar quando sentirmos que devemos, ou quando nos chamarem pra voltar.

Como Samyr disse, aqui é um lugar sem esperança. Os radicais param um dia para o outro ser pior, nos acostumamos em comer mal, em ver pessoas morrendo, em dormir 6 horas a cada dois dias, ou nem dormir...

Aqui tem alguns prédios, mas a maioria está em escombros e os que sobraram estão prestes a cair, então preferimos fazer tendas. Uma cirúrgica e duas pra descanço.

Porque assim seria bem mais fácil se, por acaso, eles invadissem o acampamento.

Sinto pingos de chuva no meu rosto.

- Ótimo, tá chovendo. - Mariano diz com o semblante cansado.

Alanis acorda do mesmo jeito que todos, fomos pra fora da tenda ouvindo um barulho estranho.

Olho pro céu. Logo vejo dois helicópteros desconhecidos sobrevoando. Olho pros meus amigos,para ter certeza se eles tão vendo o que estou vendo.

-  O quê...- quase falo, mas sou interrompida por ouvir uma explosão, sinto Samyr me jogar no chão e seu corpo cai sobre o meu, qualquer coisa o atingiria facilmente e demoraria mais a chegar em mim.

- Eles vieram tarde. - ele sussurra no meu ouvido, estressado. - Vamos! - quando íamos nos levantar outra expulsão acontece.

- Que porra!- ouço o berro de Mariano.

- Eles não vão mais lançar. - digo convicta, esperançosa.

- Muitos feridos tão chegando... preparada? - Samyr diz saindo de cima do meu corpo, estendendo à mão.

Olho sua mão suja de terra, meia suada, aperto ela. Samy me puxa e fico de pé.

- Sempre. - levantamos-nos e, sem esperar por Alanis e Mariano, corremos pra tenda cirúrgica.

***

Oi lindas, sejam bem-vindas ao livro. Espero que gostem.

Bom, o livro está sendo revisado, então, não dêem spoilers e acompanhem!

Beijos.

Sub dono do Complexo Where stories live. Discover now