Capítulo V - Episódio 19

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— Sua mãe está patrulhando também — disse o pai, comendo um pedaço de torta seca. — O pelotão a que ela foi atribuída é o mesmo de Anita.

— Anita anda estranha — comentou Luan, bebendo um gole de café. — Acho que ela está tramando algo ruim.

— Ela pode estar com problemas, Luan — comentou o pai. — Deve ser difícil para ela ser capitã de um pelotão e ver o seu próprio povo sofrendo.

Depois disso não falaram mais nada. O pai poderia estar certo, mas algo dentro de Luan falava mais alto.

Havia algo ruim ali.

No mesmo dia, Luan se vestiu para sair e acompanhou seu pai até a Torre de Pedra. Chegando lá, se separou do pai e se dirigiu para uma parte da torre que nunca havia visitado. A Torre da Visão.

Enquanto subia a grande escadaria, não pôde deixar de observar os famosos quadros que supostamente haviam sido pintados logo que o Homem do Sol chegou em Ethlon.

O mais famoso de todos e maior também, mostrava um barco ancorado, um homem alto, forte, com os cabelos loiros, levantando sua espada e apontando o caminho para os demais que saíam de dentro do barco.

Atrás deles havia apenas escuridão e uma enorme onda que parecia querer engolir o barco. Na frente, para onde a espada apontava, a terra era ruim, pedregosa, mas a lâmina de sua espada apontava para o céu e lá, o Sol surgia entre as nuvens, iluminando o novo mundo.

Depois das escadarias encontrou o Pináculo Azul, uma grande sala frequentada pelos alunos e videntes da Torre da Visão. Essa sala ficava no topo da torre e ocupava dez andares. Acima do pináculo, ficavam duas salas proibidas para qualquer pessoa. A primeira era a sala do Enlouquecido, onde apenas os convidados podiam entrar. A outra era a sala secreta. Poucos sabiam o que havia lá dentro e ninguém era convidado a visitar.

Foi para a primeira que Luan se dirigiu, depois de requisitar um encontro com o visionário enlouquecido.

Luan entrou na sala e encontrou o velho sentado em sua escrivaninha, escrevendo em um pergaminho. Chamou por ele duas vezes e, antes da terceira, ele levantou a mão e ordenou que Luan esperasse.

A sala do mestre da Torre da Visão era um grande escritório e também um depósito de estranhos artefatos. Ocupando quase o andar inteiro da torre, precisava-se de uma longa caminhada para atravessá-lo. Entretanto, havia tanta quinquilharia que algumas partes da sala pareciam inacessíveis.

No canto mais próximo da porta, havia algumas estantes com livros, uma bancada com alguns penais sobre ela e a escrivaninha, onde o mestre estava sentado nesse momento.

Luan passou o olho pelos livros das estantes. Havia duas estantes, uma delas repleta de livros sem títulos. Grandes volumes com capa de couro e alguns tão velhos que o couro estava todo enrugado.

A outra estante era mais intrigante. Em todo o espaço onde caberiam uns cem livros, havia apenas dez volumes, um por andar.

— História da Torre de Pedra — balbuciou.

— Ótima leitura — interrompeu o mago, se aproximando de Luan com um silêncio assustador.

Tão assustador quanto seu silêncio era seu semblante. O mago não era tão velho, mas a falta de cuidado com o jeito de se vestir e o tom de sua pele o faziam parecer muito mais velho. Quando falava, os olhos miravam para os lados e em nenhum momento ele olhava Luan nos olhos.

Luan tinha certeza de que o homem estava pensando em outra coisa.

— Senhor — falou, tentando chamar a atenção. — Tem um tempo para conversar?

A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das PedrasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora