Capítulo 20

1.4K 264 241
                                    

O chute me lança para trás. Bato com as costas na parede e arfo, sem ar. Agradeço mentalmente por Josh ter voado antes que ela aparecesse.

A mascarada se aproxima e ergue as duas espadas, rolo no chão antes que me acertem e elas se fincam no chão. Louca! Arfo e contra ataco, a soco no rosto, a máscara continua lá, tudo o que eu quero é quebrá-la e ver quem realmente está por baixo dela. Aproveito o seu momento de desorientação e pego uma das espadas.

- Você é rápida. - a tenente ajeita a máscara no rosto, sua voz arranhada e seca me faz pensar o quanto ela correu para chegar aqui - Eu vi quando salvou a garota com asas. Você ganhou o jogo, mas não pode ganhar de mim.

Penso que ela baixaria a arma mas não. Sua espada apenas veio com mais força e mais encolerizada.

- Eu. Ganhei. Essa. Merda! - berro pausando a fala a cada golpe que dou, a espada desce pela direita, ela para o golpe rapidamente, um pela esquerda, um chute no estômago. Parece ter tanto treino quanto eu, ela é boa, e se for boa demais: perderei a cabeça. - Você não pode me matar!

- Se eu te matar agora como vão saber que você ganhou? - ela gargalha e segura o ferimento causado no seu braço esquerdo, o outro segura a espada.

- Por que quer tanto matar-me?! - grito enquanto brando a espada na direção da sua perna. Não entendo, tudo o que aconteceu nos último minutos ronda a minha mente e me deixa confusa. Às vezes, imagens das gêmeas sem vida aparecem na minha visão, me causam um momento de distração e por fim o sangue corre dos ferimentos.

- Tem certeza que não sabe? - as nossas espadas se chocam e espalham faíscas. - Tem certeza que nada vêm a sua mente? - ela gira e o golpe é mais forte do que eu esperava, ele corta pouco acima do meu ombro. A mascarada me derruba, sua espada entra na minha coxa e me faz arquejar, a dor não parece forte por conta da adrenalina mas o sangue faz minha cabeça girar. - Pense um pouco se conseguir!

Neste momento, ela arranca a espada da minha coxa e me prende ao chão com o corpo, a mascarada ergue a espada ensanguentada com as duas mãos e eu fecho os olhos. Eu vou morrer. É o fim.

Tudo que passei simplesmente acabará aqui. Já não importo a ninguém, meu coração já não bate por todos. No final, o que valeu a pena? Tudo que fiz foi mal às pessoas ao meu redor. Wei-Wei morrerá e eu não poderei fazer nada. A única coisa que me conforta é que pude salvar Josh. Foi o que ela disse, eu não posso consertar a tudo, não posso consertar eu mesma.

Morrerei com uma espada atravessada no peito. Assim como Lucy morreu.

Espero de olhos fechados. Mas, o impacto não vem. A dor não vem.

Quando abro os olhos, vejo Kadash lutando com a mascarada, tentando tirar a espada das mãos dela.

Eles quebram as coisas no quarto ao trombar com os móveis. O barulho dos artefatos colidindo com o chão, me faz despertar de meu torpor e levantar-me do chão.

Mas o faço tarde demais.

Vejo apenas ele tombar, devagarinho, como se houvesse apenas desmaiado. Eu preferia que sim, mas o sangue em suas roupas dizia algo completamente diferente.

- K-Kadash... - murmuro trêmula. Não, não, não. Depois de tudo, ele não poderia morrer assim, Kadash não poderia morrer por mim! Me debruço perto dele, esquecendo completamente tudo a nossa volta - Kadash por favor... - lágrimas chegam aos meus olhos rápido demais.

As lembranças da noite em que demos nosso primeiro beijo vêm a minha mente e a primeira das lágrimas rola pelo meu rosto.

Seguro o rosto do princípe, aquelas belas feições contraídas de dor, com lágrimas a rolar.

Naquela noite tão bonita, dentro daquela limousine, foi meu primeiro beijo, dentre letras de música, aniversários e vinho. Aqueles olhos antes gelados estavam brilhando mais que todas as estrelas do céu. E agora... eles lentamente perdem o brilho da vida.

- Você se sente da mesma forma? - cantarolo a canção, com voz chorosa e embargada. Olhar para seu rosto é como ver uma parte de mim ser levada, arrancada a força por uma correnteza de emoções.

Por tanto tempo eu o odiei, por tanto tempo me recusei a perdoá-lo e agora eu só quero que ele fique comigo por mais tempo. Quero que cante nossa canção comigo e discuta sobre escolhas em terraços, admire paisagens e me conforte quando meus pesadelos vierem.

Seu rosto se contorce num sorriso dolorido.

- E você...você se...lembra...como nos sentíamos, amor? - ele também cantarola com dificuldade.

Um som de agonia sai da minha garganta, misturado com choro e soluços.

- Por favor, por favor não vá. - acaricio seu rosto. - Eu devia ter te perdoado antes, Dash! - deposito um beijo sobre seus lábios quase sem cor. - Por favor... eu preciso de você.

Deito sua cabeça em meu colo, e acaricio os cabelos dourados, limpo delicadamente as lágrimas de seu rosto e tento, porque tentar ainda é muito, deixar seus últimos momentos confortáveis.

- Veja só... quem está sendo educada... - ele tosse sangue. Desvio o olhar, não quero vê-lo assim. - Ei... - quase não o ouço - Olhe para... mim.

-Se você morrer eu...

Ele sorri, os cantos dos lábios vermelho sangue e a boca quase sem cor. Outra lágrima salgada rola de encontro com minha língua.

- Você é confusa demais pra mim. - sussurra o que havia dito na primeira briga que tivemos na Elite há muitos meses atrás. - Primeiro me ameaça e depois começa a chorar. - ele ergue a mão para enxugar meu rosto mas nota o sangue nela e logo a abaixa.

Seu rosto se contorce de dor e eu engulo em seco, fecho os olhos e acaricio os cabelos da cor do Sol, meus olhos permanecem fechados até eu não ouvir mais sua respiração.

Soluço, choro, me debruço sobre o corpo dele e imploro que volte, solto ganidos de desespero, minha boca fica seca de aflição.

Ele se foi.

Kadash se foi.

Levanto meu olhar embarçado para a mulher próxima de mim. Ela sorri e cruza os braços.

O ódio me domina. Minha visão se torna vermelha e eu não enxergo mais nada até estar por cima dela, encolerizada, socando-a com tanta força que a máscara começa a quebrar-se.

Um soco, após outro, após outro, após outro. O seu rosto é virado para a esquerda tantas vezes que perco a conta. O sangue começa a se formar em minhas mãos mas eu continuo gritando a cada soco que dou.

Paro.

A máscara parte-se. Não pode ser.

Aqui, desacordada e com o rosto um tanto inchado e marcado de sangue, está Jennifer Scarllet Targane.

Minha irmã.



Sei que foi um pouco previsível mas eu não poderia mudar os planos tão em cima da hora.

Espero que estejam gostando.

Sinto muito pelo Kadash.

Não me odeiem :'(

Rayrah Scarlett: O Coração Pulsante de Evbád [RETIRADA EM 25/10/22]Onde histórias criam vida. Descubra agora