O chute me lança para trás. Bato com as costas na parede e arfo, sem ar. Agradeço mentalmente por Josh ter voado antes que ela aparecesse.
A mascarada se aproxima e ergue as duas espadas, rolo no chão antes que me acertem e elas se fincam no chão. Louca! Arfo e contra ataco, a soco no rosto, a máscara continua lá, tudo o que eu quero é quebrá-la e ver quem realmente está por baixo dela. Aproveito o seu momento de desorientação e pego uma das espadas.
- Você é rápida. - a tenente ajeita a máscara no rosto, sua voz arranhada e seca me faz pensar o quanto ela correu para chegar aqui - Eu vi quando salvou a garota com asas. Você ganhou o jogo, mas não pode ganhar de mim.
Penso que ela baixaria a arma mas não. Sua espada apenas veio com mais força e mais encolerizada.
- Eu. Ganhei. Essa. Merda! - berro pausando a fala a cada golpe que dou, a espada desce pela direita, ela para o golpe rapidamente, um pela esquerda, um chute no estômago. Parece ter tanto treino quanto eu, ela é boa, e se for boa demais: perderei a cabeça. - Você não pode me matar!
- Se eu te matar agora como vão saber que você ganhou? - ela gargalha e segura o ferimento causado no seu braço esquerdo, o outro segura a espada.
- Por que quer tanto matar-me?! - grito enquanto brando a espada na direção da sua perna. Não entendo, tudo o que aconteceu nos último minutos ronda a minha mente e me deixa confusa. Às vezes, imagens das gêmeas sem vida aparecem na minha visão, me causam um momento de distração e por fim o sangue corre dos ferimentos.
- Tem certeza que não sabe? - as nossas espadas se chocam e espalham faíscas. - Tem certeza que nada vêm a sua mente? - ela gira e o golpe é mais forte do que eu esperava, ele corta pouco acima do meu ombro. A mascarada me derruba, sua espada entra na minha coxa e me faz arquejar, a dor não parece forte por conta da adrenalina mas o sangue faz minha cabeça girar. - Pense um pouco se conseguir!
Neste momento, ela arranca a espada da minha coxa e me prende ao chão com o corpo, a mascarada ergue a espada ensanguentada com as duas mãos e eu fecho os olhos. Eu vou morrer. É o fim.
Tudo que passei simplesmente acabará aqui. Já não importo a ninguém, meu coração já não bate por todos. No final, o que valeu a pena? Tudo que fiz foi mal às pessoas ao meu redor. Wei-Wei morrerá e eu não poderei fazer nada. A única coisa que me conforta é que pude salvar Josh. Foi o que ela disse, eu não posso consertar a tudo, não posso consertar eu mesma.
Morrerei com uma espada atravessada no peito. Assim como Lucy morreu.
Espero de olhos fechados. Mas, o impacto não vem. A dor não vem.
Quando abro os olhos, vejo Kadash lutando com a mascarada, tentando tirar a espada das mãos dela.
Eles quebram as coisas no quarto ao trombar com os móveis. O barulho dos artefatos colidindo com o chão, me faz despertar de meu torpor e levantar-me do chão.
Mas o faço tarde demais.
Vejo apenas ele tombar, devagarinho, como se houvesse apenas desmaiado. Eu preferia que sim, mas o sangue em suas roupas dizia algo completamente diferente.
- K-Kadash... - murmuro trêmula. Não, não, não. Depois de tudo, ele não poderia morrer assim, Kadash não poderia morrer por mim! Me debruço perto dele, esquecendo completamente tudo a nossa volta - Kadash por favor... - lágrimas chegam aos meus olhos rápido demais.
As lembranças da noite em que demos nosso primeiro beijo vêm a minha mente e a primeira das lágrimas rola pelo meu rosto.
Seguro o rosto do princípe, aquelas belas feições contraídas de dor, com lágrimas a rolar.
Naquela noite tão bonita, dentro daquela limousine, foi meu primeiro beijo, dentre letras de música, aniversários e vinho. Aqueles olhos antes gelados estavam brilhando mais que todas as estrelas do céu. E agora... eles lentamente perdem o brilho da vida.
- Você se sente da mesma forma? - cantarolo a canção, com voz chorosa e embargada. Olhar para seu rosto é como ver uma parte de mim ser levada, arrancada a força por uma correnteza de emoções.
Por tanto tempo eu o odiei, por tanto tempo me recusei a perdoá-lo e agora eu só quero que ele fique comigo por mais tempo. Quero que cante nossa canção comigo e discuta sobre escolhas em terraços, admire paisagens e me conforte quando meus pesadelos vierem.
Seu rosto se contorce num sorriso dolorido.
- E você...você se...lembra...como nos sentíamos, amor? - ele também cantarola com dificuldade.
Um som de agonia sai da minha garganta, misturado com choro e soluços.
- Por favor, por favor não vá. - acaricio seu rosto. - Eu devia ter te perdoado antes, Dash! - deposito um beijo sobre seus lábios quase sem cor. - Por favor... eu preciso de você.
Deito sua cabeça em meu colo, e acaricio os cabelos dourados, limpo delicadamente as lágrimas de seu rosto e tento, porque tentar ainda é muito, deixar seus últimos momentos confortáveis.
- Veja só... quem está sendo educada... - ele tosse sangue. Desvio o olhar, não quero vê-lo assim. - Ei... - quase não o ouço - Olhe para... mim.
-Se você morrer eu...
Ele sorri, os cantos dos lábios vermelho sangue e a boca quase sem cor. Outra lágrima salgada rola de encontro com minha língua.
- Você é confusa demais pra mim. - sussurra o que havia dito na primeira briga que tivemos na Elite há muitos meses atrás. - Primeiro me ameaça e depois começa a chorar. - ele ergue a mão para enxugar meu rosto mas nota o sangue nela e logo a abaixa.
Seu rosto se contorce de dor e eu engulo em seco, fecho os olhos e acaricio os cabelos da cor do Sol, meus olhos permanecem fechados até eu não ouvir mais sua respiração.
Soluço, choro, me debruço sobre o corpo dele e imploro que volte, solto ganidos de desespero, minha boca fica seca de aflição.
Ele se foi.
Kadash se foi.
Levanto meu olhar embarçado para a mulher próxima de mim. Ela sorri e cruza os braços.
O ódio me domina. Minha visão se torna vermelha e eu não enxergo mais nada até estar por cima dela, encolerizada, socando-a com tanta força que a máscara começa a quebrar-se.
Um soco, após outro, após outro, após outro. O seu rosto é virado para a esquerda tantas vezes que perco a conta. O sangue começa a se formar em minhas mãos mas eu continuo gritando a cada soco que dou.
Paro.
A máscara parte-se. Não pode ser.
Aqui, desacordada e com o rosto um tanto inchado e marcado de sangue, está Jennifer Scarllet Targane.
Minha irmã.
☆
☆
☆Sei que foi um pouco previsível mas eu não poderia mudar os planos tão em cima da hora.
Espero que estejam gostando.
Sinto muito pelo Kadash.
Não me odeiem :'(
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Rayrah Scarlett: O Coração Pulsante de Evbád [RETIRADA EM 25/10/22]
Fantasia*Recomendo que leia o primeiro livro antes de ler esta sinopse.* Uma prisioneira. Uma princesa. Acima de tudo uma guerreira. Depois de ser traída, levada à Evbád e forçada a ficar em troca da vida de seu melhor amigo, Rayrah Scarllet está com o cora...