Capítulo 4

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Esse capítulo vai ser voltado à uma personagem meio sumido da história. Vai ser só um pedacinho da história do personagem, nada muito aprofundado mas bem esclarecedor. Vamos ter mais no futuro.



A multidão a ergue e a leva pela rua, saudando a Campeã.

Alyah observa com atenção e segura meu pulso, me impedindo de caminhar até a limousine. - Ray? O que foi?

Olho para baixo. Fora culpa minha? Ou salvei a vida dela? Do que vale a liberdade se ela não poderá mais voar?

- Posso alocá-la no Palácio se quiser. - Alyah diz tentando confortar-me.

- Falarei com ela mais tarde. - digo num fio de voz. - Tenho que confessar uma coisa à ela. Venho guardando segredos que não devem mais ser escondidos. - penso no segredo que por tanto tempo escondi de Wei-Wei e que destruiu a ambos.

Alyah assente.

O Sol está nascendo, banha de dourado as casas e as plantas que as rodeiam, as crianças que brincam alegremente sem se importar com as gritantes diferenças físicas e os adultos que conversam tranquilos nas portas de suas casas.

É um pouco reconfortante saber que faço parte da vida deste lugar. Me ajuda a conviver com as correntes invisíveis que me prendem.

Lembro da sensação de voar com Josh na cobertura e sorrio involuntariamente.
Dou um suspiro longo e exausto quando noto que isso não acontecerá novamente.

Todos que estão ligados à mim de alguma forma, me deixam. Tenho medo que no fim disso tudo, só me reste minhas correntes.

Afinal, qual é o meu problema? Por que machuco as pessoas que amo? Porquê?

Deito a cabeça na porta da limousine e fecho os olhos, desejando que isso seja apenas um dos meus pesadelos. Talvez por tanto desejar, acabo tendo um.

O trono está bem à minha frente. Uma multidão sem rosto me reverencia à cada passo dado, abrindo caminho. O trono das três espadas cruzadas me aguarda. Se eu tivesse algum controle sobre mim mesma não me sentaria nele, mas eu o faço. Fito a multidão, o lado esquerdo do peito deles começa a reluzir em vermelho. Cruzo as pernas e apoio os braços na ilustre cadeira. E não me surpreendo quando as algemas metálicas saem do trono, prendendo-se em meus pulsos, selando o destino, esmagando minha liberdade. Continuo a fitar a multidão até que vejo de relance, em meio a tantos corpos sem rosto, uma máscara de porcelana, um rosto sorridente e teatral com lágrimas pintadas de dourado, como se ouro líquido escorresse de seus olhos.

Acordo sobressaltada, o colar negro em forma de coração humano queimando minha pele por dentro do decote, já tentei tirá-lo e ele parece se recusar a sair do meu pescoço. Olho pela janela, vendo o Palácio reluzir com o nascer do Sol. Chegamos.

- Está bem alteza? - o motorista pergunta assutado.

- O que?

- Perguntei se está bem, alteza? - ele repete com a sobrancelha arqueada.

- Estou. - minto - Só um susto de quando se dorme demais.

Ele assente desconfiado e saímos da limousine.

Rute me disse que Wei-Wei estava bem, havia comido e voltado para o quarto. Preciso vê-lo. Preciso dizer à ele. Preciso contar.

Quando chego à frente da sua porta, hesito.

- O que está esperando? - a voz de Charslie sussurra no meu ouvido. - Bata.

- Ele me odeia. - sussurro de volta - Onde esteve? Por onde andou nos últimos dias? - pergunto ainda com a mão erguida, divudida entre recolhe-la e bater à porta.

Rayrah Scarlett: O Coração Pulsante de Evbád [RETIRADA EM 25/10/22]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt