Capítulo 17

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Eu corro.

Corro tanto que nem ouço meus pensamentos, não sinto nada. Corro tanto que tudo que resta é o som dos meus pés batendo no chão a toda velocidade e minha respiração.

Olho pra trás pra ver se ele continua me perseguindo, não o vejo mas sei que ele está lá, sei que não vai desistir e sei que vai me pegar. Eu não tenho a menor chance, mas se eu ficar vai ser pior.

Minha respiração oscila e só existe a minha fuga. Não sei quanto tempo vou conseguir aguentar. Sinto uma mão no meu ombro e sou jogada rolando na estrada de terra, caio com o rosto na poeira e no cascalho, nem sinto os machucados, a adrenalina ainda corre no meu sangue. Ele está aqui, não consigo ver seu rosto, me observa em pé logo a minha frente, como uma onça a rondar sua presa, não tenho chance de fugir. Tremo. Ele me alcançou. "Não." Murmuro. Ele me agarra pelos ombros e eu grito.

Grito.

Tudo parece muito mais assustador depois de um pesadelo como esse, divãs ganham formas humanas e o uivo do vento se torna um grito pavoroso. Do que eu tinha tanto medo? Por que não me defendi? Tenho um arrepio na espinha e a respiração entre cortada, todas as noites são como essa.

É madrugada e percebo que não conseguirei mais pregar o olho. É melhor sair agora mesmo. Vou ao cofre.

Escolho uma roupa escura para me movimentar no escuro sem ser percebida. Não quero guarda algum fofocando para Alyah. amarro os cabelos brancos que atrapalham meu disfarce e abro a porta lentamente. Um clic é ouvido e o guarda da patrulha das 3:00 am olha na direção do quarto, encosto a porta a tempo e ele não me vê. E nem desconfia de nada.

Saio a passadas de gato, quase deslizando pelo chão de madeira, a respiração ao mínimo possível, assim como aprendi na Elite. Preciso chegar na torre principal, no cofre.

Me esgueiro pelo palácio, ágil e silenciosa, evitando os olhares dos guardas que agora percebo não serem tão eficientes. O tempo está frio e nublado, mal posso ver o lado de fora por causa da neblina, e de certa forma isso ajuda.

Chego a torre principal, o cofre é um compartimento escuro e que me causa arrepios claustrofóbicos, distraio um par de guardas com alguns sons do lado oposto, feitos pelo tilintar de algumas moedas. Entro no cofre, caminho alguns metros e ele parece estar vazio, vejo ouro, algumas jóias, vasos caríssimos, especiarias. Mas nada de Pedra da Ascensão.

Será que Rute se enganou? Será que na realidade, a pedra se perdeu? E agora?

Me sento desajeitada num monte de moedas, derrubo um bracelete de ouro que rola pelo chão, pelos desenhos e pedras incrustadas. Só agora percebo os desenhos são fendas debaixo de meus pés, o cofre com a pedra... eu só posso estar acima dele!

Me ajoelho e vasculho o chão, em busca de uma fechadura, algo que o faça abrir-se. Nada, nada, sera que estou errada? Me levanto, frustrada, olho o chão de cima e analiso as fendas que formam o desenho: um coração humano com uma flor no centro. Ando até ele e noto com um sorriso largo que, o centro da flor é um botão. Piso forte na pedra avermelhada no centro da flor, no centro do coração, o botão afunda e ouço um som alto e metálico, como um estalo, seguido de muitos outros, como engrenagens se movendo debaixo de mim. Recuo um passo, mas as fendas no coração começam a se abrir e os guardas lá fora começam a ouvir, eles gritam algo entre si. O centro da flor começa a descer comigo em cima dele e eu levo um susto, quase me desequilibro, os guardas abrem a porta apenas a tempo de me ver desaparecendo chão abaixo enquanto o coração volta a fechar-se.

Olho em volta, o cofre escondido.

Parece um jardim, mas tem apenas flores cinzentas as quais eu nunca havia visto, são belíssimas, ergo a mão para tocar na pétala de uma próxima a mim.

- Não a toque; é venenosa. - A voz me faz sobressaltar. Alyah está sentada numa cadeira branca a apenas alguns metros de mim, no meio de um círculo vazio, sem flores. - Se chamam Vingança de Rishon, tem uma história interessante por trás desse nome mas o fato é que se tocá-la, o veneno dessas pétalas entrará no seu organismo, vai contaminar as células do local que esteve em contato com a pétala, estas contaminarão outras, o veneno vai fazer as células se auto-destruírem, num processo agonizante e imediato logo após a entrada do veneno. Vai matar você de dentro pra fora em minutos.

Engulo em seco.

- Bela aula de biologia. - ironizo.

- É bom ter tido uma irmã que entendia dessas coisas. É muito útil quando você deseja proteger algo. - ela permanece séria o tempo todo, neutra, calma. Como sempre.

- Então você deseja proteger algo; a pedra. - concluo. Ela faz que sim com a cabeça. - Então onde está?

Ela balança a cabeça, irritada.

- Acha mesmo que eu diria? - ela bate os pé no chão freneticamente. - Essa é a magia mais antiga da Terra, foi confiada à mim e é meu dever protegê-la. Portanto, Rayrah, é seu dever controlar sua curiosidade e não pôr em risco os assuntos de interesse de Évbad. - Trinco o maxilar. - Suba. Agora.

- Você sabe que não vai poder esconder isso de mim por muito tempo. - murmuro.

- E você deveria aprender a não confiar tão facilmente. - Alyah põe as mãos nas têmporas cansada.



Próximo capítulo Hill chega para o Conselho. O que acham??

Rayrah Scarlett: O Coração Pulsante de Evbád [RETIRADA EM 25/10/22]Where stories live. Discover now