Capítulo 12

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Josh está sentada a minha frente, apesar de conversarmos como se nada houvesse acontecido eu sei que ela está sobrecarregada. Quando ela fala eu sinto tristeza em cada palavra, quando sua única asa mexe sem querer o meu coração dói, quando ela fala sobre Wei-Wei sinto o quanto está estranhando isso e o quanto está curiosa.

- ...E ele parece estar me evitando! Eu não sei nada sobre ele e ele já é quase um adulto, Rayrah! - ela cruza os braços. Saio dos meus devaneios.

- Você sabe que eu também não posso fazer muita coisa. - ela está melhor do que eu, Wei-Wei sequer quer me ver.

- Eu sei! Eu sei! - ela gesticula e pega alguns biscoitos no pote em cima da cama dela, onde estamos deitadas conversando há alguns minutos. - Mas essa mudança toda é... muito difícil! Não sei o que fazer, Ray.

Antes que eu abra a boca a criada de Josh, que Alyah insistiu que ela tivesse, abre a porta e pergunta por Josh que de acordo com a rainha precisa achar um algo a fazer no Palácio.

- O futuro dever me chama. - Josh ri e acena pra mim.

Me jogo pra trás na cama. Eu tenho que fazê-la feliz, e se não puder, devo no mínimo fazê-la menos infeliz. Mas o problema é que não sei como.

Sr.Harrington manda que me chamem, ele decidiu que o nosso local oficial de treino seria o Bosque dos Monges e nós passamos a tarde inteira estudando a escrita nomaêlica. As letras cuneiformes são quase ilegíveis e pela primeira vez Harry ficou orgulhoso de mim.

- Sr.Harrington, ontem Alyah me contou sobre meu pai. - digo e ele se vira pra mim surpreendido, as sobrancelhas arqueadas ainda mais altas. - Me disse que vocês eram amigos e que o senhor foi general.

Ele dá um sorriso fraco e olha para o chão. - Seu pai era um bom homem, menina. Só se envolveu com as pessoas erradas.

Franzo a testa e suspiro. - Mas ele e a... minha mãe se amavam, não é?

- Eu nunca vi duas pessoas mais apaixonadas. - ele passou a mão pela barba desenhada e me fitou demoradamente com seus olhos laranjados incendiando meu rosto como se me reconhecesse de Eras. - Você é muito parecida com ele.

- Mas e o senhor? Nunca me contou nada sobre você. Só vim saber de Alyah que você foi general! - cruzo os braços com um sorriso de troça no rosto.

- Eu? - ele sorriu divertido - Eu não tenho nada de interessante! - ele ri - Racin é que era um homem incrível, agora eu? Hoje sou apenas um velho, amigo da rainha que treina uma criança curiosa! - ele empurra meu nariz com o indicador e me faz rir torto.

- Ainda vou arrancar a verdade de você! - brinco andando ao redor dele.

- Nunca! - ouvimos apenas os pássaros cantarem à nossa volta, o doce farfalhar das folhas das árvores e a minha risada estridente. - Talvez até tiremos algum dia pra falar de mim... Mas hoje você pode me perguntar sobre Racin.

Penso um pouco batendo o lápis no queixo, já esquecida das letras que estava aprendendo.

- O que ele fazia no palácio? Alyah me disse que ele fazia armas e depois que ele era um doce, não consigo imaginar algo tão contraditório! - dou uma gargalhada. Sr.Harrington também sorri, nostalgico.

- Ele era como um ferreiro, um inventor con brilho nos olhos, muito mais esplendoroso que um fabricante de armas! Ele era um gênio, menina. Fazia as coisas mais loucas, engenhocas, coisas que ninguém além dele podia entender mas quando postas em prática: uau! E ele era compreensivo e amável, eu nunca o entendi, sorria para todos e era senpre gentil. Quando morava numa vila sempre foi reconhecido pelo trabalho mas peka gentileza dez vezes mais, o convidaram diversas vezes antes para ir ao Palácio mas ele sempre recusava, ele era casado e a esposa era o motivo das recusas.

- O quê?! - arquejo totalmente surpresa. - Ele tinha filhos? Eu tenho irmãos??

- Deixe-me contar! - sr.Harrington me dá um tapa no alto da cabeça para me calar, só me fazendo rir. - A esposa morreu num acidente junto com o filho que esperava. - tapo a boca com pena - Um ano depois ele decidiu que precisava de uma vida nova. Era tão bom ver Racin contando como superou a morte da esposa e do filho! Ele foi para o palácio e lá trabalhava, nunca perdeu o brilho naqueles olhos verde esmeralda, ainda que sempre evitando qualquer relação amorosa se apaixonou por Alyah. Ele sempre a evitava, não se dava chance ao amor, mas ele acabou se rendendo. Eles se amaram de verdade, o amor real, nada à primeira vista, amor construído e belo vindo da amizade, porquê o amor conhece e entende. Infelizmente, eles não puderam ficar juntos, foi uma tragédia, menina. Como um efeito borboleta que resultou na morte de muito mais gente.

Ele suspirou e girou a bengala nas mãos, meio nervoso, meio agitado.

- Eu queria tê-lo conhecido. - sussurro.

- Ele ficaria muito feliz por ter uma filha como você. - levanto os olhos para ver Harry sorrir. Uma sombra na minha mente me faz pensar que ele está errado mas eu logo a afasto.

- E não tem mais ninguém pra fazer o trabalho que ele fazia? - pergunto curiosa.

- Tem. Não se iguala ao de Racin, mas tem um homem que o faz hoje em dia. - uma idéia se acende na minha cabeça e me faz dar um salto.

- Ele pode fazer qualquer coisa?

- Qualquer coisa eu já não sei. Mas ele pode tentar. - Sr.Harrington franze a testa entranhando minha animação. Se ele soubesse a idéia que tenho ficaria tão animado quanto eu.

- Sr.Harrington temos que voltar agora!! - grito sem conseguir me conter.

- Ora! Mais pra quê?! Se aquieta menina, o que você têm? - o puxo pela mão e começo a voltar.

- Te explico no caminho!

***

O homem não estava disposto a negociar. O sr.Ieron é um homem baixo, gordo e de pavio curto que se nega a aceitar minha encomenda.

- Não pode ser tão difícil! - jogo os braços pra cima em frustração.

- Olhe o que está me pedindo, alteza! - ele aponta para o desenho esquematizado do aparelho. Logo vejo que vou ter que recorrer a outra tática para fazê-lo aceitar.

- Então está bem! - finjo um ranger de dentes e me viro de costas de braços cruzados. - Pensei que você estivesse a altura do último ferreiro mas você realmente não chega nem aos pés! - ouço o homem arquejar indignado. - Não deveria estar surpreso por eu querer alguém mais... competente.

- Escute aqui, vossa alteza, não há nesse reino, um homem mais qualificado do que eu para esse trabalho! - o sr.Ieron toma o papel com o desenho de minhas mãos e senta-se na cadeira bufando. Mordo os lábios para esconder o riso.

- E quando ficará pronto? - ergo uma sobrancelha contendo minha excitação para não sair saltitante.

- Como o desenvolvimento da idéia já está pela metade, só me resta fazer os cálculos e construir. - ele gesticula sem olhar pra mim, põe um óculos que tem lentes de aumento diferentes e escolhe uma mediana, pondo em frente ao olho direito e analisando o esquema do pedido. - Amanhã pela manhã.

- Mas se você é tão profissional quanto diz ser não deveria demorar tanto!

- Se quer bem feito levará tempo! - o gorducho esbravejou de cara fechada. Ele já não me aguentava mais no seu escritório, então saí. Pelo menos ficaria pronto.

Voltei ao meu treinamento com Harry, tive que explicar três vezes o porquê de ter rompido a rotina de treino e tê-lo feito ir até o palácio como uma maluca desesperada. Continuamos o treino até o horário de dormir. Quando estou na minha cama penso novamente: Se eu não puder fazer Josh feliz, eu devo fazê-la menos o infeliz.

Caio num sono repleto de pesadelos cono todas as noites. Esse é apenas imagens desconexas e confusas. Sangue, gritos e chamas.

Acordo de madrugada gritando. Nada fora do normal, por enquanto.



Oii

Eu sei que os capítulos estão muuuuuito curtos mas eu não to com tempo. Provas, escola, gincana e por aí vai.

Mas n pensem que ACRS vai parar por conta disso!

O que acham q a Ray mandou fazer naquele ferreiro??

Rayrah Scarlett: O Coração Pulsante de Evbád [RETIRADA EM 25/10/22]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant