Rayrah Scarlett: O Coração Pulsante de Evbád [RETIRADA EM 25/10/22]

Capítulo 3

- Desculpe. Foi tudo que pude fazer. - murmuro com a respiração entre cortada. Josh me olha pela janelinha e suspira.

- Tudo bem. Obrigada mesmo assim. - ela diz rouca. - Vou sobreviver.

- Trouxe isto. - passo o pão-de-ló pelas grades. Ela pega e come vorazmente. - Trouxe água também.

- Obrigada. - diz de boca cheia.

- Como estão as coisas na Base? - pergunto tentando descontrair.

- Loucas. Alguns prisioneiros escaparam, militantes se rebelaram, o príncipe sumiu e isso deu força para revoltas nas Divisões que acham o governo de Mondian fraco. Está um caos. - ela meneia a cabeça de um lado para o outro.

- E Lince? - pergunto curiosa.

- Surtou quando você sumiu. Te procurou por semanas até descobrirem que você estava em Evbád. - ela suspira e eu me pergunto se realmente Lince chegaria a este ponto simplesmente por mim - Você pode não ver, Ray. Mas ela te ama como uma mãe.

Soltei uma risada debochada.

- Lince? Lince? Me ama? Mãe? - repito sem acreditar - Estamos falando da mesma pessoa?

- Você sabe que é verdade. - ela diz e antes que eu rebata somos interrompidas por um guarda carrancudo.

- Alteza. Levaremos a prisioneira para a Arena, a rainha solicita sua presença no anuncio. - ele diz.

- Está bem. - digo lançando um olhar preocupado à Josh. - Me dê cinco minutos. - ele assente e sai. - Eu não vou me despedir porquê sei que você vai voltar. - engulo o pesar e o medo - Seja forte, eu acredito em você.

Ela assente e afasta as mechas louras dos olhos. - Vou sobreviver.

- Tenho uma coisa para te contar assim que conseguir. - sorrio pensando em Wei-Wei, espero que não seja um grande choque, eles terão de se conhecer.

- Morrerei de ansiedade. Literalmente. - Nós rimos e suspiramos, tristes com um pequenino um fio de esperança - Adeus.

- Não. - balanço a cabeça e contenho as lágrimas. - Até logo.

- Até logo.

O guarda me acompanha até o fim do corredor. Olho para trás e vejo os olhos castanhos tão parecidos aos de Wei-Wei, diferenciando-se apenas por seram mais claros, pela janelinha gradeada.

***

O vestido é vermelho e bonito, mas irritantemente áspero e pinica. Ele tem mangas longas e decote em V, da cintura para baixo parece ter sido moldado por um num ferreiro, pontas afiadas de ferro desbravam o tecido grosso como espadas saídas das bainhas.

Alyah também não fica atrás com seu elegante vestido verde-musgo, costas abertas, decote leve, mangas até os cotovelos, a saia do vestido em camadas de cor degradê até o verde-água.

Minhas pernas formigavam por ficar tanto tempo sentada. Eu esperava e sorria, apenas isso. Passava àquelas milhares de pessoas lá em baixo a idéia de que tinham a princesa que necessitavam ter. Tolice.

Mas eu já não tenho um propósito além deste. Manter as pessoas vivas, tanto amigos quanto completos desconhecidos fingindo ser quem não sou. E ainda assim consigo falhar.

Quando o anúncio finalmente termina eu levanto e vou ver como Wei-Wei está.

- Boa tarde Rute. - digo cansada.

- Boa tarde. - ela cumprimenta. - Seu amigo está na sétima porta à esquerda. - ela informa já sabendo o que vim fazer.

- Obrigada.