- Consegue se lembrar se Padma reclamou de alguma coisa, algum sintoma que po-

- Foi o Malfoy!

- Senhorita, esta é uma acusação muito grave. Não há sinais aparentes de um duelo. O último feitiço realizado pela varinha foi um Lumus. Não temos pro-

- Ele é um Comensal da Morte. Eu não preciso de provas. - a pele de oliva da garota adquiriu um tom arroxeado. Ela esbravejava e gesticulava na direção da diretora, que se manteve impassível. - Vários pais vinham expressando preocupação com o fato de a senhora tê-lo trazido de volta a Hogwarts, colocando em risco a vida dos alunos de bem. E como se isso não fosse suficiente, a senhora o nomeou monitor, deu a ele liberdade para passear pelos corredores e atacar quem quisesse com a desculpa de estar aplicando uma punição disciplinar. Eu vou me reportar ao Ministério. Ele precisa ser preso imediatamente.

- HEY! Não gostar de alguém não é suficiente para acusar essa pessoa sem provas.

Se o discurso inflamado e cheio de ódio de Patil ainda não tinha acordado metade da torre, meu grito, com certeza se encarregou do serviço. Ela parou de atacar verbalmente a diretora e arregalou os olhos na minha direção, mortalmente ferida.

- Chega a ser ridícula essa sua mania de acreditar sempre no melhor das pessoas, Granger.

- É muito simples esclarecer isso. - Gina interveio. Sua voz era suave e conciliadora. Fruto de anos de experiência mediando as incontáveis discussões dos irmãos Weasley. - Vamos chamar Malfoy e perguntar onde ele estava no horário em que tudo aconteceu. Alguém pode confirmar a história e ficará provado que não foi ele.

- Ótima ideia srta. Weasley. - Minerva parecia espantada por não ter pensado nisso ela mesma. E, especialmente, agradecida. Desde que resolveu convidar os alunos que deveriam ter cursado o sétimo ano a terminar os estudos de maneira apropriada, incluindo filhos e sobrinhos de comensais, a diretora vinha enfrentando a ira de alguns pais. As críticas e reclamações ao Ministério eram constantes, como ficou claro em nossa última conversa. Ela não acreditava estar assumindo um risco. E, se minha opinião valia alguma coisa, eu também acahva que não estava. - Por favor, peça ao Prof. Slughorn que vá buscar sr. Malfoy e me encontrem na minha sala.

Gina deve ter voado pelos corredores, porque estava de volta, com um Slughorn de cara amarrotada e olhos inchados e um Malfoy mal humorado, em menos de 15 minutos. Ele usava as mesmas roupas do jantar da noite anterior, calça preta, camisa de gola preta e o casaco de feltro. Com tanto negro era difícil notar as diferenças entre uma peça e outra, mesmo nos dias normais, mas tudo no loiro já me era familiar. Quando registrou minha presença, Draco deixou cair a expressão fechada por alguns segundos. Entretanto, os anos de treino o ajudaram a se recompor.

- Seu imbecil, filho de uma puta! Seu comensal de merda! - apesar do ataque verbal, Parvati não se atreveu a se levantar da cadeira.

- Controle-se, srta. Patil! Ou terei que pedir que se retire.

Draco arqueou uma sobrancelha para mim, ignorando totalmente a explosão da outra garota e perguntou com uma voz entediada.

- Bem, já estou aqui. Qual é a razão de todo o desespero e da recepção tão calorosa?

- Há alguém que possa confirmar que o senhor passou a noite em seu dormitório? E que só saiu agora, quando foi chamado pelo prof. Slughorn?

Algo no tom da voz de Minerva fez com que Draco abandonasse a abordagem de aparente desinteresse e desprezo. Ele desfez a cara amarrada e quando falou, seu tom era quase de desculpas.

- Acredito que não.

- Eu disse! Foi ele!

Parvati foi silenciada por um olhar ameaçador da professora.

- Sr. Malfoy, tem certeza? Não passou por nenhum aluno no salão comunal antes de ir se deitar ontem? Algo muito grave aconteceu esta madrugada e precisamos saber onde o senhor estava no horário em questão.

Draco negou com a cabeça e a diretora apoiou uma das mãos na mesa, procurando se segurar, de maneira quase imperceptível. Quase! Vi quando os olhos cor de tempestade de Draco registraram o gesto. Assim como eu, ele também notou que a cor começava a deixar as bochechas descarnadas da bruxa.

- Passei a noite na Sala Precisa. Fiquei lá a noite toda e voltei ao dormitório poucos minutos antes do professor Slughorn aparecer. E foi só isso. Gostaria de poder ajudar mas não sei de nada. O que quer que tenha acontecido, não estou envolvido. Sinto muito, diretora.

Apesar de se dirigir a McGonagall foi para mim que Draco olhou enquanto contou sobre sua noite. A verdade por trás dos olhos cor de tempestade era clara, quase transparente, quando se sabia como ver através deles.

- Acredito em você, sr. Malfoy. Mas, infelizmente terei que pedir que entregue a sua varinha para averiguação.

- O que o Draco está dizendo é verdade.

A frase saiu meio estrangulada. Como se não houvesse ar suficiente nos meus pulmões. Como se alguém estivesse apertando a minha garganta e tentando impedir as palavras de sair. E eu precisei reunir a pouca coragem que ainda possuía para dizê-la. Não sei se os olhares assustados lançados na minha direção diziam respeito ao fato de eu ter interrompido a diretora, ou usado o primeiro nome do sonserino.

- Como pode ter tanta certeza, Granger?

- Porque eu estava lá com ele, Patil. Ou não percebeu que eu também não passei a noite no nosso dormitório?

Já tinha acontecido uma vez. Até poucos dias atrás poderia muito bem ser verdade.

Acho que o queixo de Patil poderia ter atingido o chão se ela não tivesse levado as mãos à boca. McGonagall desistiu de tentar disfarçar e colocou as duas mãos na mesa atrás de si, procurando por apoio. Parecia que ela ia desmaiar. Eu podia ouvir os estalos no cérebro dela enquanto as peças iam se encaixando. Enquanto ela se dava conta de que não me pegou saindo do dormitório, e sim chegando. Enquanto ela olhava para mim de cima a baixo e examinava minhas roupas, depois as de Draco, e concluía serem as mesmas que usamos durante o jantar na noite anterior.

- Saiam todos! Preciso falar a sós com a Granger e o Malfoy!

Side Effect (Dramione)Where stories live. Discover now