10. Fall in Cry

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Chorar.

deixar correr (lágrimas de dor física, tristeza, emoção).

deplorar ausência de (alguém) ou sentir profunda tristeza.

afligir-se (por desgraça, infortúnio, desacerto); sofrer, atormentar-se.

Dentro dos vários significados em que a palavra chorar pode ter, eu me encaixo em todos neste exato momento, eu estava até bem feliz horas arás, mas a dor sempre chega pra mim.

Já me recomendaram todo tipo de ajuda, psicólogo que o diga, mas recusei todos sem exceção. No meu caso, a culpa foi minha, todos dizem que não, mas eu me culpo pela separação dos meus pais, segundo meu pai, me culpo porque tudo o que acontecia minha mãe jogava o peso de suas ações em minhas costas, teve um dia que esse peso que eu havia carregado me derrubou e a partir daí foi tudo ladeira abaixo, até chegar ao final do morro com a separação de meus pais. Mas esse fim não parou minhas dores emocionais.

Minha mãe ligou hoje a tarde, quase ao anoitecer, avisando o que meu pai já tinha previsto. Embora o amor fosse uma fábrica de realizações de desejos até a morte, não foi exatamente isso que aconteceu. Eu sabia que essa história de voltar e vir para o Canadá reconstruir nossa família, tijolo por tijolo, era pura fachada, mas por mais que isso já estava previsto eu não queria acreditar naquilo. É como a criança que pede para ver o real papai Noel, quando reconhece o disfarce do tio gordinho, pois não quer aceitar a simples verdade, a de que o papai Noel não existe.

Assim que termino de falar com minha mãe ao telefone e passei para o meu pai para resolver-se com ela, eu comecei a sair pela porta de casa, sem rumo. Meu pai até me impediria se Jack não tivesse entrado na frente dele para impedi-lo, me dando um abraço. Só Jack sabia o que eu estava passando naquele momento, e ele entendia o porquê da reação histérica, viver em um conto de fadas até os 16 anos não é pra qualquer um né? Não me considero 'sonhadora' quanto a isso, mas vivi tempo bastante tendo os meus olhos sendo ocultados da real trilha que tomou minha vida. Isso é uma verdadeira merda.

Já estava escuro e não me lembro de como vim parar aqui e nem pra qual direção fica a minha casa, só sei que estou praguejando-me já faz uns 30 minutos por ter saído de casa sem o celular, bem, um localizador, mapa, qualquer coisa me faria bem.

Minhas lágrimas não param de escorrer pelo meu rosto, desde que eu saí de casa e a essa altura nem me importo mais com o estado deplorável que meu rosto deve estar. Só seco as lágrimas quando elas tomam o rumo para minha boca e quando o gosto salgado não me agrada, caso contrário deixo-as escorrerem do meu rosto direto ao chão.

Eu tenho um ponto de vista nessa história, eu nunca consigo ser feliz por completo. Sempre tem algo, uma fagulha, uma linha, que não deixa eu atravessar para o lado da felicidade, algo sempre me puxa para baixo e eu me afogo. Eu posso estar depressiva, mas nada vai curar essa dor que eu venho sentindo por anos. Sempre sorrindo por fora e chorando por dentro. Desde as brigas em alto tom, que eu escutava através do meu fone no último volume, até meu maior confidente, o travesseiro, que sugava todas as minhas lágrimas tarde da noite.

Nesse tempo de confusão no Brasil, eu aprendi a chorar. Eu chorei mais em 3 anos, do que eu já chorei minha vida inteira. Parece que o destino, Deus, seja lá quem estiver por trás disso gosta bastante de brincar com minha vida e transformou minhas lágrimas em uma roda gigante, que basta um botão para liga-la e as lágrimas escorrerem como em um ciclo.

Não aguento mais as minhas pernas de tanto andar, acho um meio fio livre, sem plantas e sento, esticando minha perna e apertando o casaco sobre mim. Até que sinto um barulho de papel se amassando no bolso de meu casaco. Vou entrando com a mão em todos os bolsos até achar um pequeno pedaço de papel amassado que continha um endereço em uma caligrafia bem treinada. Santo Jack, obrigada.

Life Youth • shawn mendes •Onde as histórias ganham vida. Descobre agora