CAPITULO 4

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George Salvatora. O rei das Ilhas do Sul, ao completar seus setenta anos foi contaminado com uma doença que contagiava muitas pessoas na época, os livros não detalham qual era a doença, mas enfim, sua filha queria reinar após a morte do pai. Porém, por ser muito nova, George resolveu que quem melhor tomaria as medidas que mais ajudariam o reino seria seu conselheiro real, por quem tinha grande consideração, Handrick Valant. E assim passou sua coroa para ele.

A ideia não foi muito aceita por sua filha que já sem a mãe e prestes a perder o pai, fugiu do reino. Depois disso nunca mais se ouve falar dela. Até hoje. Onde uma suposta descendente dela aparece e para meu desgosto sou eu.

- Uma princesa, eu? - digo com desdém. O rei e a rainha se entreolham e observo que a única coisa que o principe faz é me olhar e de vez em quando sorrir. Não consigo decifrar o que ele quer dizer com isso.

- Harley, querida. Não estamos dizendo que você terá que ficar aqui. Mas imagine o quanto honraria sua família se fizesse isso.

Eu sorrio com sarcasmo e respondo:

- Família? Que família? Meus pais, de acordo com vocês, nem são meus pais biológicos. Como podem falar comigo sobre família?

Me levanto e saio da sala.

Não percebo se alguém me segue. É uma ideia muito louca e sem sentido ou lógica alguma. Como uma princesa? Simplesmente assim? E o pior: se isso for verdade, minha vida literalmente foi uma mentira por quinze anos.

Não quero chorar, mas esse é quase um pedido impossível para mim mesma.

Por tantos anos vivi achando que seria uma simples serralheira pelo resto da vida, trabalharia com meu pai e ajudaria minha mãe em casa. Mas, sem mais nem menos todas essas espectativas se foram, como uma folha que se solta de uma árvore e é levada pelo vento.

Enquanto subo as escadas em direção ao corredor do quarto que estava, eu penso em tudo que está acontecendo e na suposta loucura que tudo isso é.

Paro por um instante em frente a porta do quarto e me apoio sobre ela. É surreal. Coloco a mãos sobre a cabeça e penso. O que será de mim daqui pra frente? Com minha vida completamente mudada por tudo isso ao meu redor. Observo uma porta aberta no fim do corredor. Uma mais clara quando comparada a do quarto. Vou até lá e ao olhar lá dentro me surpreendo. Uma biblioteca.

Enorme, gigante. Livros por todos os lados. De todas as cores. Prateleiras muito altas se estendem pela sala, que de acordo com minha medida é o triplo do tamanho do quarto - que é bem grande a propósito.

Ando por ela e fico pensando se algum desses livros devem me mencionar ou pelo pelo menos meus antepassados. No fundo da sala uma porta grande. De vidro.

Lá fora uma sacada. Simples com uma vista esplendida da cidade. Cada casa, cada luzinha pequena, tantos dos postes quanto das estrelas. Todas lá, vistas de um único lugar.

Apoio meus cotovelos sobre o guarda corpo e permito que algumas lágrimas escorram. É estranha a sensação de ser alguém que você nunca ao menos imaginou. Ser alguém que você nem ao menos sabia que era.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Distraida é pouco para me definir agora. Estou aérea. Escuto passos atrás de mim, mas pouco me importo com quem possa ser. Não ligo para nada nesse momento. Mas assim que olhos para trás me assusto com a surpresa de vê-lo aqui. Com um sobressalto me afasto de sua mão que tocava meu ombro. O principe é definitivamente alguém insuportável.

- Você é louco?
     
- Desculpe-me se te assutei, não era a intenção - sua voz não indicava arrependimento e sim uma quase dó - só vim te procurar, você saiu correndo e nos preocupamos. Desculpa dizer isso, mas você é uma garota... - ele parecia procurar as palavras certas - com uma personalidade forte.

Passo a mão pelo cabelo e me afastando mais dele digo:

- E o que te faz pensar isso? Você não me conhece.
    
Ele sorri. E apenas fala:

- Você também não me conhece. Mas parece me definir bem.
   
Não respondo. Admito que ele me deixou sem palavras. E olhando de um certo ponto ele não estava errado.
    
- Me deixa em paz. Por favor - indago com a voz mais baixa. Só quero ficar sozinha e talvez chorar um pouco mais.
    
Me viro de volta para aquela vista perfeita. E volto a observar a cidade.

Ele não saí, se apoia também no guarda corpo ao meu lado. E olhando para frente começa:

- Quantos anos você tem?

Sua voz é suave. Nada grossa como a do pai. Mas também não muito fina.

Não quero responder. Mas ele está aqui, do meu lado. E começo a até que gostar de sua companhia.

- Quinze e você?

- Um ano mais velho. Posso te fazer uma pergunta princesa?

Olho para ele. Seus olhos são mais intensos ainda com a luz da lua refletindo sobre eles.

- Primeiro, não me chame de princesa, Harley está bom. Segundo, só uma.

Ele sorri novamente espondo aqueles dentes brancos.

- Você realmente não sabia que era descendente de uma linhagem da realeza?

Sorrio. Não de alegria ou qualquer coisa semelhante, mas de confusão com aquela pergunta sem lógica dele. Firme, eu respondo:

- Acha que se eu soubesse estaria aqui, nessa sacada, falando com você?

- Uau! Você é surreal sabia? - faço uma cara de confusa, como assim "surreal"? - Não dá a miníma para quem está na sua frente.

Como ele pode falar aquilo? Seu ego bateu no nível máximo agora. Me viro e quando estou prestes a sair da sacada ele segura meu braço com suavidade e novamente com um sorriso estampado, ele diz:

- Gosto disso. Você não liga para meu título.

Olho para ele, ainda séria mas com outro pensamento. Está bem, ele não é tão egocentrico como achei que fosse.
     
Solto minha mão da dele. E o encaro. Ele continua:

- Não quer conversar mais? Antes de entrar e ter que tomar a decisão que mudará sua vida para sempre?

Claro, sem pressão. Vou para seu lado, mas mantendo uma boa distância.

- Mayson. Me chame de Mayson. Pode ser?

- Claro. Mayson. - repito seu nome. É poético e ouso dizer, bonito também. - me chame de Harley.

- Pode deixar. Então... Harley - meu nome saí doce de sua boca - Pretende ficar?

Ele chega no assunto que não queria falar. Não queria que isso tivesse que ser uma decisão.

- Não sei. E se vocês estiverem errados? - começo a falar melhor com ele. Mayson está sendo a coisa mais próxima de um amigo no momento. Mesmo eu não estando aqui nem a um dia ainda.

- Minha cara Harley, podemos ser muitas coisas, menos errados. Os melhores detetives cuidaram desse caso. Vai por mim, você é uma princesa.

Deixo de olhar para ele e volto a olhar o horizonte. De vez em quando ele me olha e apesar de não estar o encarando, sinto seu olhar. É reconfortante estar aqui com Mayson, não o conheço, mas começo a perceber que se eu ficar aqui, ele poderá ser um grande aliado e quem sabe um amigo.

CONTINUA...

  

Uma Coroa em Minha Vida    [CONCLUÍDO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora