57 - O novo cerco

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Quando o professor ouviu um helicóptero se aproximando do galpão onde ele estava escondido, pressentiu que seus dias de liberdade estavam contados.

Subiu até o terraço e pode observar que se tratava de um helicóptero da imprensa, que voava baixo nas imediações.

Ao longe percebeu uma movimentação de carros de polícia em todas as saídas das docas. Se não conseguisse escapar pelo Tâmisa, desta vez estava realmente encurralado - pensou.

Ao menos conseguiu passar na casa da Srta. King. Agora dependia totalmente dela - concluiu desanimado.

Fez mais algumas ligações para seus contatos da região, que poderiam lhe dar uma ajuda, mas alguns não quiseram se envolver, devido à proximidade das autoridades e outros não tinham como auxiliá-lo.

Decidiu então permanecer oculto onde se encontrava e contar com a sorte para que justamente o seu esconderijo não fosse vasculhado, mas sabia que essa era uma chance em um milhão, pois principalmente o investigador Thompson faria de tudo para colocar as mãos nele.

O celular tocou e após visualizar o número, atendeu.

- Onde o senhor está?

- Nas docas...

- E qual é a sua situação?

- Creio que serei preso nas próximas horas. Não tenho para onde fugir.

- Desculpe, mas o senhor demorou demais para sair de Londres.

- Eu tenho meus motivos...

- Então carregue-os para a prisão...

Ficou olhando para o celular por alguns segundos, antes de arremessá-lo no chão. Arrependeu-se imediatamente do gesto, não pela perda do aparelho, mas porque não gostava de perder o controle.

Em todas as situações em que isso aconteceu, acabou metendo os pés pelas mãos e os resultados foram muito ruins.

Buscou dentro do galpão o melhor local para se esconder. Encontrou um velho armário onde coube, após fazer uma verdadeira acrobacia, e ficou lá em silêncio, aproveitando para estudar quais seriam seus próximos passos, caso a sua prisão se concluísse.

Não havia muitas opções. Apesar de ter uma situação financeira muito boa, fruto da herança de família, dificilmente o melhor advogado inglês não conseguiria libertá-lo facilmente, pois a sua fuga pusera tudo a perder.

Mas ter fugido foi necessário. Não conseguiria sair impune das acusações, tudo apontava para ele e teria sido preso meses atrás na MES, caso pagasse para ver. Tinha certeza disso.

Depois de raciocinar bastante chegou a conclusão de que não havia quase nada que pudesse fazer. Caso fosse preso, falaria o menos possível, dificultando o serviço dos investigadores, e procuraria ficar protegido se fosse enviado diretamente para algum presídio, onde poderia ser uma vítima fácil nas mãos de várias pessoas.

Agatha tivera uma sorte absurda em sua estadia na prisão feminina, mas Adam não gostava de deixar sua vida a mercê do acaso. Gostava de controlar todos os passos e fazer isso sem liberdade era quase impossível, mesmo tendo dinheiro e muitos amigos.

Começou a relaxar e o fez com tanta eficiência que quase pegou no sono algum tempo depois.

Quase...


💠💠💠💠💠

Thompson e seu parceiro chegaram após vinte minutos que a equipe principal de detetives comandados por ele.

- Não o achamos ainda e vasculhamos tudo!

- Isso é impossível! Trouxeram os cães?

Mal o investigador terminou a pergunta, uma blazer da MET - Polícia Metropolitana de Londres, estacionou ao lado de seu veículo, de onde desceram dois policiais, em cujo uniforme existia uma insígnia com a imagem de um pastor alemão.

- Agora vamos encontrar nosso fugitivo - disse Thompson sério.

💠💠💠💠💠

Quando os detetives vasculharam a casa onde estava escondido pela primeira vez e não o encontraram, Adam vislumbrou uma chance de conseguir escapar dali sem ser preso.

Mas quando ele ouviu o barulho dos latidos dos cachorros, conhecendo as histórias que contavam sobre esses animais, que por muitas vezes gerava acidentes como mordidas em pessoas inocentes, nem queria imaginar o que poderiam fazer com ele, assim que o encontrassem.

Então, para evitar um risco maior para a sua segurança, tomou a sensata medida de se entregar. Antes disso, tentou usar o aparelho de celular, que apesar do choque com o chão, ainda funcionava.

Só conseguiu enviar uma mensagem rápida do que faria a seguir, depois formatou o aparelho rapidamente, para eliminar todos os seus dados particulares. Não satisfeito, retirou o chip e o quebrou em vários pedaços.

Saiu do esconderijo e seu longo corpo agradeceu. Levantou os braços e abriu a porta da frente da casa.

O primeiro a vê-lo foi Turner, mas dois detetives se apressaram em chegar até ele e jogá-lo no chão para algemá-lo.

O investigador achou uma atitude exagerada, mas não disse nada, pois afinal o professor deu muito trabalho para todos e eles mereciam esse momento de ação.

- Bom trabalho rapazes! - disse Turner tocando no ombro do detetive mais baixo - Podem levá-lo até a sede, para iniciarmos o interrogatório.

Adam ficou em silêncio, mas o quebrou quando viu Thompson chegando.

- Achei que escaparia outra vez! - disse ele de forma irônica.

- Só adiou o inevitável, Adam. Mas poupemos as palavras, teremos muito para conversar num local mais reservado...

- Nada disso, investigador Richard Thompson. Eu não vou dar informação alguma para ninguém e o senhor sabe disso. Só lhe peço um favor, somente um: cuide para que ela também não perca a vida, devido a somatória dos nossos erros.

- Do que o senhor está falando? Diga! - Thompson disse elevando a voz para o professor, que baixou a cabeça e o ignorou.

Deixou que os detetives o conduzissem e ficou por um tempo parado, numa profunda reflexão. Depois pegou seu celular, ligou para Agatha e como ele não atendeu, deixou-lhe uma mensagem.

Esperava que com isso pudesse alertá-la, pois tinha certeza de que Adam se referia a ela. Chamou Turner num canto e quando os demais detetives se foram, falou calmamente.

- Temos outro local para ir imediatamente.

- E quanto ao professor? - Indagou ele.

- Não creio que arrancaremos muita coisa dele agora. Só quando ele passar algum tempo refletindo numa cela vai poder nos ser mais útil. Nesse momento precisamos fazer uma rápida visita na casa de alguém, para descobrir algo que deixamos de observar corretamente.

- E o que imagina ser?

- Provavelmente a pista que nos levará direto para um assassino...

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