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Desta vez ele não vai escapar - Thompson pensou ao vê-lo chegando.

Já estava vigiando a casa há vários dias e viu quando o professor entrou e menos de uma hora depois, saiu e adentrou num sedã escuro.

Ligou seu próprio veículo e o seguiu pelas ruas de Londres, rumo a outra periferia da cidade.

Adam estacionou nas proximidades de uma zona portuária e partiu a pé através de vielas escuras.

Foi no encalço e viu quando ele entrou numa casa onde todas as luzes estavam apagadas.

Deve ser uma casa que ele usa como esconderijo - imaginou o investigador.

Decidiu ficar oculto por algum tempo, até que o professor dormisse, para poder ter uma vantagem sobre ele.

Mais de uma hora depois, invadiu com cuidado a residência por uma janela e ao entrar num tipo de sala, ouviu uma voz atrás de si.

- Por que demorou tanto?

O ataque veio rápido e certeiro na sua perna direita, antes que ele pudesse tirar o revólver de dentro do paletó.

Caiu de joelhos com uma dor alucinante na panturrilha, agarrando a perna com as duas mãos.

Ficou esperando um novo e fatal ataque, mas este não veio. Só teve tempo de ouvir uma porta sendo aberta e o barulho de um taco de madeira sendo jogado no chão, enquanto procurava o celular.

- Alô, venha me ajudar.

Passou para seu parceiro as instruções do lugar onde se encontrava e ficou massageando a perna até que ele chegasse.

- Mas que idiotice o senhor fez, podia ter sido morto...

- Mas não fui! Me ajude a levantar.

Pouco tempo depois, a dor já amenizava e percebeu que foi somente uma pancada e não havia um trauma em sua musculatura para se preocupar.

Após investigarem o local, descobriram algumas anotações deixadas pelo professor e uma pista que Thompson não queria encontrar.

Uma jaqueta azul feminina suja de sangue indicava que ela estivera ali ou que ele trouxera a peça e a deixara de propósito. O investigador não tinha certeza nem de uma coisa ou de outra, e precisava descobrir quais seriam as motivações para isso, a não ser tentar se livrar de alguma incriminação injusta, o que na sua opinião conspirava justamente para o contrário.

Revirou a jaqueta, encontrando um papel amassado dentro de um bolso interno e após o ler, teve uma triste suspeita.

- Por que não ligou para mim quando o descobriu? Poderíamos ter colocado as mãos nele...

- Eu queria encontrá-lo sozinho para podermos conversar, Turner.

- Precisamos retornar até a casa da Srta. King e ver se ele deixou algo por lá - continuou Thompson.

- Quando ela retorna?

- Daqui um mês, quando as férias dos seus pais acabarem.

- Quer que eu guarde esta prova?

- Por favor! - o investigador entregou a jaqueta, mas ficou com o bilhete encontrado - Vamos retornar para o centro.

Na casa de Agatha não precisaram vasculhar muito para encontrar num criado-mudo um recado do professor, pedindo que ela tivesse cuidado com todos aqueles que conhecia, pois poderia haver um assassino entre eles.

Poderia não - havia riscado Adam na mensagem e escrito acima dele que "havia" um assassino à espreita.

Thompson desconfiou que um simples recado era algo que o professor poderia fazer de muitas outras formas e não seria prudente se expor tanto para isso.

- Tem que haver mais alguma coisa, Turner. Vamos continuar procurando.

Perderam mais uma hora dentro da madrugada, percorrendo a residência se utilizando de pequenas lanternas, procurando assim não chamar a atenção dos vizinhos e, consequentemente, da polícia.

Quando estavam para desistir, Turner achou estranho um quadro que notou num pequeno corredor que dava acesso para o quarto da Sra. King. Esta obra lhe chamou a atenção quando bateu a iluminação sobre ela, pois não existia nenhuma imagem sendo retratada nele.

O arrancou da parede e ao virá-lo, notou preso por uma fita um pequeno envelope. Chamou o parceiro para que juntos lessem o seu conteúdo, que se mostrou mais um enigma do que uma descoberta.

"Querida Agatha, roubei essa moldura da escola. Não está linda a Srta. Catarina Campbell nele?"

Thompson olhou para Turner, sem nada entender, mas decidiu que deveriam deixar o quadro onde estava e depois discutir a sua razão de existir com a Srta. King.

Ele lembrou-se também que o diário de Catarina se encontrava em poder dos detetives da Scotland Yard, então, sem perder tempo, tirou diversas fotografias da moldura e enviou para o seu contato naquela instituição, pedindo que verificasse se havia alguma referência ao mesmo dentro do diário ou em mais algum material apreendido do suspeito, no caso o Sr. Green.

Ao mesmo tempo, aproveitou para tirar uma foto do bilhete encontrado na jaqueta que estava no último esconderijo conhecido do professor, e pediu para que seu contato desse andamento àquela investigação, que estava sob a responsabilidade da polícia especial londrina.

- Não temos mais nada a fazer aqui, Turner. Vamos retornar para Luton, pois logo teremos que iniciar mais um dia de trabalho.

- Essa jornada dupla está acabando comigo...

Thompson olhou para o parceiro e concordou. Ele parecia que não dormia há dias.

- Vamos fazer o seguindo: ao chegarmos em Luton, o senhor me deixa na central e vai descansar um pouco. Eu lhe cubro por lá.

- Eu só tenho a agradecer por isso - ele conseguiu dizer.

Pela manhã, com a rotina investigativa iniciada, Thompson recebeu uma ligação importante do seu contato.

- Infelizmente não trago boas notícias. O bilhete nos levou até uma solução nada agradável para o desaparecimento da detetive. Eu sinto muito.

Thompson ficou por um tempo mudo, com um aperto machucando seu coração.

Ossos do ofício - pensou.

- E quanto a aquele seu outro pedido nada normal, sobre o retrato, parece que consegui encontrar uma cópia perfeita dele, num livro que conta a história da MES. Pelo menos da moldura dele, já que na imagem que encontrei no livro existe a pintura de uma moça...

- Sinceramente, parece uma história de fantasmas... - completou ele rindo sozinho, pois o investigador estava triste demais para rir.

O seu contato lhe contou os pormenores da novidade e disse que seria bom recolherem a moldura.

- É melhor não! - pediu Thompson - O professor o deixou ali por algum motivo que somente a Srta. King pode nos contar. Creio que seja melhor deixarmos ela nos dar uma explicação.

Após desligar o telefone, ele pensou em quantas coisas ainda teriam que acontecer para aquele caso finalmente chegar ao fim.

E a única constatação que chegou em sua mente foi de que mais alguma morte ainda estaria por vir e eles não tinham como fazer nada para impedir que isso acontecesse.

Nesse ponto ele concordava com a correção que o professor fizera no bilhete deixado para Agatha: havia um assassino solto e a espera para agir novamente. Restava descobrir a sua identidade.

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