36 - Uma reportagem

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O British Museum em Londres se encontrava com pouco movimento quando Nanna chegou, provavelmente devido ao frio daquela noite de sexta.

Foi direto ao ponto de encontro, próximo às relíquias egípcias que ela adorava.

Estava um pouco nervosa, seu trabalho chegava ao fim e não tinha nada de novo para apresentar aos detetives de Luton.

Além disso, não queria de afastar de Derick, mas com o término da missão, com toda certeza, poderia ser enviada para qualquer outro canto do mundo, onde algum tipo de investigação necessitasse ser feita.

Nanna ainda se encontrava perdida em seus pensamentos quando percebeu a presença dos detetives, os quais somente conhecia por foto.

Eram mais bonitos pessoalmente, ela teve que concordar, mas pareciam sérios demais para o seu gosto, bem diferente da sua atual paixão.

— Srta. Nanna? — disse o mais alto deles — Sou Turner e este é o meu parceiro Thompson.

Ela os cumprimentou formalmente com apertos de mãos, depois seguiram como visitantes comuns do museu.

— Então o Sr. Mitchell retornou para a MES? — inquiriu Thompson.

— Sim! — respondeu ela secamente — No início desta semana.

— Ele deixou clara a sua intenção com este retorno? A senhorita sabe se Derick tinha algum plano em mente?

Nanna parou e se encostou na proteção de um artefato asteca.

— Não falamos muito sobre isso, detetive. Tudo que ele me contou se encontra no relatório que envie para o meu supervisor da Scotland Yard. Palavra por palavra.

— Nós lemos o seu relatório — disse Turner — Mas acontece que ele parece muito vago e por isso viemos encontrá-la, buscando algum detalhe que não tenha mencionado no papel...

— Sim, senhorita — complementou Thompson — O papel é muito frio. Queria ouvir de sua própria boca um resumo da sua investigação junto ao Sr. Mitchell.

Nanna narrou-lhes então todo o seu trabalho de investigação, desde o primeiro contato, as visitas que fizeram juntos para alguns dos envolvidos, das descobertas com a Srta. King na prisão e de tudo o mais que conversaram sobre o assassinato de Emilly.

Os dois detetives ouviram atentamente, com Thompson fazendo pequenas interrupções para anotar um detalhe ou outro.

No fim, rumaram para a saída do museu e procuraram uma lanchonete para sentar.

Turner pediu licença para ir ao banheiro, depois daria um telefonema. Enquanto isso Thompson aproveitou para fazer mais algumas especulações.

— Tenho somente mais dois pontos a discutir com a senhorita. O primeiro é há quanto tempo está apaixonada por Derick?

Nanna disfarçou um sorriso simpático e de forma elegante arrumou seu cabelo.

— Foi tão fácil assim de notar, detetive?

— Pode me chamar de Richard e sim, uma das minhas especialidades é o comportamento humano e a senhorita deixou isso bem claro desde o início.

— Ah, me desculpe — completou ele — Não estou querendo ser indelicado, é que isto me é importante.

— Tudo bem Richard — disse ela exibindo outro belo sorriso — Eu sei que não deveria me relacionar com ele, mas foi inevitável. Derick é uma pessoa apaixonante e envolvente, e creio que ele nem sabe disso ainda, é ainda tão jovem...

— Isso me leva para minha segunda questão, Srta. Nanna. Em algum momento suspeitou que o Sr. Mitchell poderia mentir em relação a alguma coisa, principalmente no que diz respeito ao professor Green?

Ela ficou pensativa por algum tempo antes de responder, segurando o queixo e fez que não com a cabeça.

— Não, nada que possa ter levantado qualquer suspeita minha, mas o investigador, desculpe, você, Richard, teria que me dar mais detalhes sobre o que tem em mente...

Agora foi a vez de Thompson sorrir para ela, algo que não era comum fazer para outras mulheres, a não ser para a esposa e se sentiu envergonhado, mas disfarçou rapidamente.

— Levando em conta que precisaria conhecer o professor pessoalmente para poder lhe responder de forma mais satisfatória – concluiu ela.

— Senhorita, imaginamos se não haveria alguma ligação entre Derick e seu professor, algo obscuro e que ainda não temos certeza, e que poderia estar relacionado ao crime ocorrido na MES.

— Ele sempre falou com carinho do professor, como se estivesse falando do próprio pai. Acho que eles têm uma amizade muito profunda, apesar...

Nanna se calou pensativa, mas Thompson lhe fez um gesto com as mãos para que continuasse.

— Bom, apesar da desconfiança que gerou um tipo de ódio dentro dele, quando tinha certeza que ele fora o responsável pela morte da Emilly. Mas depois, quando tudo apontou na direção da Agatha, parece que ódio voltou a se transformar num tipo de amor, se é que me entende...

— Entendo muito bem, senhorita. Existem épocas da nossa vida em que amamos e odiamos com uma facilidade incomum. Para algumas pessoas isso muda com o tempo, com o despertar da maturidade, mas para outras, isso será uma constante para o resto de suas vidas.

— E quanto a Srta. King? — prosseguiu o detetive — Derick continua convencido de sua culpa, mesmo após falar com ela na prisão?

— Sim Richard, ainda a vê como uma assassina. Porém, tem a mente aberta e se dispôs a ajudá-la a provar a sua inocência, se isto for possível.

— Isto tem algo a ver com o seu retorno para a MES?

— Em partes sim. O outro motivo você já sabe...

Thompson a olhou de forma curiosa e balançou negativamente a cabeça.

— Não vai me dizer que ele ainda está apaixonado por ela?

Nanna não respondeu nada, nem precisou, pois a mudança no seu semblante disse tudo.

— Sinto muito, senhorita.

— Fique tranquilo Richard, não será a primeira vez que me apaixono por alguém que não devo e que não sente o mesmo por mim.

— Eu tenho uma ideia — disse Thompson mudando de assunto — A senhorita disse que precisaria conhecer um pouco mais sobre o professor Green para realizar uma análise mais profunda sobre sua ligação com o Sr. Mitchell. Então por que não faz uma entrevista com ele na escola?

— Seria possível? — questionou ela com um olhar esperançoso.

— Claro! Posso falar com seu supervisor e solicitar que faça uma reportagem sobre as mortes ocorridas na escola...

— Para isso, é claro, eu vou ter que visitar a escola... Imagino a cara do Derick ao me ver por ali, andando de braços dados com seu querido professor...

Nanna levantou-se para se despedir e num impulso abraçou o recatado detetive e lhe beijou o rosto. Ele foi pego de surpresa pelo ato dela e permaneceu imóvel.

— Muito obrigada.

Ela partiu o deixando boquiaberto, cuja expressão se transformou num sorriso bobo. Guardou o relatório na sua pasta, enquanto imaginava o quanto seria fácil para alguém se apaixonar por ela.

Ainda sorria quando Turner retornou.

— Onde está a nossa espiã irlandesa?

— A Srta. Nanna não é da Irlanda, já lhe disse isso...

— Só lembro que o seu país de origem começa com a letra i, mas vamos ao que interessa: conseguiu convencê-la?

— Nem foi preciso, ela adorou a ideia — respondeu Thompson passando suavemente a mão sobre seu rosto.

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