Capítulo II - Episódio 10

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E a tinta se dá em ranhuras, pintando dentro de molduras

que respiramos pelas manhãs, por nossas entranhas...


No meio da canção, Derris parou de cantar e continuou tocando o alaúde. Houve um momento em que ele se perdeu e tocou algumas notas dissonantes. Anita pensou em usar o momento para entrar no quarto, mas a canção que veio em seguida a deixou perplexa.

O estilo da música mudou de algo calmo e feliz para algo triste. O tom da música mudou e Derris começou a cantar Llanuras Perdidas.


Ímpera mandou para nós o ouro de que jamais serão donos

aqueles que perambulam por estradas entregues ao abandono,

Enquanto de fugazes e efêmeros ritos vivem as histórias dos ricos,

o povo passa fome cantando a quatro cantos suas dores e gritos,

A magia promete o pão, mas a escassez se alastra pelo chão,

e de que importa tantas bençãos pintadas na Torre histórica,

se a pedra é o que sobra na mesa das almas heroicas,

os cânticos de dores são os mais populares, pois nessa terra,

A dor tomou os corações por lares.

E nossas estradas e histórias continuam às pregas,

Na Grande Torre de Pedra, na Costa Vazia de Porto das Pedras.


— Uau — disse ela quando o silêncio ocupou o quarto. — Por essa não esperava.

Derris se virou e sorriu.

— Olá. Faz dez anos que não tocava. Deu um trabalhão afinar. Engraçado como, mesmo com o tempo, a habilidade fica.

— Você sempre teve dom para música. É por isso.

— Está insinuando que eu deveria ser um bardo em vez de administrar os negócios do meu pai?

Derris fez sinal para ela entrar e fechar a porta.

— Não estou dizendo nada — falou Anita entrando no quarto. — Mas tenho certeza de que você se daria bem. Você também escrevia letras quando era mais novo, não?

— Você sabia que essas duas canções são do mesmo autor? Vaan en'Vanatoris.

— Vanatoris? O nome daquela cidade que afunda?

— Sim. É um costume entre ricos e famosos usar o nome de sua cidade em seu sobrenome.

Anita não sabia nada disso. Não entendia nada dessas coisas.

Derris sorriu pondo seu alaúde no case e fechando-o. Pegou a grande mala e pôs sob a cama.

— Mas não é essa habilidade que quero desenvolver — disse aproximando-se de Anita. — Preciso aprender a usar uma arma. E de repente um escudo.

— Ué — disse e não conseguiu segurar o riso. — Quer virar soldado agora?

— Anita. — Derris estava sério e parecia um pouco irritado. — Você sempre pensa assim, em linha reta.

A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das PedrasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora