Entrou no leito e os sorrisos se encontraram ao rever o velho amigo. De camisola branca, nunca mais vestiu o preto de quando vivia nas ruas, um preto não tão escuro quanto a própria cor da pele. Alguns dentes amarelados se perderam, cabelo e barba eram escassos. A alegria a mesma.

— É bom te ver, garoto.

— Nunca serei um adulto aos seus olhos, amigo?

— Não. Desde àquela época nós temos a mesma diferença de idade. Ainda é um garoto para mim, que estou a cada dia mais velho.

O "garoto" riu.

— Pelo menos descobriu ser bem-humorado com o passar dos anos.

— Graças a você, bom velhinho.

Abriu o pacote da barra de chocolate e deu ao Charles.

— Eu te ensinei bem mais do que isso.

— É verdade.

— Graças a você, eu deixei de sonhar. Parei de acreditar que o mundo se transformaria, tornaria um lugar melhor, e comecei a acreditar na minha transformação. Mudei minha vida e melhorei. Criei minha terceira família, pedi para esta ficar sempre unida, mas o desejo atendido foi o de ter o amor de volta através de minha filha. Eu realmente obtive o poder da manipulação.

— Sonhos são muito bons, garoto. Melhor ainda se o tornamos em realidade.

— Minha filha é cheia de sonhos, desejos, e pedidos. Irei ensiná-la a diferença de cada um. Darei oportunidades que não tive. E serei o bom velhinho que irá sempre abraçá-la.

Uma lágrima escorreu no rosto. Não enxugou desta vez. O velho amigo deu risada e abocanhou um pedaço do chocolate.

Cada visita demorava menos. Charles se cansava rápido, só não deixava de sorrir.

Despediu do senhor que iluminou sua vida e sua alma no fundo do beco escuro de Londres.

O garoto adulto saiu do hospital, prosseguiu com o pedido de fazer tudo que pudesse. Prosseguiu em ser feliz.

🔷🔷🔷🔷🔷

— Eu quero que todos aplaudam o grupo formado pelo Sr. Taylor e as senhoritas Priscilla e Sarah, responsáveis pelo conto que acabei de ler.

Os três se levantaram e foram saudados pelos demais alunos.

— Na verdade, professor, a autoria do conto foi inteiramente do Anderson — disse Priscilla e arrematou — Nós duas só ajudamos na correção.

— Foi o que eu pensei! — respondeu Adam de forma categórica — Logicamente que terei que fazer algumas adaptações, mas em pouco tempo iniciaremos os ensaios.

— Escolherei, entre os personagens secundários, três alunos que ensaiarão também os papéis principais, pois quero que esta apresentação seja perfeita e não pretendo me arriscar.

— Agora vamos dividir estes papéis de apoio e depois estão dispensados.

Terminada a aula, Adam se retirou rapidamente e antes de ir tomar uma xícara de chá, rumou para o corredor do segundo andar, onde tinha certeza de que encontraria alguma surpresa.

Teve certeza assim que viu a moldura vazia, sem mais nada a retratar e sentiu um nó na garganta ao imaginar que a tela agora estava preparada para ele, assim como viu no pesadelo da noite.

Já ia se virar para ir embora quando notou que a moldura aparentemente se encontrava meio torta e com um dos seus lados um pouco afastado da parede.

Se aproximou e ao tentar endireitá-la, acabou por puxando-a um pouco mais, revelando que ela parecia ser um tipo de porta.

Atrás dela viu uma saliência mal feita na parede, em formato arredondado e mesmo temendo ser picado por algum inseto, vasculhou lá dentro com uma mão desprotegida e encontrou somente um saco vazio.

Seja o que for que estava escondido ali, pensou, não existia mais ou estava em poder de alguém mais esperto do que ele, alguém que ele imaginava saber exatamente quem era.

================

Meus amigos, este capítulo eu dedico de coração ao amigo DiRockS, que, primeiramente, deu a ideia do concurso para escolher um conto para ser anexado ao meu livro, dando um ar diferenciado para este importante capítulo; e também por depois, quando o concurso não surtiu o efeito que esperávamos, devido a complexidade do tema e o tempo proposto (afinal, o "Show tem que continuar"), de ceder a sua genialidade para compor ele mesmo o belíssimo conto que agora integra o meu livro e que foi de um bom gosto e sensibilidade únicos, me surpreendendo na primeira vez que li e percebendo que a sua intenção foi, sinceramente, de encontro ao que eu imaginava, assim como citou o famigerado professor Green. Para este meu amigo o meu mais profundo agradecimento, a Encenação Mortal ficou ainda mais bela com o seu toque genial. 👏👏👏👏👏👏👏👏

Encenação MortalWhere stories live. Discover now