Capítulo XXXIX

15 6 0
                                    


2 minutos.

Calena olhou para mim e piscou.

"Ufa"

- Confesso que menti, esse tempo todo ele estava na minha casa. Mas tomem cuidado, não vão me atacar em... Vocês sabem que eu sou uma bruxa muito má! - Ela gargalhou, fazendo que sua voz ecoasse até as profundezas da galáxia. - O anjo quer fugir, vocês vão deixar?

As sombras fizeram que não com a cabeça, soltando uma gosma preta de suas bocas.

- Pois então, ele está invisível agora, e está esperando vocês darem uma brecha para ele passar...

"Ela está falando a verdade! Será que está me traindo ou tudo não passa de armação?"

1 minuto.

Olhei para a bruxa ereta na frente dos degraus da frente da casa. Dei passos lentos até ela e sussurrei em seu ouvido:

- O que está fazendo? A poção vai acabar em segundos!

- Calma - ela respondeu docemente.

Calena ergueu as mãos e com um forte impulso as jogou para frente. Um vulto brilhoso, do meu tamanho, se materializou de suas mãos e correu por entre as sombras jogando-se nas profundezas ocultas da galáxia.

- Peguem o anjo, ele está fugindo! - A bruxa gritou e apontou para o vulto que saiu de suas mãos.

Os oitos sombras dispersaram-se do circulo e voaram atrás do vulto de luz, todo esse tempo eles flutuavam em volta da casa, cercando todo o tipo de saída.

- Sua vez criança, aquele mundo ali é Órtan, vá até lá! - Ela sussurrou e apontou para um planeta amarronzado, que de longe parecia pequeno.

Saltei da estrela em um pulo rápido e sem que eu percebesse, já estava voando em alta velocidade em direção a Órtan.

0 minuto.

Eu não estava muito longe das sombras quando a poção acabou o efeito. Após o vulto brilhante, da magia de Calena, se transformar em brisa, os borrões perceberam que foram enganados, mesmo sendo burros. Eu estava cerca de 500 metros deles quando me viram bater as asas no breu. Meu rosto curvava-se com dificuldades para trás, tentando enxergar as sombras flutuando em minha direção. Elas não tinham asas, talvez por isso não voavam tão rápido como eu. Meu cabelo saltitava em minhas orelhas protegidas pela aquela espécie de madeira rústica e penas, que inclinavam-se para trás de acordo com o vento. As plumas de minha camiseta flutuavam como ar em meu tronco e meu corpo estava completamente ereto, apenas com as asas batendo quando necessário.

Dobrei mais o pescoço, vendo a pequena imagem de Calena, com as mãos juntas em baixo do queijo e os pés juntos. Seus vestido de flores azuis, como todos os outros, balançava com o vento na autura da canela. Enquanto as sombras tentavam voar na minha direção, os pensamentos chegaram ao momento inapropriado. Eu não queria deixar Calena sozinha, mesmo sabendo de seus poderes imbatíveis, ela parecia frágil. Eu sabia que a notícia de minha presença em sua casa chegaria a Admon e talvez as conseqüências não seriam boas. Apenas ao saber que quando eu voltasse para a Terra ela estaria lá, em minha casa, já me alegrava. Eu não sabia o porquê, mas havia uma ligação fortíssima entre mim e a velha bruxinha.

Colei as asas nas costas, não contraindo-as, mas encolhendo-as para que eu não precisasse mais batê-las. Foi como mergulhar em um profundo oceano, eu caia e caia, parecia nem me mover, a não ser pelo forte vendo que soprava em meu corpo.

- Ah! - Gemi ao sentir uma mão agarrar minha perna..

Olhei para trás. Eu havia esquecido que estava sendo perseguido. O que parecia ser uma fada, na verdade se mudara para uma sombra. As asas estavam podres, não funcionava mais, o cabelo era gosmento e a pele azulada. A certo ponto, era de se ficar com medo. O rosto era horrível, rasgado, perfurado, descascado, carne viva. Os dentes podres e pontiagudos. No lugar de mãos delicadas, mostrara um membro de três dedos, parecidos com patas de velociraptos.

- Me larga, trasgo! - Gritei sacudindo a perna.

Eu havia me desequilibrado, reergui as asas e as bati, flutuando em meio à galáxia.

As patas daquela coisa haviam fincado em minha canela, a roupa era forte e não rasgou nem se quer uma linha. Era mágica.

A sombra rangia os dentes e fuzilava-me com apenas o olho direito, ela não tinha o esquerdo. Apenas um buraco de carne cobria o lugar.

Antes mesmo deu pensar, todas as sombras já estavam rodeando-me, prontas para atacar. Ou não. Na verdade, elas não queriam me matar, levar-me-iam vivo para Admon. Ao ver mais de perto, nem todas as sombras eram humanóides, algumas tinham corpo de centauro e homens-ratos. Mas foi raro ver alguém com todos os membros.

"Se Calena estivesse aqui, poderíamos curar todos eles!"

Mas ela não estava. Eu teria que dar conta de todos. Um por um.

Anjo BélicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora