Capítulo XXII

30 6 0
                                    

 
  TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM

  – O que é isso? – Flik deu um pulo da cama.

  – É um despertador! – gargalhei.

  Flik pegou e observou o relógio que ficava em cima da mesinha ao lado de minha cama.

  Arrumamos-nos e fomos para a escola de moto. Eu e Flik em pouco tempo já havia nos tornados melhores amigos.

  Juntamo-nos todos de novo, no canto desabitado da escola. Flik olhava maravilhado.

  Apesar de eu não entender muito esse lance de magia pude perceber que eu continuava um anjo em qualquer mundo. A única coisa que mudou foi a roupa e a aparência. Pois meus cabelos longos e loiros só apareciam em Ór.

  – Quando será que voltaremos para lá? – cochichei.

  – Não faço idéia nenhuma. – Évil respondeu.

  – Ora, ora, ora, aluno novo? – Ed se aproximou com seu grupinho tosco.

  – Acho melhor você não se aproximar da gente! – alterei a voz levantando do banco e encarando o bestão.

  – Calma aí, estressadinho! – Matheus se intrometeu.

  – Deixa eles em paz... – Aline falou me puxando e me abraçando. Ela estava interessada em meus músculos.

  – Sai de perto dele sua vaca! – Jhulia levantou empurrando Aline de perto de mim.

  A esse ponto, Todos nós estávamos encarando o grupinho. Populares contra nerds.

  – Não encosta em mim sua sirigaita! – Aline rebateu voando feito uma gata para cima de Jhulia.

  As duas estavam brigando feito verdadeiras leoas. Ninguém conseguiu desatar a briga.

  – Parem agora! – gritou a diretora Jacinta ao ver as duas se descabelando.

  Em um segundo as duas encaravam-se furiosas.

  – Todos vocês me acompanhem! – ela gritou.

  Lá fomos nós. Os oito para a diretoria. Não acredito que isso está acontecendo.

  – O que estava havendo? – Senhora Jacinta gritou torcendo seu nariz cumprido.

  – Bom Sra. Diretora... Nós estávamos... É... – Aline gaguejou.

  – Estávamos brigando... Dôh. A Senhora é cega? – Jhulia contestou irritada.

  Dei um cutucão em Jhulia para que ela não falasse mais nenhuma abobrinha, que só ia nos prejudicar cada vez mais.

  – A verdade é que eles começaram. – Évele apontou para os quatro que sentavam no outro lado da mesa da sala.

  As discussões voltaram a começar. Cada um tentando se defender. O único que estava calado era Flik, que observava tudo com uma expressão assustadora.

  – Chega! – a diretora berrou. Todos calaram a boca no mesmo estante. – Você, o menino novo. Conte-me o que aconteceu. – concluiu fitando Flik com seus olhos pretos.

  – Eu? – Flik falou atordoado.

  – Sim, você! – ela berrou. Sempre estressada.

  – Foi eles que começaram Sra. Diretora. – apontou seu dedo cumprido para o grupinho popular.

  – Me conte o que aconteceu garoto. – exigiu saber.

  – Bom, nós estávamos sentados no pátio e eles vieram e começaram a nos blasfemar. – falou gaguejando um pouco.

  As discussões voltaram a tomar a pequena sala. O que levou Sra. Jacinta à gritar de novo.

  – Calem a boca! Suas pestes... Estão suspensos por dois dias! – concluiu levantando-se da cadeira giratória e batendo o salto vermelho em sintonia com o barulho do vestido justo que ela usava.

  Minha cara emudeceu no mesmo estante. Eu nunca fui suspenso. O que minha mãe falaria? Fiquei vermelho de raiva. Aqueles populares idiotas estragaram tudo. Eu não perderia muitos dias de aula.

  Encarei a vela acesa que ficava perto do santinho na mesa da diretora e me segurei para não puxar aquele fogo e queimar a cara dos meninos.

  Uma língua de fogo veio lentamente em direção aos quatro que ficavam sentados de costas para a mesa. Parecia uma cobra flutuando pronta para dar o bote. Quando Jhulia viu, infelizmente, puxou meu braço que estava esticado por baixo da mesa, fazendo que o fogo se transformasse em vento.

  Encarei os rostos idiotas daqueles quatro por um bom tempo, até a Sra. Diretora voltar á sala com um portfólio preto. Entregou-nos uma folha para preenchemos.

  Fiquei com dó de Flik. Coitado, no primeiro dia de aula já foi suspenso. E olha que nem foi nossa culpa.

  Flik estudava em Órlan junto com outros garotos e garotas da aldeia, mas lá ele estava no 9º ano. Pois o sistema estudantil era até o 10º ano. O que me espanta é a evolução daqueles mundos. Elas são super evoluías, até mais que a terra. Porém eles não tinham televisão, celular, computador e nada desse estilo. Um dia ainda vou perguntar sobre isso a eles.

  – Já preencheram? – resmungou a diretora com o nome mais feio do mundo (nada contra).

  – Já. – respondemos secos entregando as folhas e levantando do banco e indo para a sala.

  A discussão estava tão alta que nem ouvimos o sinal bater.

  – Miguel você está maluco? Imagina o que aconteceria se você tampasse fogo neles?! – Jhulia falou colocando as mãos no rosto.

  Flik e Évele riram sem mostrar nenhum sinal de preocupação e seguram para a sala do 2º ano do ensino médio.

  – Foi mal Jhulia. Eu não ia fazer nada, apenas estava testando meu poder. – falei rindo um pouco.

  – Sei... – ela me olhou de relance enquanto ainda caminhávamos no corredor da escola. Nossa sala era a última.

  Entramos na sala com um pouco de vergonha – todos nos olharam –, sentei no meu lugar de sempre e tomamos o ritmo normal da aula.

  De certa forma eu sinto um pouco de dó de Flik. Quem suportaria repetir o ano duas vezes? Bom, Flik sim. Isso explica o fato dele ainda está no 9º ano lá em Órlan. Também explica o fato dele ter 18 anos e está cursando o 2º do ensino médio aqui.

  Como eu sou tosco. Só eu acho estranho e apavorizante reprovar? Acho que sim.

  – Miguel, o que é essa coisa com penas saindo de uma perna de sua calça? – um garoto nerd perguntou me deixando completamente atordoado e sem reação.

Anjo BélicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora