Capítulo XX

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  Uma sensação tão boa nos cobriu. Embora estávamos longe de nossa família, era muito bom se aventurar para salvar as pessoas.

  Um filme passou em minha mente. Desde quando eu conversava com espelhos até agora. Ah, me lembrei... Em um dia qualquer, há alguns anos atrás o espelho conversou comigo. Eu estava lamentando sobre a vida tosca que eu tinha e ele me respondeu. Na hora eu não levei a sério, a voz era tão difícil de compreender que pensei ser o vento ou o barulho da janela. Mas agora entendo tudo. Aquela frase: "Sua vida mudará completamente". Tudo faz sentido.

  O filme continuou correndo. O momento das alucinações e os desmaios, o momento que conheci Jhulia, depois Évele, nossa primeira viajem a Ór, as explicações de Bugor, o terrível sonho com Admon. Tudo foi se esclarecendo aos poucos. Mas a única questão era: Por que eu? Por que não os populares ou alguém mais velho e experiente?

  Meus pensamentos foram ficando leves e mais leves até que um grito absurdo entrou em meu ouvido.

  – Acordem agora, ele está atrás de vocês! – uma voz de criança soou na cabana fazendo-nos acordar num susto.

  As crianças vagavam para onde queriam, não precisavam trabalhar. Apenas estudavam no templo, não era tão diferente da Terra.

  – Hã? Do que você está falando? – indaguei assustado me levantando da confortável cama de palha.

  – Ele está atrás de vocês! – a criança gritava assustada.

  Eu, Jhulia e Évil ficamos em pé rapidamente. A criança foi puxada pelo braço por um adulto. Foi então que na porta apareceu a Sra. Wisty acompanhada por Flik.

  – Vocês precisam sair daqui agora mesmo, ele está atrás de vocês! – Sra. Wisty falou percorrendo os olhos em sua volta.

  – Quem está atrás de nós? – Jhulia perguntou um pouco sonolenta.

  – Admon Faluhd! – ela concluiu.

  Suas palavras percorreram em meus ouvidos como flechas de vidro.

– Venham, vou tirar vocês daqui. – Sra. Wisty exprimiu fazendo sinal com a mão para segui-la.

  Encaramo-nos por longos minutos seguindo silenciosamente até uma cabana abandonada. Adentramos o local.

  – Me ajudem a tirar essas palhas daqui! – Sra. Wisty retrucou empurrando com a mão as palhas mofadas da cabana abandonada.

  Nossas caras estavam em formato de uma interrogação. Admon já veio para acabar com a raça humana, ou raça anjo e homem-rato, que seja?

  Após terminarmos de tirar as palhas foi possível ver um tipo de anel.

  – Puxem! – Sra. Wisty berrou.

  Puxamos o anel e se abriu uma passagem. Um túnel secreto.

  – Admon já mandou o dragão, os unicórnios assassinos, o Flik falso agora ele mesmo veio atrás de vocês! Acho melhor fugirem o quanto antes. – ela sussurrava.

  Fizemos que sim com a cabeça. Foi então que a mulher balançou as mãos e fez surgir quatro adagas. Três prateadas e uma dourada. Sra. Wisty pegou-as e nos entregou, me deixando com a dourada.

  – Usem somente se necessário! – ela concluiu nos empurrando para dentro do buraco.

  Caímos deitados no chão. Não doeu muito, mas não foi legal ser empurrado daquela altura.

  A mulher fechou a porta da passagem e foi possível a ouvir jogando as palhas de volta para cobrir o lugar.

  – Vamos logo antes que a situação piore! – retrucou Flik.

  – Mas, está tudo escuro. – falei tentando ajustar meus olhos ao breu que nos cercava.

  Coloquei a adaga na cintura e ajustei minha roupa.

  – Alguém aí sabe fazer fogo? – indagou Évele já sabendo a resposta.

  Não respondemos. Obviamente ninguém era um feiticeiro.

  Começamos a andar bem devagar tentando não esbarrar em nada. Colocamos as mãos na parede e seguimos andando arrastando-nos na terra e raízes secas que cobriam a passagem. Com certeza aquele túnel era próprio para escapagens.

  Após nós quatro andarmos uma meia hora, nossos olhos já enxergavam um pouco, mas nada que nos ajudasse.

  – Tive uma idéia! – Jhulia falou parando de andar. Fizemos o mesmo.

  – O que foi? – Flik perguntou. Acho que estava esperançoso.

  – Miguel, você lembra quando Bugor disse que iria ganhar um dom? – fiz que sim com a cabeça – Por que não descobre qual é?

  É verdade, eu tinha me esquecido de que em cada mundo eu ganharia um dom.

  – Em Órkan você ganhou as asas, um dos símbolos do ar. Talvez seja mera coincidência, mas o que custa tentar. Você pode ganhar os 4 elementos da natureza. – Évil entrou no assunto.

  – O que custa tentar?! – falei me preparando.

  Estiquei minhas mãos e tentei, com todas as minhas forças, que saísse alguma coisa dela.

  Nada.

  – Acho que não tenho superpoderes. – desanimei.

  Um silêncio breve tomou o lugar onde estávamos. Todos pareciam pensar em alguma solução.

  – Já sei! – Jhulia gritou. – Vocês já assistiram ao filme Avatar: O último mestre do ar?

  – Sim. – falei. Ignorando o fato de Flik não ter assistido, pois o mundo Órlan não tinha filmes.

  – Pois bem, nós só precisamos de uma faísca para você, Miguel, conseguir fazer fogo. – Jhulia concluiu pegando sua adaga na cintura e estendendo a mão para eu entregar a minha. Entreguei.

  Jhulia começou a esfregar uma adaga na outra, de forma que saíssem algumas faíscas.

  – Se concentra Miguel. – Évil falou.

  Estiquei as mãos e apertei os olhos. Minhas mãos ficaram bem esticadas em direção às faíscas que Jhulia fazia sair. Foi então que FUUUNP!

  Ao abrir os olhos, uma bola de fogo flutuava no ar, Iluminando a caverna úmida e cheia de caveiras ao nosso redor.

Anjo BélicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora