34 - Pequenas revelações

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Agatha retornou a sua rotina normal na prisão e pela segunda vez na vida, não passaria o final de ano junto aos seus familiares.

Pensando neles, foi fácil para ela perceber o quanto eles se afastavam dela pouco a pouco, seguindo a rotina de suas vidas.

Não os culpava. Tinham que seguir em frente e Agatha precisava dar um jeito de resolver a encrenca em que se meteu.

O novo escritório de advocacia contratado pela família não conseguiu nenhum avanço no seu caso, então decidiu dispensá-los.

Ficara sabendo da recontratação do professor Green na MES através de uma nova ligação para o Dr. Griffiths há mais de um mês e assim, sempre que podia, ligava para pressioná-lo.

— A senhorita é persistente...

— Tenho que ser, o senhor não me ajuda...

— Como descobriu meu novo número? Já troquei duas vezes nos últimos meses.

— Tecnologia doutor. Tudo pode ser encontrado na rede...

— O que você deseja?

— O senhor já sabe, eu lhe disse na última ligação.

— Não mudou de ideia quanto a isso? O professor não irá vê-la! Ele sabe que o odeia declaradamente e o culpa por estar presa.

— O seu papel é convencê-lo, doutor. Diga-lhe desta vez que o parabenizo quanto ao jardim da sua tia em Londres. Diga também que ele agiu bem, mas que não precisava matar a coitada?

— Não posso dizer isso a ele. Seria desumano da minha parte.

— Adam Green não é humano, doutor, não mais. O homem que eu conheci já morreu e deu lugar a outro... Espere!

Agatha raciocinou por um tempo e o doutor imaginou que ela tivesse desligado, pois a mesma era imprevisível.

— Faça-me outro favor, Dr. Griffiths. Peça para os investigadores me fazerem outra visita, tive mais uma ideia.

— Ora, então me conte que eu os informarei Srta. King.

— Não daria certo, doutor, pois o senhor não acredita em mim. Ainda pensa que o professor Green é mais uma vítima da minha maldade, não o conhece tão bem quanto eu. E assim só eu posso convencer os detetives a realizar uma nova investigação.

— Não pode me dar nenhum detalhe?

— O senhor parece interessado demais para alguém que não confia em mim. Está passando o conteúdo de nossas ligações para alguém?

O Dr. Griffiths fingiu um pigarro inexistente e continuou o diálogo dentro da madrugada.

— Desculpe, é somente curiosidade profissional mesmo. Vou fazer contato com os detetives.

— E não esqueça da visita do Adam. Desejo muito olhar para o rosto dele e lhe perguntar a quanto tempo ele vem atuando neste papel.

Antes que ele pudesse lhe fazer mais uma pergunta, Agatha desligou.

Imediatamente fez outra ligação.

— Ela insiste no professor Green e parece que tem alguma nova suspeita.

— Então chegou a hora dele visitá-la. Precisamos preparar nossas escutas na prisão, vou falar com o diretor da PB.

— Mas isto não é proibido?

— Neste caso não!

— Ela quer falar com os senhores novamente. Está desconfiada que trabalho para alguém...

— Não se preocupe com isso e me mantenha informado.

Assim que desligou, o detetive Thompson ficou imaginando o que teria a Srta. King em mente.

Será que ela desconfiava também de algo do passado do professor Green? Será que ela sabia do conteúdo da carta da falecida Sra. Zummach?

Ele ficou imaginando que elas poderiam ter conversado sobre o assunto, mas era improvável, ainda mais depois do que souberam através do reitor Sr. Brown e do diretor Ward.

Após conversar com ambos, especialmente com o reitor que tinha uma amizade mais íntima e de longa data com Adam, os detetives não chegaram a lugar nenhum e isso os deixou ainda mais desconfiados, pois ficou claro que, aparentemente, os dois não sabiam nada de concreto sobre o passado do professor.

Ligou para Ward que naquele momento estava se levantando para iniciar mais um dia de trabalho, apesar de estarem na semana do Ano Novo.

— Em que posso ser útil? — atendeu ele com a sua educação costumeira.

— Convença o professor Green a fazer uma visita para a Srta. King, aproveitando que ele está de férias escolares.

— Não creio que eu seja a pessoa indicada para isso, detetive, nossa relação estremeceu muito. Estou mantendo distância de Adam, só tratamos de assuntos profissionais...

Antes que Thompson pudesse contestar, o diretor continuou.

— Contudo eu tenho algo em mente. O professor está montando o roteiro para a próxima apresentação teatral da MES e me fez um pedido nada convencional. Ele quer que eu traga um de seus ex-alunos de volta para o Sixth Form, especialmente para participar desta peça.

— Acredito que sei de quem estamos falando, diretor. Falei há pouco tempo com ele, na ocasião da morte da Sra. Zummach, onde conversamos muito sobre os acontecimentos do ano passado. Parece que o Sr. Mitchell está fazendo uma investigação paralela por conta própria, me disse que pretende escrever sobre o assunto. Acredito que ele vai aceitar se falar com ele.

— Concordo com o senhor detetive e creio que posso convencer Derick a estudar alguns meses em 2013, para que tenha direito ao diploma, pois ele saiu da MES antes da conclusão do seu estudo. Se eu o convencer a retornar, posso pedir para que o professor em troca faça a visita para a Srta. King.

— Faça isso e me deixe por dentro, mas faça rápido, algo me diz que não temos muito tempo para fechar o cerco...

Assim que o detetive desligou, Antony Ward fez uma ligação para Derick, que o atendeu após o terceiro toque com uma voz sonolenta.

Escutou a rápida proposta do diretor e concordou imediatamente, pois ia de encontro aos planos que tinha em mente, onde poderia entrevistar várias pessoas sobre o homicídio que ocorreu na escola e ainda ter a chance de interagir novamente com o professor Green, mas é claro que antes disso precisava visitar certa detenta famosa...

Pensou em se levantar, mas preferiu ficar aquecido sob as cobertas e abraçou sua namorada, cujo corpo estava nu e quente.

— Quem ligou tão cedo assim... — disse ela do mundo dos sonhos.

— Depois eu lhe conto. Agora vamos voltar a dormir, que ainda é bem cedo.

Nanna concordou e em pouco tempo pegou no sono, mas não antes de anotar mentalmente mais uma tarefa investigativa a cumprir.

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