Nosso Próprio Tempo

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Luzes frenéticas. Um baile de holofotes e lasers multicoloridos passeavam pelos arredores da grande casa noturna. A multidão parecia um formigueiro. Um bem perto do outro, todos dançando à sua maneira. Todos contagiados pelo motivo que fizeram eles saírem de suas casas em plena noite para se divertirem: a música. A batida eletrônica tocada em níveis absurdos trazia a verdadeira identidade ao lugar. O som remixado que envolvia todos e era como se os acolhesse, fazendo-os entrarem no clima.

Concentrado nas pick-ups, Tiago aproveitou e deu uma pequena pausa nas suas mexidas. Ergueu a cabeça e colocou os grandes fones de ouvido em seu pescoço. Deu-se um momento para olhar o público, no alto de sua cabine. Ao avistar a multidão curtindo, deu um sorriso. A incrível visão motivou ele a continuar tocando. Poucos segundos depois, ele botou o fone de ouvido de volta e mandou ver.

Não tinha jeito. Poderia estar no lugar que for, em qualquer canto do mundo. A música era o seu verdadeiro lar. Era na noite que ele multiplicava suas energias. Estar em uma balada, com o som alto e a curtição fazia o tatuado se sentir muito bem. E em qualquer casa noturna, o clima era sempre o mesmo. Como uma linguagem universal.

E nesse espírito que a noite continuou. A noite se tornou madrugada, e a festa permaneceu do mesmo jeito. Horas se passaram, o expediente aos poucos chegava ao fim. Para os remanescentes, pois alguns já tinham ido embora. Uma saideira para encerrar com chave de ouro. Com isso, terminava mais uma noite de trabalho para Thiago Ferreira. Tal qual tantas outras noites que já teve.

Missão cumprida mais uma vez, era hora de se retirar. Enquanto uma setlist de música eletrônica qualquer tocava na pista para que o lugar não ficasse no completo silêncio, Thiago saiu de cena com suas coisas. Foi para um corredor e logo entrou em uma salinha onde estavam os seus pertences. Era neste camarim que ele pôde se preparar para a noite, assim como descansar. Foi direto para sua mochila e pegou uma toalha, passando no rosto. Depois, pegou no frigobar uma pequena garrafa de chá mate gelado e começou a beber. E era em momentos como esse que ele se lembrava o quanto as coisas mudaram.

Depois de achar que nunca se acostumaria, ele se mudou para São Paulo. E isso já fazia um ano. Não demorou muito para que o carioca se tornasse um dos DJs mais requisitados da noite paulistana. Ficou famoso no meio, fruto de seu trabalho. Afinal foram anos gastando sola de sapato indo até boates, raves e festas em geral para conseguir o seu sustento. Chegou a viajar pelo Brasil e até exterior, em poucas vezes, para fazer valer o seu nome.

Suou a camisa e conseguiu. Tiago nunca teve a ambição de ser famoso, só queria continuar trabalhando com aquilo que gostava. E o reconhecimento lhe permitia isso, e também ter uma vida bem mais confortável. E era uma sensação curiosa poder discotecar em um lugar e ainda ter uma espécie de camarim para ele. Sinal de que os tempos realmente mudaram.

Enquanto bebia seu chá — uma das únicas coisas que exigia quando fazia show — o rapaz recarregava suas energias. Uma mulher animada entrou no camarim. A moça negra com seus cabelos de cachos muito bem definidos e que iam até a nuca vestia uma blusa bem colorida. Jeysa era a promoter da casa noturna e fez questão de ir até lá parabenizar Tiago por mais uma noite de agitação.

— Thiago, seu lindoooo! — Disse Jeysa pulando animada em direção a Thiago.

O DJ entrou na animação e os dois se abraçaram. Eles eram grandes amigos.

— Caraca, você arrasou hoje. Aliás, como sempre né?

— Ah, eu agradeço. — Sorriu — Mas só faço o meu trabalho.

— E o seu trabalho é um arraso, claro.

— Sabe que eu dou sempre o meu melhor. E eu adoro discotecar aqui, tá ligada?

Amizade Com Algo a Mais 2Where stories live. Discover now