DIA 29.

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    Este não é o momento mais propício para visitar o meu diário com as minhas palavras, mesmo porque são três horas da madrugada na ilha solidão, mas dadas as circunstâncias, abro uma exceção, tive uma noite atribulada, sonhos ruins, na verdade nem vou classificar isso como um sonho, na realidade é um pesadelo.
    Neste momento uma brisa suave entra pela janela do meu quarto, o barulho do mar, o quebrar das ondas sobre a praia, me traz um certo sossego na alma, embora eu ainda esteja sem sono, devido ao pesadelo, bom sem mais delongas vamos ao sonho, ou melhor, ao pesadelo:
    A coisa se deu da seguinte maneira, neste tenebroso sonho, eu estava aqui mesmo na ilha, mas não era apenas eu; havia mais quatro pessoas, totalmente desconhecidas, pessoas que eu nunca vi, todos homens, e todos estavam de joelhos assim como eu, estávamos com as mãos para trás e amordaçada, o local era um pouco para frente da minha casa, bem de frente para o mar, na verdade só eu estava de frente para o mar, os outros quatros estavam de costas para o mar. De repente, do nada surge uma figura sinistra, toda de preto, capuz na cabeça e nos olhos um óculos escuro que não permitiu ver seus olhos e na face a máscara da peste negra. Aquela figura estranha, que parecia mais um terrorista diabólico, veio primeiramente em minha direção, na sua mão esquerda, uma faca enorme, que reluzia com a luz do sol, ele apontou a lâmina para mim, aproximou, posicionou - se atrás de mim, eu sabia que iria morrer naquela hora, pedi ao meu algoz que tivesse misericórdia, ele nada respondeu. O aço reluzente daquela lâmina encostou no meu pescoço, a sua mão direita segurava meus cabelos inclinando o meu pescoço levemente para trás, lentamente senti a lâmina fria escorregar no meu pescoço, senti a dor do corte, senti o sangue escorrer, senti o fôlego ir embora; eu estava morrendo pelas mãos de alguém desconhecido.
    O mais bizarro desse pesadelo, é que no momento em que ele terminou de passar a lâmina no meu pescoço, que eu caí, meus olhos permaneceram abertos, eu não sentia mais o meu corpo, eu não ouvia mais nada, mas conseguia ver o que acontecia, eu vi os quatro homens na minha frente serem mortos da mesma forma que eu fui morto, coisa horrenda, depois despertei desse pesadelo. Isso era duas horas da madrugada, depois disso não consegui dormir, virei - me na cama de um lado para o outro e nada de sono.
Uma hora depois resolvi levantar, e aqui estou, diante do meu único confidente, meu diário, não sei o porque deste sonho, não sei o que está acontecendo ou o que vai acontecer, de uma coisa eu sei, neste momento estou com muito medo, medo de algo desconhecido, medo de mim mesmo talvez, medo de minha mente doentia.
Como eu gostaria de estar na minha Itália neste momento, na minha velha choupana, e de preferência ao lado do anjo ledo, mas nem tudo é possível, nem tudo nesta minha vida é real.

                               * * *

     Sou um barco sem destino no mar desta vida, levado pelas ondas e ao sabor dos ventos, sou um barco errante, testemunha silenciosa de longas datas.
    Procurei nos sete mares um amor que seja igual ao teu, beleza que seja semelhante a tua; nada encontrei apenas a solidão estava lá, nua e de braços abertos a cada novo lugar que eu chegava.
    Procurei entre as estrelas do céu uma que brilhasse como você, que tivesse uma fagulha apenas do teu olhar, procurei incansavelmente pela extensão do universo, e encontrei apenas a solidão, nua crua e silenciosa, de braços abertos me esperando.
    Procurei entre os viventes desta terra, procurei por alguém que tivesse uma pontinha da sua majestade, rodei pelas cidades dias e dias, horas e horas inteiras; nada encontrei apenas a solidão estava lá, nua crua e silenciosa.
    Por isso que sou um barco sem destino, vagando incerto no mar da vida, procurando com desespero por você, em todos os lugares, sejam eles possíveis ou impossíveis, mas o que eu sempre encontro é a solidão, nua crua e silenciosa.

Companheira solidão,                                                      
Desatina o coração,
Golpeando sem perdão,
Minha desnuda razão.

    Por último perguntei as estrelas da noite, se acaso tinham visto você; mas nada disseram. Perguntei ao astro do dia que a todos ilumina. Se acaso tinha visto você; mas nada me disse.
    A angústia tomou conta de mim, sem ter você caminho a esmo pelas estradas dessa vida cruel, sou mesmo um barco sem destino, jogado no mar desta vida, um barco sem leme em um mar sem cais, apenas navego sem nunca ter certeza de que vou chegar.

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