DIA 21.

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    Acordei cedo, muito cedo, antes que os primeiros raios do sol rompesse o horizonte. Fiz o meu café como o de costume, bem forte, bem doce, comi uma torrada do dia anterior. Quando os primeiros raios do astro rei rompeu o horizonte do mar, com tons avermelhados faiscando para todos os lados, até na copa das palmeiras, alguns pássaros, saudou-o com o seu cântico; era novo dia que começava.
    Tomei um banho, escolhi a melhor roupa, um bom perfume, e saí; parecia até que eu estava indo para um encontro, que de certa forma era mesmo. Era o meu encontro comigo mesmo, o meu coração estava acelerado, lembranças vieram na memória, recordações da minha Itália.
    Aproximei do pequeno cais da ilha, lá estava meu barco, o senhor que por ali ficava, Alberto, o que trazia para mim algumas coisas quando eu lhe pedia, ele parecia mais solitário do que eu, mais amargo do que eu.
    - Bom dia seu Alberto, tudo bem com o senhor - Estendi a mão para comprimenta-lo.
    - Bom dia senhor Giovanni, que bom ver você por aqui, tá precisando de alguma coisa da cidade?
    - Sim meu amigo, estou sim.
    - É só dizer o que é que busco para o senhor - Disse o velho lobo do mar como sempre fazia.
    - Dessa vez eu mesmo vou buscar o que eu preciso, mas quero sua ajuda ainda, nunca fui a cidade, não conheço ninguém por lá, você pode me ajudar?
    - Mas é claro Giovanni, será um prazer lhe ajudar.
    Entrei em seu barco, eu sentia o meu coração acelerado no peito, uma inquietação dentro da alma, meu olhar fixo na ilha que aos poucos ficava distante, mais distante, eu estava com medo; o mesmo medo das outras vezes, medo da alma humana espelhada em mim, mas enfim, era preciso fazer aquilo.

                                * * *

    Às vezes somos movidos pelos mesmos sentimentos, levados na mesma direção, não tem como fugir ou se esconder, seja ao extremo norte do mundo ou no extremo sul dele, ele sempre estará lá.
    Somos crianças em sua presença, esboçamos conhecimento para parecermos dominadores, mas na verdade somos meros meninos que são facilmente dominados.
    Nossos diplomas conquistados com tanto esforço na renomada faculdade, a oratória bem polida, a linguagem sofisticada, diante dele nada disso tem valor real.
    O dinheiro não pode compra-lo, mas isso também é perca de tempo, esse vil papel contaminado é imundície dos homens, é tudo mera tolice. Nada que lhe oferecemos como moeda de troca tem valor, a simplicidade das coisas é que tem real valor.
    É ele quem governa teu coração, é o dominador da tua vida, ainda que não queira, mas eu lhe garanto poeta das madrugadas, ele te domina, e não pode ser vencido.

Ele se encontra nas coisas mais simples da vida, naquilo que menos imaginamos.

    No nascer do sol com todos os seus matizes, no perfume de cada flor, no sorriso inocente de uma criança, enfim, naquilo que todos os dias é desprezado. Estou me referindo ao maior dos sentimentos, o amor, dominador por excelência, sim senhores, esse amor pulsando dentro do nosso peito.

Amor grandioso e sem limites, senhor de todos os corações.

Ela é um anjo
Que desperta todas as manhãs
Beija a aurora
Derramando o brilho do seu olhar
Pela extensão do mar.

Ela é um anjo
De uma beleza sem igual
Ledo anjo
Dessas que palavras por mais belas
Não consegue explicar.

Ela é um anjo
É o meu pensamento transformado
É a gota do orvalho
Sem o seu amor de salvação
Nada sou
Além de um velho solitário.

DIÁRIO DA SOLIDÃO. Where stories live. Discover now