DIA 27.

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    Não foi nada como eu planejei, tudo aconteceu completamente diferente do que eu previ, a vida tem dessas coisas, nem sempre as coisas acontecem como nós planejamos. Eu pensei que na Itália realizaria o meu grande sonho, mas não foi assim, o meu desejo era ser reconhecido como um grande escritor; apenas isso, vender bem, ter retorno financeiro, tudo isso seria uma consequência lógica, mas, como todo o escritor, meu objetivo principal era ganhar o coração de meus leitores, e, claro, proporcionar - lhes prazer e satisfação ao ler meus livros.
    O mercado editorial é um mundo complexo, difícil de ser conquistado, Lembro-me do meu primeiro livro de poemas, de toda a dificuldade, o livro não saiu como eu esperava, teve uma divulgação ruim, e por consequência vendeu pouco, meu segundo livro foi melhor aceito, mas ai veio os problemas, para ser mais preciso, veio o anjo ledo, minha vida tão tranquila desmoronou, o anjo ledo me perseguia, em todos os lugares que eu ia, até durante a noite em meus sonhos, eu não comia direito, eu não dormia direito, tudo ficou confuso, tudo ficou triste, me transformei em um escravo desse amor impossível.
    Depois de tanto sofrer, com tratamentos inúteis, medicamentos caros, decidi sair da Itália, e aqui estou, em uma ilha, que eu pensava que era deserta, mas acabei por descobrir que não é, aqui viverei até o meu último dia de vida.

Anjo que veio do céu,
Veio de repente,
Invadindo meu pensamento,
Fazendo morada no meu coração.

Anjo de beleza sem igual,
De olhar feiticeiro,
De olhar envolvente,
De olhar atraente.

Anjo ledo que enlouquece,
De lábios ardentes,
De corpo perfeito,
O que eu faço pra te esquecer?

Anjo que traz inspiração,
Minha proibida paixão,
Roubastes minha vida,
Roubastes minha paz,
Anjo ledo, que foi e não volta mais.

Hoje não é um daqueles dias alegres, definitivamente não é um daqueles dias em que a felicidade está transbordando pelos cantos dos lábios, definitivamente não é.

    Hoje é um daqueles dias horrendos, dias de densas trevas e céu fechado, dia de tempestade, dia em que o silêncio dói mais que uma faca cravada no peito.
    Hoje o dia não amanheceu, está escuro lá fora, está escuro aqui dentro também, tem uma tempestade lá fora e outra maior ainda aqui dentro, grande nuvens cobrindo tudo. A gaiola da alma está destrancada, e o pássaro da vida de asas compridas querendo voar, essa é a única liberdade que não deve ser respeitada, que deve ser impedida. Dias tristes não deveriam de existir, mas enfim, eles existem, não há como evitá-los.
    Hoje eu não chorei, pelo simples motivo de não ter mais lágrimas nos olhos, hoje eu também não gritei, pelo simples fato de ter perdido a voz, o monstro do medo que dorme dentro de mim acordou agora.
    Hoje vejo as coisas como um cego as enxerga, meus olhos desistiram de enxergar, meus lábios se negam a sorrir, meu coração não quer mais acreditar em nada e minha alma se escondeu de mim. Talvez eu seja fraco sim, Inútil sim, Inconsequente sim, medroso também.
    Talvez eu seja um simples ser humano de verdade, em toda a sua essência verdadeira, na deficiência de querer viver, apenas perdoe-me, só isso e nada mais.



DIÁRIO DA SOLIDÃO. Where stories live. Discover now